17.6.09

20/06 - O Fascista (Luciano Salce)

Neste Sábado dia 20/06 às 19:30hr
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA



O FASCISTA
(Il Federale)

Com:
Ugo Tognazzi .... Primo Arcovazzi
Georges Wilson .... Prof. Erminio Bonafé
Elsa Vazzoler .... Matilde Bardacci
Mireille Granelli .... Rita Bardacci
Stefania Sandrelli .... Lisa
Luciano Salce .... Oficial Alemão

Gênero: Comédia
Diretor: Luciano Salce
Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento: 1961
País de Origem: Itália

Em 1944, um fascista fanático que espera se tornar um Federale (posição de alta graduação no Partido fascista) deve levar do Abruzzo a Roma um opositor do regime. Ao longo do percurso (feito em moto com sidecar) os dois têm a oportunidade de se conhecerem melhor, tendo como cenário uma Itália fascista praticamente em ruínas. Apesar da clara evidência do colapso do regime, a fé do aspirante a Federale não é abalada, face a miragem da promoção. O primeiro filme de Luciano Salce como diretor na Itália - já havia dirigido Uma Pulga na Balança e Floradas na Serra pela Vera Cruz, em São Paulo - é uma divertidíssima comédia sobre até que ponto a fé e a ambição política (ou religiosa, dá no mesmo) pode levar os seres humanos a se tornarem completamente alienados e estúpidos. Nesse filme o diretor explora muito bem as contradições entre os sentimentos humanos - a nascente amizade entre o captor e o capturado, o oportunismo do poeta fascista - e atitudes fanáticas, que fazem com que uma pessoa tente atingir seus objetivos sob quaisquer circunstâncias. Após esse filme Salce teve uma carreira bastante apagada como diretor na Itália até 1975, quando filmou o primeiro dos Fantozzi, que se tornaram extremamente populares no país peninsular. Cabe assinalar também que esse é o primeiro filme cuja trilha sonora é do famosíssimo Ennio Morricone.


4.6.09

06/06 - Rushmore (Wes Anderson)

NESTE SÁBADO DIA 06 de Junho às 19:30hr
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA


Sinopse
Max Fischer (Jason Schwartzman), um rapaz de quinze anos, conseguiu uma bolsa de estudos em Rushmore, uma escola preparatória para jovens de famílias ricas. Apesar de se dedicar a várias atividades extra-curricualres, Max corre o risco de ser expulso, em virtude das suas notas serem baixas. Ele se torna amigo de Herman Blume (Bill Murray), um magnata que atravessa uma depressão. Max se apaixona por Rosemary Cross (Olivia Williams), uma professora que tinha ficado viúva um ano atrás, mas há dois problemas: Rosemary acha que Max é muito novo para ela e, além disto, Herman se apaixona por Rosemary e os dois se envolvem, criando entre Fischer e Blume uma certa rivalidade.

Três é Demais, de Wes Anderson Rushmore, EUA, 1999

Vamos começar desconsiderando o título brasileiro do filme de Anderson. Rushmore é o nome daquele que talvez seja o principal personagem do filme: a escola privada secundária onde estuda o protagonista e que ele tanto ama. Porque em última instância o filme é um exemplar do gênero do "cinema de escola". Mas isso é tudo de convencional ou qualificável que se pode encontrar no trabalho de Anderson. A partir da noção de um garoto de 15 anos vivendo intensamente seus anos de escola, o filme joga para o alto todas as convenções de gênero, e trabalha com uma mistura fundamental do que há de "realista" neste ambiente com o que ele projeta de imaginário e simbólico, pode-se dizer até mesmo que mítico, trabalhando na perspectiva da mitologia já criada pelo cinema americano como pela sociedade americana como um todo. Rushmore trabalha com esta "memória coletiva" com relação ao ambiente escolar, e constantemente a completa e subverte.

A começar pelo seu protagonista, Max Fischer. Ele é um garoto absolutamente incomum, mas ao mesmo tempo o mais comum deles. Não se pode encaixá-lo nas categorias que geralmente os filmes de escola criam, entre os nerds e os cool. Ele certamente nada tem de cool, mas ao mesmo tempo projeta uma profunda crença em tudo o que faz e acredita, disposto a abraçar o mundo com seu entusiasmo. É um garoto essencialmente bom, mas também capaz das maiores maldades quando contrariado. Ele mente, é péssimo aluno nas notas, mas ainda assim nunca tem nenhuma destas características colocadas em julgamento. Trata-se de fato de um personagem único, ou seja, ele dialoga com toda uma tradição de personagens, sem cair numa fórmula. Só Max Fischer pode ser Max Fischer.

