30.11.07
CICLO #2 - FEDERICO FELLINI
18.11.07
Os Amantes do Círculo Polar (1998) Julio Medem
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA
ÚLTIMA SESSÃO REGULAR DO ANO
APÓS O FILME DISCUTIREMOS SOBRE O FUTURO DO CINECLUBE, PARTICIPE!
Gênero: Romance/Drama
Origem/Ano: ESP/1998
Duração: 113 min
Direção: Julio Medem
12.11.07
Brazil, O Filme (Terry Gilliam) 1985
no SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA
Direção: Terry Gilliam»
Roteiro: Terry Gilliam,
Tom Stoppard» Gênero: Ficção Científica»
Origem: Inglaterra»
Duração: 131 minutos»
Elenco ::.
- Ator/Atriz
Personagem
- Robert De Niro
Archibald
- Peter Vaughan
Sr. Helpmann
- Ian Richardson
Sr. Warrenn
- Michael Palin
Jack Lint
- Bob Hoskins
Spoor
- Katherine Helmond
Sra. Ida Lowry
- Jonathan Pryce
Sam Lowry
- Jim Broadbent
Dr. Jaffe
- Ian Holm
Sr. M. Kurtzmann
- Kim Greist
Jill Layton
Para este ano, Gilliam já está pré-produzindo (e vai dirigir) Good Omens. Se não ocorrer nenhum imprevisto, o filme deve chegar lá pelo final do ano nos Estados Unidos. Dificilmente vai conseguir, produções desse tipo geralmente são complexas (ops, de novo!). Good Omens é – adivinhem só! – outro filme com uma premissa bizarra: é uma fantasia sobre o Armageddon, com o anti-cristo chegando ao planeta na forma de um bebê. Vai dar o que falar... Bem, esse foi um resumo totalmente supérfluo da carreira de diretor de Terry Gilliam, mas é necessário para as pessoas entenderem o que estarão esperando caso resolvam aventurar-se no filme que é considerado a sua obra-prima até o momento: Brazil - O Filme!
Do nosso país, nosso querido Brasil, o filme tem muito pouco. Apenas a trilha sonora tem relação com ele. Pra ser mais exato, a música-tema do filme é a Aquarela do Brasil, clássico composto por Ary Barroso. De resto, não há nenhuma outra referência a nosso país. A história – uma ficção científica futurista e bastante fantasiosa – é sobre uma sociedade estranhíssima (assim como em 12 Macacos), depressiva, infeliz, altamente alienada por burocracia. Em Brazil, o mundo criado por Gilliam é ainda mais importante que seus personagens, embora estes sejam muito interessantes.
O clima do filme é escuro, depressivo, tedioso. O mundo é um completo caos. Se você acha as grandes metrópoles do início do novo milênio caóticas, espere para conhecer o mundo retratado em Brazil. Gilliam teve a felicidade de, mesmo criando um mundo futurista fantasioso, já em 1984, quando produziu o filme, prever vários aspectos que hoje são comuns à nossa sociedade (mesma coisa que Kubrick fez em Laranja Mecânica), como o individualismo do homem, e até mesmo a convivência diária com vários atentados terroristas.
Sim, os atentados são o grande problema do momento da sociedade de Brazil, e Sam Lowry, nosso protagonista (finalmente chegamos nele), que acabara de receber uma promoção para um departamento mais importante no governo, onde cuida da burocracia (ele e seus companheiros de trabalho devem lidar com milhares de papéis, num ambiente intoxicante), acaba se envolvendo com a mulher de seus sonhos, que é uma terrorista (ou no mínimo parece uma). Durante boa parte do filme, Gilliam exibe cenas absolutamente bizarras de Sam sonhando com essa mulher, perseguindo-a pelos céus com um grande par de asas, porém sempre sendo impedido pelos seus comandantes (simbolizado pelo grande samurai), que querem dele apenas trabalho, trabalho, e mais trabalho. Como em outros filmes de Gilliam (e como em filmes de David Lynch também) as cenas “estranhas” podem ser interpretadas de várias maneiras, esta apresentada é apenas uma delas.
Mas ainda tem mais história pra contar: enquanto trabalha e continua tendo seus sonhos esquisitos com a tal mulher, um funcionário acaba, acidentalmente, cometendo um erro de cadastro. O fugitivo da polícia Tuttle acaba tendo seu nome trocado para Buttle por causa de tal acidente, e Buttle, cidadão pacato e inocente, acaba sendo preso no lugar de Tuttle. Tuttle é interpretado por Robert De Niro, em um papel estranhíssimo. Ele e Sam acabam se encontrando várias vezes em situações bastantes esquisitas (pra variar).
Criar uma sinopse para Brazil é dos trabalhos mais difíceis que existem. O filme é tão “diferente”, com sua história tendo tantos detalhes anormais, que fica difícil entendê-la sem ver o filme (bem, mesmo vendo ele não é a coisa mais fácil de de entender). O filme ainda conta com uma galeria grande de personagens interessantes, como a mãe de Sam, que está com o rosto incrivelmente esticado de tanto fazer cirurgias plásticas; e o Sr. Kurtzmann, interpretado por Ian Holm (o Bilbo de O Senhor dos Anéis – a trilogia), que não quer perder o seu eficiente funcionário Sam para outro departamento.
De não tão fácil assimilação, o principal que fica depois de se assistir Brazil – O Filme, é a mensagem que Gilliam nos passa, de um futuro, mesmo que fantasioso no filme, possível em vários pontos (alguns deles já existentes, como já foi citado). Não há muito o que uma pessoa, sozinha, possa fazer para evitar que mais aspectos negativos do filme se tornem realidade, mesmo assim, vale a pena fazer a sua parte. Espero apenas que no mundo real, no futuro, não haja tamanha burocracia e a alienação com papéis vistas em Brazil. Difícil, já que uma coisa Gilliam não previu: o crescimento da importância dos computadores, que eliminam quase toda a papelada.
