14.8.07

O Discreto Charme da Burguesia (Luis Buñuel) 1972

Data: 18 de agosto


Horário: 19h30


ENTRADA GRATUITA



(Le Charme Discret de la Burgeoisie, Itália/Espanha/França, 1972)



Direção: Luis Buñuel


Elenco: Fernando Rey, Paul Frankeur, Delphine Seirig, Jean Pierre Cassel


Duração: 100 min


Mistura de situações reais da história com os sonhos e devaneios dos personagens. O filme se passa numa tarde onde alguns amigos se encontram para jantar. Crítica às situações e a hipocrisia da vida social burguesa.



O Discreto Charme da Burguesia é uma sátira surrealista do diretor Luis Buñuel construída sobre uma narrativa que mistura as situações reais da história com os sonhos e devaneios dos personagens. O filme se passa numa tarde onde alguns amigos se encontram para jantar. Uma crítica à classe privilegiada, satirizando as situações e a hipocrisia nos encontros sociais da burguesia. Foi aclamado pela opinião pública e mostra toda a supremacia e técnica de Buñuel como um dos maiores artistas, experimentalistas e satíricos diretores do cinema. Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1972.




3 comentários:

Anônimo disse...

Mais um filme que recebeu um bom público e boa receptividade.

Buñuel vai fundo na crítica à parâmetros sociais, econômicos, políticos e culturais de uma forma ao mesmo tempo ácida e divertida a um passo do mau gosto, com a intenção de mostrar e explorar a ridicularidade de algumas das nossas considerações acerca do mundo.

Em o Discreto Charme da Burguesia não é diferente, tendo agora como alvo uma caricatura da elite francesa que representa bem o que a escola também francesa de sociologia coloca sobre as limitações ao comportamento socialmente aceito de tal classe. Levando em conta novamente a perspectiva de Durkheim sobre as estipulações morais da consciência coletiva do grupo, no que concerne a etiqueta e aos padrões lógicos nos diálogos, no relacionamento e sobretudo no enfrentamento à situações adversas; além daquilo que coloca Bourdieu a respeito do habitus e da violência simbólica, tem-se de forma clara quais são os códigos necessários para que se faça parte de forma efetiva de um grupo de alta classe. Como ilustração, temos a cena em que uma das personagens (se não me engano o embaixador da República de Miranda) oferece um dry martini ao motorista, expondo a ignorância do mesmo a tais códigos necessários: "É assim que não se deve tomar um dry martini".

Buñuel então, mais ou menos nos moldes daquilo que foi colocado sobre Monty Python (Hollywood Bowl), utiliza-se da rigidez ao respeito a tais parâmetros para ridicularizar a artificialidade dos mesmos a partir da sua própria subversão, ou seja, parte da des-contenção moral para criticar a própria moral; quando se tem a vontade individual "primitiva", animalesca levada a cabo com despudor.

Em outras palavras ainda, fazendo uma comparação à formatação individual, o grupo desconsidera as obrigatoriedades de seu "superego" agindo em conformidade aos desejos do "id" como se isso fosse "natural" no que diz respeito ao comportamento moralmente aceito.

Assim, como obra surrealista, há uma tentativa de tansformar o absurdo em natural e o ridículo em cotidianidade, fazendo com que a subversão seja identificada pelo público e interpretada à revelia de suas próprias vivências.

"E a minha moral é um prato de peixe frito".
(Pablo Neruda)

Anônimo disse...

Há uma estranha sensação que me dá toda vez que reassisto um filme de Buñuel da segunda fase francesa que me faz crer que ele era um dos grandes comediantes do cinema.
Um Chaplin de "O Grande Ditador" mais abusado.

O fato é que a crítica corrosiva debochando e ridicularizando a burguesia, a igreja, a cultura elitizada, a moral e os bons costumes usando a 'etiqueta' para isso apesar de chocante (pela verdade da mesma) é extremamente divertida, o que ao meu ver coloca Luis Buñuel no mesmo patamar que muitos colocam Hitchcock e Kubrick, o dos poucos cineastas que conseguiam passar uma mensagem profunda e ao mesmo tempo ser acessível.

E sem querer me estender muito, ainda fascinado pela sensação de prazer do que dito a seguir, a obra funciona como vingança sem sangue de tudo o que se considera superior em sua mediocridade, seja a burguesia política em seus maneirismos exagerados e non-sense em impressionar pela educação em detrimento de personalidade e caráter, a eclesiática pela aparência vã que insiste em ostentar tão burlescamente que transforma templos em circos performáticos alienantes, e por último e não menos importante, a arte nas mãos de poucos, que tomando como exemplo a nossa própria cidade, onde cultura e arte engatinham, com "artistas" disputando falsa intelectualidade e pompa sem deixar a cultura chegar aonde deveria por seu objetivo e necessidade transformando aqui então as sessões artístico-culturais em apresentações narcisísticas e por que não, também alienantes, aos olhos de organizadores políticos que se encaixam nas três definições, servindo-se nessa então como um tapa, senão soco, na cara, mesmo que com direito à reconstituição dentária.

Anônimo disse...

Só completando, como diria o Vander:
"muita pompa para pouca circunstância"!!