Este é um dos mais essenciais pontos do cinema de Anderson que precisa ser entendido: todos os seus personagens dialogam com uma herança de tipos, mas nunca se encaixam em nenhum deles. O melhor amigo de Max é um garoto bem mais novo que ele, mas com a postura e os diálogos de um verdadeiro adulto, sempre em desacordo com sua imagem. Ao mesmo tempo, é capaz também de se voltar contra Max impiedosamente quando se sente traído. O objeto de desejo de Max também não é uma convencional colega a quem ele aspira, mas uma professora claramente fora do seu alcance, platônica, que só torna sua história mais terna e dura ao mesmo tempo.

Mas, talvez o principal personagem dentro desta perspectiva da estranheza ao estereótipo seja o magnata interpretado por Bill Murray, numa performance de impressionante contenção e sutileza. Trata-se de um milionário desencantado com a vida, e fascinado pela força vital de Max, que se torna um grande amigo dele. O que surpreende nesta relação entre um homem de mais de 50 anos e outro de 15 é que ela nunca de se dá na esperada condição de pai-filho. Pelo contrário, se há uma figura que surge como modelo entre os dois, é a de Max. A estranheza constante nesta relação se dá justamente pelo caráter verdadeiramente de iguais que se estabelece entre eles.

Porém não são só os personagens de Wes Anderson que trabalham nesta linha tênue entre o surreal e o realista. Todo o filme possui esta mesma sensação, com o trabalho cuidadoso e detalhista de direção de arte, figurinos, fotografia, e em especial a utilização da trilha sonora. Não se tem no filme a localização de um local ou uma data, porque é como se o diretor quisesse que nós víssemos uma essência atemporal do que seja ser adolescente, ter aspirações, ir à escola. O filme não é nunca anacrônico nem atual, mas transita constantemente entre os dois, com elementos quase sempre conflitantes e estranhamente funcionais.

O cinema de Anderson possui uma qualidade rara que é a capacidade de se mostrar extremamente cerebral no sentido da construção, onde se percebe com olhos atentos o cuidado com cada detalhe, que vai da movimentação de câmera ao mais sutil gesto dos atores, e os cuidados com o que se vê e ouve até mesmo no "background". Ao mesmo tempo, este detalhismo não se torna jamais frio, por causa do carinho e do arcabouço mítico com o qual o diretor trabalha, permitindo uma identificação constante do espectador com aquilo que assiste, por mais absurdo que possa parecer.

É como se os personagens trabalhassem fora da norma comum de comportamento social, mas aquilo que eles externam seja compreendido perfeitamente por se relacionar com o que todos sentimos. Rushmore é filmado como se visse o interior das pessoas, ultrapassando o limite do "real". Por isso consegue ser tão emocionante ao mesmo tempo em que é calculado e estranho. Trata-se de uma característica que assemelha em muitos pontos o trabalho do diretor com o dos irmãos Coen, que sempre trabalham com o conceito da "Americana" (a mitologia formadora de um imaginário comum de ícones norte-americanos) guiando seus filmes, que patinam no limite do mágico e do real, dos Estados Unidos entendidos em si mesmos como metáfora constante e um país que possui um tal arsenal imagético sobre si próprio que suas significações são necessariamente baseadas nele.

A sensação constante em Rushmore é que cada palavra e cada gesto dos personagens possui uma importância capital em suas vidas. E isso é especialmente adequado uma vez que o filme seja praticamente feio dentro da visão de seu protagonista, e aos 15 anos todos os atos e gestos têm esta força, tudo parece que vai durar para sempre e cada palavra de carinho ou rejeição possui proporções descomunais. Num momento o personagem de Bill Murray fala para Max: "Eu gastei 8 milhões de dólares para chamar a atenção dela!", ao que ele responde: "E isso é tudo que você está disposto a gastar?" Por conseguir capturar esta atmosfera onde amor, amizade, lealdade e rejeição são muito maiores e mais vitais do que em qualquer outro momento na vida, Rushmore é um dos maiores filmes americanos sobre esta idade, sobre esta condição chamada adolescência.