Brazil – O Filme é uma obra-prima difícil de assistir, difícil de digerir. Não é um filme para quem busca entretenimento. Infelizmente, 99% das pessoas que dizem gostar de cinema acabarão nunca assistindo a este filme. Uma pena, mas fica aqui a recomendação valiosa. A versão analisada aqui é a versão do diretor, que foi lançada tempos depois da original com 11 minutos de cenas a mais, entre elas alguns momentos mais “quentes” entre Sam e sua amada. Assim como os filmes de Terry Gilliam, analisar Brazil é tão complexo que tenho certeza que você não entendeu praticamente nada, assim como dificilmente entendi o que escrevi... Então estamos quites.
5.11.07
Amarcord (1972) Federico Fellini
Sinopse: Numa pequena cidade italiana na década de 30, sob domínio do facismo, várias histórias se cruzam com as de uma família cujos membros assistem às manifestações em honra do Duce ( lider facista Benito Mussolini ), à passagens do transatlântico "Rex", à chegada de um misterioso emir e suas odaliscas, aos filmes de Gary Cooper no cinema local è a passagem dos grandes pilotos da tradicional " Mile Miglia ". Mágico e arrebatador, com personagens inesquecíveis criados a partir das lembranças da infância de Fellini (1920-1993). Tudo ao som de belos e nostálgicos temas musicas de Nino Rota.
Ali estava um filme tão perfeito, tão emocionante, tão extraordinário, que, de algum modo, ajudara a mudar a vida de muitas pessoas, que viam o cinema como algo distante, inalcançável, escrito sempre com aquelas letras brancas imensas de H-O-L-L-Y-W-O-O-D, e que agora podiam vê-lo como uma simples desfilar de lembranças de um italiano tão maluco quanto genial.
Foi uma descoberta tardia, é claro. Mas é preciso lembrar que a minha geração chegou à adolescência (momento de encontrar duas coisas fundamentais na vida: sexo e cinema) em plena ditadura, quase sem acesso às cinematecas, às mostras alternativos, à grande efervescência cultural que caracterizou o final dos anos 50 e todos os 60. Então, assistimos a "Amarcord" sem termos assistido a "A doce vida", "Oito e meio", "Noites de Cabíria", "Julieta dos espíritos" e aos demais filmes de Fellini. E pior: se me perguntassem, na época, o que era neo-realismo italiano, eu não teria a menor idéia. Rosselini? Visconti? Quem são esses senhores? Assim, mesmo considerando que muitos adolescentes porto-alegrenses não eram tão ignorantes quanto eu, dá pra afirmar que, para a maioria, "Amarcord" funcionou como uma faísca inesperada, como uma luz intensa, que nos obrigou a contrair as pupilas e enxergar o cinema de outra maneira.
Mas o que "Amarcord" tem de tão fantástico? Primeiro é preciso dizer o que NÃO tem. Porque, apesar de sermos adolescentes ignorantes, já tínhamos intimidade com a narrativa cinematográfica, já sabíamos, por exemplo, que um bom filme tinha que ter: (a) artistas talentosos, conhecidos, quase sempre bonitos, muitas vezes deuses e deusas que desciam do Olimpo apenas para filmar nos estúdios; (b) uma história com começo, meio e fim, capaz de emocionar ao espectador segundo uma progressão cuidadosamente planejada; (c) personagens fortes, divididos entre "mocinhos" (para quem torcíamos) e "bandidos" (a quem odiávamos). "Amarcord" não tem atores conhecidos. Mais do que isso: tem vários não-atores, gente comum, escolhida na rua pelo seu tipo físico.
"Amarcord" não tem história linear, com começo, meio e fim. Mais do que isso: além de fragmentada, a narrativa nem sempre é realista, pois está baseada em lembranças esparsas, imaginações, sonhos. "Amarcord" não tem mocinhos nem bandidos. Mais do que isso: o personagem principal, um adolescente chamado Titta, não está envolvido em nenhuma ação espetacular, a não ser que consideremos sua incursão entre os seios enormes da bilheteira uma ação espetacular. "Amarcord" não segue a cartilha do cinema americano. Segue a cartilha de Fellini.
Em contrapartida, "Amarcord" tem uma coleção completa de signos cinematográficos da mais alta qualidade. Tem um roteiro que "amarra" a trajetória de Titta com total segurança, criando nexos entre as cenas e dando a cada novo personagem (e são muitos) uma significação única e sempre forte. A mulher mais gostosa da cidade ("La Gradisca"), o vendedor ambulante, o acordeonista cego, a imensa charuteira, a freira anã, todos eles, mesmo com pouco tempo na tela, estão vivos, palpitantes, verdadeiros. Os roteiristas Tonino Guerra e Fellini sabiam que simplesmente "listar" lembranças não seria suficiente: era preciso criar um encadeamento lógico, em que a passagem do transatlântico funciona como um clímax, um orgasmo coletivo dos habitantes da pequena vila costeira.
"Amarcord" também tem uma das mais belas trilhas da história do cinema. Não estou falando de uma música, de um momento específico do filme. Estou falando da trilha original inteira, criada por Nino Rota, que, ou estava inspirado por Deus, ou fez um pacto com o diabo. Todas as músicas, além de apoiarem a imagem com total eficiência, funcionam independente do filme. E isso é muito raro, quase inexistente. "Amarcord" também tem fotografia inspirada, montagem sensível, direção de arte irrepreensível.
"Amarcord" é, à primeira vista, um filme simples, quase singelo, mas, na verdade, é um concerto sinfônico, em que cada um dos instrumentos cumpre modestamente seu papel. É a soma de todos esses timbres que fornece a essência mágica do produto final. Finalmente, não dá pra esquecer que "Amarcord", ao mesmo tempo que é um filme intimista, sobre um garoto que descobre a si mesmo, também é um filme político, sobre a Itália fascista, sobre a alienação de um povo, sobre a preguiça latina, sobre a acomodação dos seres humanos a regras estúpidas, formuladas por seres humanos igualmente estúpidos, mas muito poderosos, capazes de criar os eficientes signos fascistas e gerar líderes monstruosos como Mussolini.
"Amarcord" não será esquecido jamais, nunca sairá de moda, nunca parecerá velho (o que aconteceu com "Oito e meio", por exemplo). Eu lembro de "Amarcord". Eu lembro daquela sessão do cinema Vogue. Eu lembro que os seres humanos são capazes de criar emoção com pedaços de plástico e sal de prata. E gerar artistas geniais como Fellini.
Carlos Gerbase
Amarcord (1973) Duração: 127 minutos. Direção: Federico Fellini. Roteiro: Tonino Guerra e Federico Fellini. Fotografia: Giuseppe Rotunno. Música: Nino Rota. Produção: F.C.Produzione (Roma) e PECF (Paris). Elenco: Bruno Zanin (Titta), Pupella Maggio (sua mãe), Armando Brancia (seu pai), Nando Orfei, Ciccio Ingrassia, Magali Noel. Oscar de melhor filme estrangeiro.
28.10.07
03/11 - Não haverá sessão
No dia 04/11 (domingo)
participe da peça
"Já Não Estou Sozinha - Variações em Um Ato"
Release: Peça de Teatro (Grupo TemPeraMento) Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone encenada por alunas no Ensino Fundamental e Médio.
22.10.07
Dom Quixote (Orson Welles) 1992 (finalização)
13.10.07
Felicidade (Todd Solondz) 1998
Joy Jordan procura o homem certo e a definição de uma situação laboral que a torne um membro útil da sociedade. Ocorre-lhe "ajudar os outros". Na verdade, desejava ter sucesso enquanto cantora folk.
A irmã de Joy, Helen, é uma escritora bem sucedida e uma "femme fatale" devoradora de homens, mas completamente insatisfeita com a vida. Autora de textos como "Violada aos 12" e "Violada aos 13", lamenta não ter tido uma experiência traumática na infância que lhe permitisse transmitir alguma verdade naquilo que escreve.
A última das irmãs Jordan é Trish, uma dona de casa com uma vida banal. É casada com um psicólogo, Bill Maplewood, que sente uma atração irresistível por rapazes no início da puberdade. O filho de 11 anos, Billy, atravessa uma crise por não conseguir alcançar o orgasmo, ao contrário de todos os rapazes da sua turma. Allen é plenamente patético. Não consegue encarar uma relação normal e procura satisfação através de chamadas telefônicas obscenas para mulheres desconhecidas. Nem todas são desconhecidas; a sua "vítima" preferida é a vizinha Helen.
. Críticas
"Felicidade" é um brilhante filme, de certa forma irônico, que acompanha a vida de três irmãs bem diferentes, todas à procura da 'felicidade', cada uma a seu modo, mas nenhuma conseguindo ter sucesso. Roteirizado e dirigido por Todd Solondz, o filme procura passar a mensagem de que a verdadeira felicidade é um mito. O roteiro de Solondz é perfeito. A trama é desenvolvida com bastante sensibilidade. Ao contrário da maioria dos filmes, que trata pessoas com desvios sexuais e de caráter, tais como pedófilos e criminosos, como verdadeiros monstros, Solondz procura, em "Felicidade", vê-las como seres humanos.
A fotografia de Maryse Alberti é suave e a trilha sonora é adequada. Mas o maior brilho de "Felicidade" reside na série de extraordinárias atuações proporcionadas pela maioria do elenco.
Elenco: Jane Adams (Joy Jordan)
Jon Lovitz (Andy Kornbluth)
Philip Seymour Hoffman (Allen)
Dylan Baker (Bill Maplewood)
Lara Flynn Boyle (Helen Jordan)
Justin Elvin (Timmy Maplewood)
Cynthia Stevenson (Trish Maplewood)
Lila Glantzman-Leib (Chloe Maplewood)
Gerry Becker (Psicoterapeuta)
Rufus Read (Billy Maplewood)
Louise Lasser (Mona Jordan)
Ben Gazzara (Lenny Jordan)
EUA, 1998, Cor, 134min.
7.10.07
Os Incompreendidos (França, 1959) François Truffaut
Devido ao feriado do dia 12, a Sessão desta semana ser quinta feira (11/10) às 19:30h
Entrada Grátis.
Os Incompreendidos não é só o primeiro longa de Truffaut, filmado em 1959: é um dos títulos seminais da nouvelle vague e um dos melhores filmes de todos os tempos.
Trata-se de uma obra-prima. Parafraseando um comentário de François Truffaut sobre Os Pássaros, de Alfred Hithcock, o cinema foi inventado para que semelhante filme fosse feito.
Fotografado em preto-e-branco, Os Incompreendidos acompanha o percurso de um garoto de 12 ou 13 anos pela Paris do final dos anos 50.
A criança está sempre se metendo em encrencas, e vem daí o título original, Les 400 Coups – uma expressão idiomática francesa que pode ser traduzida por “pintar o sete”.
Antoine Doinel mata aula e mente que a mãe morreu, ergue um altar em honra de Honoré de Balzac e quase mete fogo na casa, rouba e se arrepende, é preso e foge.
O roteiro, do próprio Truffaut, em parceria com Marcel Moussy, recusa o clima piegas que costuma lambuzar filmes sobre infância.
É quase um documentário, profundamente alegre em certas partes e triste, suave, melancólico no seu todo.
Passados quase 40 anos, o final deve se manter surpreendente. É um dos filmes mais simples e mais belos em cento e poucos anos de cinema.
Truffaut insistiu no personagem
O homem que amava as crianças não gostava de admitir o quão autobiográfico era o seu primeiro longa-metragem.
François Truffaut (1932-1984) não gostava de admitir, mas teve uma infância bem parecida com a do protagonista de Os Incompreendidos. Amargou problemas com os pais, aplicou pequenos golpes e acabou confinado num reformatório juvenil.
O homem que amava o cinema chegou a fazer do personagem Antoine Doinel e de seu intérprete, o ator Jean-Pierre Léaud, uma espécie de alter ego. Doinel, sempre interpretado por Léaud, voltou em outros quatro filmes ao longo de 20 anos, num caso único de insistência no triângulo diretor-personagem-ator: Antoine e Colette (1963), Beijos Proibidos (1968), Domicílio Conjugal (1970) e O Amor em Fuga (1979).
O homem que amava as mulheres repetiria em uma dezena de outros filmes sua devoção aos temas da infância e da solidão. Numa entrevista, chegaria a declarar que não conseguiria fazer outro filme “tão eficaz” como Os Incompreendidos:
– Fico muito surpreso quando me dizem que se trata da solidão de uma criança. É exatamente isso o que eu queria.(Eduardo Veras, Agência RBS)
OS INCOMPREENDIDOS
Título Original: Les 400 CoupsPaís de Origem: FrançaAno: 1959Duração: 93min
Diretor: François Truffaut.
Elenco: Jean-Pierre Léaud, Albert Rémy, Claire Maurier, Patrick Aufey e outros.
4.10.07
Amores Brutos (Alejandro G. Iñarritu) 2000
"Amores Brutos" de Alejandro Gonzales Iñarritu (21 Gramas, Babel) é a tradução mais densa do amor, todas as suas variações e tudo o que pode representar. O roteiro é bastante inteligente e ágil em reunir as três histórias presentes. É claro, que em alguns momentos, há uma quebra no ritmo, mas nada que comprometa o resultado final. O filme conta com realismo, magnitude e violência mostrados de uma forma não para chocar, mas para mostrar as dificuldades existentes, acima de tudo relacionadas com o amor e a perda;
Gênero: Cinema Latino-Americano
Atores: Emilio Echeverria, Gael García Bernal, Goya Toledo, Alvaro Guerrero, Jorge Salinas, Vanessa Bauche
Direção: Alejandro González Iñárritu
Idioma: Espanhol,
Legendas: Português,
Ano de produção: 2000
País de produção: México
Duração: 153 min.
Queriamos agradecer imensamente à todos que participaram do evento FUGU.
30.9.07
FUGU - Espetáculo Beneficente
SESC traz musical da vida de Antônio Maria a Cascavel
Após ter se apresentado por quase todo o país, o musical "Antônio Maria – A noite é uma criança", do Núcleo Informal de Teatro (RJ), chega a Cascavel com a 3ª etapa do projeto Palco Giratório do SESC. O espetáculo acontece dia 05 de outubro, às 20 horas, no Centro Cultural Gilberto Mayer. A entrada custa R$ 5 (comerciários, estudantes e idosos) e R$ 8 (Não-comerciário) e pode ser adquirida antecipadamente no SESC.
Considerado uma das dez melhores montagens do ano pelo jornal O Globo, o espetáculo conta a história do jornalista que desenvolveu inúmeras atividades profissionais como escritor, compositor e locutor esportivo, e que ficou conhecido como o rei das rádios pelos brasileiros da década de 1950. “O musical é uma crônica de um Brasil que há muito tempo deixou de existir“, revela a crítica. Com autoria do ator Marcos França e direção de Joana Lebreiro, a história acontece em um bar do Rio de Janeiro. Três boêmios resgatam, de forma informal e divertida, composições de Antônio Maria e histórias remanescentes daquela época, envolvendo no roteiro muita História e canções que marcam a boemia brasileira. Intercaladas com alguns fatos marcantes da noite e do futebol, o espetáculo relembra também as “benditas moças” que marcaram a vida do compositor.
Múltiplas facetas – Aracy de Almeida, Ary Barroso e Vinícius de Moraes foram algumas das requisitadas parcerias que Antônio Maria possuía. Nascido em Recife, ele viveu 43 anos (1921-64), mas nunca publicou um livro sequer. Suas crônicas foram resgatadas posteriormente à sua morte em três livros: “Com Vocês”, “Antônio Maria, Pernoite” e “O Jornal de Antônio Maria”.
Seu primeiro emprego foi aos 17 anos como apresentador de programas musicais na Rádio Clube Pernambuco e, dali adiante, conquistou inúmeros postos de importância no cenário nacional. Em 1951, o recifense multitalentoso foi convocado por Assis Chateaubriand para ser o primeiro diretor de produção da TV Tupi, recentemente inaugurada.
Além disso, ainda foi locutor esportivo na Rádio Ipanema (RJ), na Rádio Clube do Ceará (CE), assinou colunas nos jornais O Globo e A Última Hora, apresentou os programas televisivos "Preto no Branco" e "Rio, Eu Gosto de Você", dirigiu as Emissoras Associadas (BA), entre outros.
Mais informações sobre o espetáculo pelo telefone 3225-3828 (SESC) Oficina – Os atores do Núcleo Informal de Teatro (RJ), Alexandre Danta e Cláudia Ventura, ministram no sábado (06), das 8h30 às 18 horas, a oficina “O narra-ator”. No curso serão debatidos assuntos voltados às artes cênicas como linguagens dramáticas, narrativas, construção do personagem numa encenação.
Segundo o cronograma, o objetivo é que esse processo criativo seja experimentado partindo de três pontos diferentes: da simples descrição de um personagem, de trechos de um texto dramático e de um texto literário. “Ao final, será possível observar os limites e a tensão entre o contar e o vivenciar, entre a descrição e a verossimilhança”, explicam os atores.
A aula é dirigida a todos os interessados e será realizada no SESC (Rua Carlos de Carvalho, 3367).
As inscrições custam R$ 10 (R$ 5 para comerciários e estudantes), podendo ser feitas no próprio SESC ou pelo telefone (45) 3225-3828.
SERVIÇO Musical “Antônio Maria – A Noite é uma Criança”, Núcleo Informal de Teatro (RJ)
Sexta-feira, dia 05 de outubro
20 horas
Centro Cultural Gilberto Mayer
Ingressos a R$ 5,00 (Comerciários, estudantes e idosos) e R$ 8,00 (Não-comerciário)
Mais informações sobre o espetáculo pelos telefones ou 3225-3828 (SESC).
OFICINA Sábado, dia 06 de outubro SESC Das 8h30 às 18 horas Inscrição a R$ 5,00 (Comerciários, estudantes e idosos) e R$ 10,00 (Não-comerciário) Informações pelo telefone (45) 3225-3828 (SESC)
24.9.07
Violência Gratuita (Michael Haneke) 1997
DIREÇÃO:
Michael Haneke
Jürgen Jürges
Andreas Prochaska
Susanne Lothar, Ulrich Mühe, Frank Giering, Arno Frisch
PRODUTOR:
Veit Heiduschka
PARTICIPAÇÃO EM FESTIVAIS:
Cannes
TÍTULO ORIGINAL:
Funny Games
Col., 103 min., 1997
Nascido em Munique, em 1942, Michael estudou Filosofia, Psicologia e Teatro em Viena. Começou sua carreira como dramaturgo, escrevendo diversas peças teatrais para a Südwesfunk. Em 1970, passa a trabalhar como diretor e roteirista independente. Entre seus trabalhos se destacam: O Sétimo Continente (Der Siebente Kontinent), seleção da 13ª Mostra e premiado com o Leopardo de Bronze em Locarno/89, O Vídeo de Benny (Benny's Video), exibido na 16ª Mostra, e 71 Cronologias do Acaso (71 Fragmente einer Chronologie des Zufalls), selecionado para a 18ª Mostra. Fez também o roteiro de Cabeça de Mouro, seleção da 19ª Mostra.
17.9.07
O Bebê Santo de Macon (1993) Peter Greenaway
10.9.07
25 Watts (Rebella & Stoll) 2001
Três jovens em uma manhã de sábado bebem cerveja e perambulam pelas ruas de Montevidéu. Os diretores tratam com humor os personagens e suas histórias sem saída e sem futuro. Premiado com o Tiger Award, no Festival de Rotterdam. Exibido em competição no Festival de Gramado 2001.
8.9.07
RECESSO
3.9.07
CICLO CINEMA NACIONAL
Primeiro Ciclo no SESC Cineclube Silenzio dedicado ao Cinema Brasileiro
Sempre às 19:30hrs, Sempre GRÁTIS
SEGUNDA DIA 03/09
A MEIA NOITE LEVAREI SUA ALMA
O cruel e sádico coveiro Zé do Caixão, temido e odiado pelos moradores de uma cidadezinha do interior está obsecado em conseguir gerar o filho perfeito, aquele que possa dar continuidade ao seu sangue! A sua mulher não consegue engravidar e ele acredita que a namorada do seu melhor amigo é a mulher ideal que procura. Violada por Zé do Caixão, a rapariga quer cometer suicídio para regressar do mundo dos mortos e levar a alma danada daquele que a violou.
Dir.: José Mojica Marins
Elenco: José Mojica Marins, Magda Mei, Nivaldo de Lima, Ilídio Martins.
1963, Preto e branco, 81 minutos
TERÇA DIA 04/09
BOLEIROS - ERA UMA VEZ O FUTEBOL
Boleiros - Era Uma Vez o Futebol resgata a emoção do jogo. O futebol é o esporte mais apaixonante de todos, ele consegue unir raças, idéias e ideais num mesmo objetivo: torcer pelo seu time ou seleção. No Brasil, ele é muito mais do que um esporte, ele é política, economia, sociologia e paixão.
No filme, todas essas características são muito bem evidenciadas por Ugo Giorgetti. A história toda se passa numa mesa de um bar em São Paulo, lugar perfeito para se discutir futebol, onde um grupo de ex-jogadores se reúne para lembrar o passado e comentar o presente.
Lá eles contam muitas histórias de suas vidas, que exemplificam um pouco do folclore que envolve o nosso futebol. Histórias como a do juiz ladrão, que é obrigado a roubar para os donos da casa, porque aceitou um dinheirinho por trás, mas o jogador insiste em não cooperar.
Histórias de fé, como o atleta que estava machucado e nada o fazia melhorar. Seu time, o Corinthians, ia mal das pernas... e então um grupo de torcedores resolve levá-lo para um curandeiro. O final da história nem é preciso contar.
O filme conta histórias como essas, mas também mostra o lado social e de sonhos do futebol. O craque Azul, que surgiu de família pobre, conseguiu sucesso, chegou à seleção brasileira e foi humilhado nas ruas por policiais, porque estava num carro de luxo, à noite e era preto... Histórias do garoto craque de bola, pobre, mas que o tráfico levou embora. Situações engraçadas, como a do jogador garanhão do Palmeiras, que enganava o técnico na concentração, para conseguir aproveitar os solitários momentos no hotel, bem acompanhado, além das famosas mesas redondas das TVs, que sempre falam a mesma coisa!
Boleiros traz também uma visão realista e ao mesmo triste, do ex-jogador de futebol, que quando largou os gramados, não sabia mais fazer nada. Do craque que não conseguia andar nas ruas e que virou um mero desconhecido, antes amado e hoje esquecido pelas multidões, ainda correndo atrás de fama.
O filme não é indicado somente para quem gosta de futebol. É indicado para pessoas que querem conhecer a dura realidade da vida, que não é feita só de sonhos e fantasias. Mas, acima de tudo, Boleiros - Era Uma Vez o Futebol, é um filme imperdível para qualquer idade, e, principalmente, para os amantes e saudosistas do futebol.
Direção: Ugo Giorgetti
Elenco:Adriano Stuart .... Otávio - Flávio Migliaccio .... Naldinho - Otávio Augusto .... Virgílio - Cássio Gabus Mendes .... Zé Américo - Rogério Cardoso .... Ex-árbitro - João Acaiabe .... Ari - André Abujamra .... Pai Vavá - Cazé Pecini .... Locutor de rádio - Oswaldo Campozana .... Tito - Lima Duarte .... Técnico - André Bicudo .... Caco - Aldo Bueno .... Paulinho Majestade - César Negro .... Mamamá - Paulo Coronato .... Fabinho Guerra - Elias Andreato .... Médico Cléber Colombo .... Azul - Denise Fraga .... Esposa de Azul - Antonio Grassi .... Empresário de Azul -Bruno Giordano .... Editor - Eduardo Mancini .... Torcedor do Corinthians - Róbson Nunes .... Torcedor do Corinthians - Pancho .... Torcedor do Corinthians - João Motta .... Pivete - Marisa Orth
1998, Cor, 90 minutos
QUARTA DIA 05/09
VIDAS SECAS
Muitas das vezes a transposição da literatura para a 7ª arte tem a desejar em certos pontos, talvez pela extensão do livro que de certa forma se torna inviável para o cinema, ou talvez pela essencialidade e caracterização que é muito mais acessível e detalhista no papel. Esse não é o caso de Vidas Secas, obra máxima do alagoano Graciliano Ramos que concebeu a incumbência de realizar o filme sobre seu livro a um dos maiores cineastas brasileiros, Nelson Pereira dos Santos.
Em 1955 o cineasta filmou Rio 40 Graus, filme precursor que deu origem posteriormente há um dos principais movimentos cinematográficos brasileiros, o Cinema Novo. Gênero que tinha como uma de suas principais características expor a cultura, o folclore brasileiro como vertente máxima do cinema nacional. Foi somente oito anos depois, quando Nelson tinha seus 35 anos de idade que lhe surgiu a oportunidade de adaptar a obra literária de Graciliano Ramos para o cinema e demonstrar toda a sua habilidade fílmica como diretor e roteirista.
O livro/filme conta a estória de uma família de retirantes nordestinos, composta por Fabiano (Átila Iório), sua mulher Sinhá Vitória (Maria Ribeiro) e seus dois filhos. Além destes, completam marginalmente a família, a lendária cachorra Baleia e um papagaio. A vida no sertão nordestina é muito dura, o começo se dá de forma trágica, os integrantes da família fugindo da seca que castiga a região, se vêem obrigados a matar o papagaio que serve de alimento a família(no ano de 2002, foi feito um curta-metragem, Como se Morre no Cinema, que narra a história do papagaio que participou das filmagens de "Vidas Secas" em 1962, e da cachorra Baleia, mostrando bastidores do filme e depoimentos de cineastas).
Após contínua e exaustiva caminhada pela área nordestina, encontram uma fazenda abandonada, à qual futuramente passará a ser a moradia temporária do grupo. Fabiano consegue um emprego de vaqueiro e a família de certo ponto se vê instalada nas mediações da fazenda. A região parece amaldiçoada, seria o Inferno? Muita pobreza, seca, fome além de outros problemas agravam a vida de um homem, ignorante sem igual, analfabeto, humilde, ingênuo que no final das contas, a única coisa que quer é um meio digno para sobreviver no meio a terra do sol. Contexto típico de muitos nordestinos, história comum a milhões de brasileiros, que depois de muita procura e tentativas pelo sertão partem para o sul em busca de uma vida melhor.
Um detalhe importante para o entendimento do filme é uma analise semiótica sobre a cachorra Baleia, primeiro personagem a aparecer no filme e de certo modo, o mais inteligente e humano da obra. Membro essencial da família, uma das únicas diversões aparentes dos meninos, é bastante discriminada, fica sempre com os restos de comidas, e se contenta com pouco. Ao final, muito magra e sem pêlo tem um fim trágico, polêmico e muito triste.
O contexto geográfico e histórico é muito similar a Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme de Glauber Rocha e ícone máximo do Cinema Novo, porém Vidas Secas tem um tom mais realista, documental. Nos Estados Unidos Stanley Kubrick é considerado o grande adaptador de livros, de maneira genial passou 2001: Uma Odisséia no Espaço, Laranja Mecânica, O Iluminado entre outros para a sétima arte. No Brasil, o grande adaptador é Nelson Pereira dos Santos que, além de Vidas Secas, também adaptou para os cinemas Jubiabá de Jorge Amado, Memórias do Cárcere e Tenda dos Milagres de Graciliano Ramos, além de Um Asilo Muito Louco, adaptação de O Alienista, livro de Machado de Assis.
Pouquíssimos diálogos, planos longos e lentos, focado na vida familiar e no convívio social, Vidas Secas assim como expressão máxima da habilidade escrita de Graciliano Ramos se torna talvez o melhor filme do cineasta Nelson Pereira dos Santos, com certeza o mais influente. Indicado à Palma de Ouro, um dos primeiros filmes do Cinema Novo em tese e na prática. Fotografia em preto e branco, característica que nos deixa com mais contraste à caatinga nordestina, enaltecendo a violência do sol. Infelizmente o filme não obteve sucesso imediato por aqui, demoraram cerca de três anos até circular pelos cinemas nacionais. Indicado pela British Film Institute como uma das 360 obras fundamentais em uma cinemateca, o filme luta para não cair no esquecimento popular.
Direção: Nelson Pereira dos Santos
Ator/Atriz Personagem - Átila Iório - Fabiano - Maria Ribeiro - Sinhá Vitória - Orlando Macedo - Soldado Amarelo - Jofre Soares - Fazendeiro - Gilvan Lima - Garoto - Genivaldo Lima - Garota
1963, P&B, 103 minutos
QUINTA DIA 06/09
PIXOTE, A LEI DO MAIS FRACO
Pixote (Fernando Ramos da Silva) foi abandonado por seus pais e rouba para viver nas ruas. Ele já esteve internado em reformatórios e isto só ajudou na sua "educação", pois conviveu com todo o tipo de criminoso e jovens delinqüentes que seguem o mesmo caminho. Ele sobrevive se tornando um pequeno traficante de drogas, cafetão e assassino, mesmo tendo apenas onze anos.
Direção: Hector Babenco
Elenco: Fernando Ramos da Silva (Pixote) - Marília Pera (Sueli) - Jorge Julião (Lilica) - Gilberto Moura (Dito) - Edílson Lino (Chico) - Zenildo Oliveira Santos (Fumaça) - Cláudio Bernardo (Garatão) - Israel Feres David (Roberto Pie de Plata) - José Nílson Martins dos Santos (Diego) - Jardel Filho (Sapatos Brancos) - Rubens de Falco (Juiz) - Elke Maravilha (Débora) - Tony Tornado (Cristal) - Beatriz Segall (Viúva) - Ariclê Perez (Professora)
1981, Cor, 127 minutos
26.8.07
Eraserhead (David Lynch) 1977
Neste sábado dia 01/09 no SESC Cineclube Silenzio.
às 19:30hrs. Entrada Gratuita
Do comportamento dos personagens aos ambientes em que vivem e se deslocam, da deformidade e incompletude que marcam o rosto (a moça no palco do teatro), parte do corpo (o homem, ao lado de uma janela, com o corpo aparentemente queimado) e o corpo por inteiro (o filho de Henry e Mary), da forma como a câmera posiciona-se sobre o mundo e o modo como este mundo turvo, deslocado e particular se mostra em imagens, Eraserhead (1977, de David Lynch) não é apenas o filme de estréia do seu realizador. A cada seqüência e plano, onde a realidade se torna menos objeto do pensamento e mais um dado da visão, o mundo da câmera de David Lynch parece, permanentemente, em experimentação. Se, portanto, tem diretores que posicionam a câmera sobre o mundo, buscando, com isso, captar o tempo e o espaço que, naturalmente, o definem, o modo lynchiano prefere, antes de tudo, construir o seu próprio mundo, com sua estrutura temporal e espacial particular. Assim, não é da poética lynchiana apenas reproduzir o movimento de uma dada realidade em imagem, mas criar outros movimentos, realidades e imagens e, por extensão, outro mundo.
É, por assim dizer, diante de outro mundo fundado na imaginação de um autor, de outra realidade explorada por uma máquina de ilusão e sonho e de outra imagem moldada por um dispositivo ficcional poderoso, com seus personagens e ambientes peculiares, que senti Eraserhead no decorrer da projeção. Um mundo diferente do nosso, é verdade, mas ainda assim parte do mundo em que vivemos, reconhecível, por sua vez, no mundo no qual trafegamos e constitutivo dos nossos pesadelos, medos e angustias. Por isso mesmo, distante, mas, simultaneamente, nosso por sua proximidade, recusado e, ao mesmo tempo, ligado a nós pelas semelhanças que encerram. Diante de um filme com imagens paradoxais, talvez pelos objetos que nos causam uma certa estranheza apesar de serem parte, umbilicalmente, do nosso corpo, a experiência é de natureza, eminentemente, sensorial. Sobretudo porque, ao buscar o seu próprio universo, as matizes banhadas em luz e sombra dos seus ambientes e objetos e uma atmosfera, excessivamente, nervosa, a câmera de David Lynch precisava ter certeza do mundo que suas lentes criavam para nos dar a certeza do que sentíamos.
Quando, no início do filme, Henry (Jack Nance) se desloca por uma ambientação, aparentemente, marcada pelo abandono, sentimos a frieza e a atmosfera desoladora de sua arquitetura, com seus cômodos tomados por camadas mais escuras do que claras no acender e apagar de luzes. Talvez porque as locações por onde passa sejam pesadas e de natureza prisional, principalmente por sua fantasmagoria. Por isso, o espaço do primeiro trabalho de David Lynch aparenta a inexistência de estruturas humanas, tanto as que possibilitam o convívio entre os indivíduos quanto as que permitem sua sobrevivência. No entanto, apesar de traçado como mundo de fábricas, suas locações nos remetem sempre a um mundo desabitado. Assim, afora Henry, aquele é um lugar que parece não ter ninguém, sendo que, somente aos poucos, é que ele começa a ser povoado, primeiramente, pela família de Mary (sua namorada, em seguida mulher e mãe do seu “filho”) e sua família exótica. Entretanto, mesmo quando aparecem outros personagens além do núcleo familiar, David Lynch trabalha sempre a impressão do espaço em decadência, desabitado e último.
Neste espaço que, automaticamente, marca o outro mundo (específico e em esboço) da câmera lynchiana, o resultado é o filme-experimento - não, especificamente, no sentido estético, mas do cinema como laboratório. Portanto, em Eraserhead, o diretor americano David Lynch transforma seu filme numa experiência laboratorial, onde são acompanhadas certas instâncias do humano (como que em gestação ou, decadentemente, marcadas pela posteridade). Assim, ao inventar um mundo com seus personagens e espaços próprios, o modo lynchiano se aproxima, talvez, das preocupações características do primeiro trabalho: criar e, em seguida, observar como as partículas se movimentam. Daí porque, o tempo todo, a câmera está em posição de observação, colocando-nos, a cada cena, num estado ótico diante do universo de Henry, do seu comportamento e personalidade bastante bizarra. De modo que, quando David Lynch escolhe o núcleo familiar e seus entes para desenvolver sua experiência, o que se torna caro as suas lentes é, antes de tudo, a forma como lhe damos com a diferença mesmo que esta, umbilicalmente, seja parte e resultado do nosso corpo.
TRAILER:
21.8.07
Woody Allen
14.8.07
O Discreto Charme da Burguesia (Luis Buñuel) 1972
Data: 18 de agosto
Horário: 19h30
ENTRADA GRATUITA
(Le Charme Discret de la Burgeoisie, Itália/Espanha/França, 1972)
Direção: Luis Buñuel
Elenco: Fernando Rey, Paul Frankeur, Delphine Seirig, Jean Pierre Cassel
Duração: 100 min
Mistura de situações reais da história com os sonhos e devaneios dos personagens. O filme se passa numa tarde onde alguns amigos se encontram para jantar. Crítica às situações e a hipocrisia da vida social burguesa.
O Discreto Charme da Burguesia é uma sátira surrealista do diretor Luis Buñuel construída sobre uma narrativa que mistura as situações reais da história com os sonhos e devaneios dos personagens. O filme se passa numa tarde onde alguns amigos se encontram para jantar. Uma crítica à classe privilegiada, satirizando as situações e a hipocrisia nos encontros sociais da burguesia. Foi aclamado pela opinião pública e mostra toda a supremacia e técnica de Buñuel como um dos maiores artistas, experimentalistas e satíricos diretores do cinema. Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1972.
5.8.07
Fahrenheit 451 (François Truffaut) 1966
Aquilo que Truffaut percebera como um clima repressor será integralmente absorvido pelo tecido do filme, e a operação conseqüente àqueles créditos iniciais falados será a filiação de Fahrenheit a um gênero clássico, ao suspense. A influência de Alfred Hitchcock é decisiva, e estamos aqui no início da relação pessoal que desembocaria na grande entrevista-livro lançada algum tempo depois, mas nem era preciso tanto. A trilha sonora ostensiva de Bernard Hermann, o modo de encenar seqüências banais como se por trás de cada uma houvesse a chave para o mistério da trama, até mesmo algumas citações literais, tudo está lá para anunciar esta grande influência, e também deixar evidente o quão difícil ela torna a vida do influenciado. Como repetiria dois anos depois na tentativa mais declarada de aproximação com o mestre, em A Noiva Estava de Preto, Truffaut se atrapalha incrivelmente nas cenas de alguma ação, e se em 1968 transformaria a crueldade de Jeanne Moureau ao empurrar um amante sacada abaixo em um momento quase-cômico, aqui torna o ataque vingativo de Oskar Werner contra seu chefe em um exercício de como não se decupar uma rajada de lança-chamas.
E como nesses detalhes de realização, todo o filme estará envolvido por uma série de primarismos; o peso do gênero, afeito a regras e esquemas restritos, será eventualmente grande demais para que qualquer tentativa de respiração própria possa ter algum efeito. Há um paradoxo fundamental no livro de Bradbury que passa ao largo de Truffaut. Contando uma história onde a literatura é perseguida e destruída por sua possibilidade de informação e elevação intelectual, a própria existência do livro no qual esta história aparece já é, por si, uma espécie de resistência, uma afronta a esse regime imaginário e tão assustadoramente possível, uma defesa tácita e eficientíssima daquilo que a trajetória de Montag pretende significar. Em Fahrenheit 451, o filme, somos lembrados o tempo inteiro da grande importância que os livros têm na história da humanidade, num exercício de tautologia pedagógica que beira a histeria.
Diagnosticar o futuro com males que estão na pauta do presente é uma constante na maior parte dos filmes que se arriscam na previsão. Mesmo o Alphaville, do parceiro de geração Jean-Luc Godard, realizado um ano antes de Fahrenheit, sofre desta valorização desmedida de suas próprias profecias sobre o mundo. Mas lá, antes do conteúdo alarmista, da bandeira agitada, estava na linha de frente a própria impossibilidade de uma mise-en-scène do futuro que não se impusesse os problemas do presente (diante de uma longa cena de conflito entre Eddie Constantine e Anna Karina num quarto de hotel, o que parece estar em questão não é o pesar da confirmação destrutiva deste mundo pós-apocalíptico, mas sim se este mesmo pendor para o cataclismo impedirá também a existência de planos-seqüência tão nervosos quanto aquele). Truffaut, ao contrário, é vítima da mensagem. Não perde a piada de ver o Capitão Beatty dizer, com consternação, que todos os livros precisam mesmo ser queimados, até mesmo aqueles que os servem tão bem, como o Minha Luta de Adolf Hitler que segura com uma das mãos nesse momento, porque é importante não deixar em suspenso que todos aqueles bombeiros empertigados são nazistas de primeira classe. Tudo acaba sendo, no fim das contas, uma questão de repertório.
29.7.07
Afogando em Números (Peter Greenaway) 1988
Diretor: Peter Greenaway
Atores: Joan Plowright, Juliet Stevenson, Joely Richardson, Bernard Hill, Jason Edwards
Gênero: Experimental/Arte
País de Origem: Reino Unido, Holanda
Ano de Produção: 1988
CENA: