26.6.08

28/06 - Trem da Vida

Neste Sábado dia 28/06 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
Entrada Gratuita



Trem da Vida (Train de Vie)
Em 1941, um vilarejo na Europa Ocidental recebe o alerta de que os nazistas estão chegando para deportar todos os judeus. Quem dá a notícia é Schlomo, o bobo da aldeia, que é o único capaz de sugerir uma saída: os próprios habitantes irão forjar um trem nazista, interpretando eles mesmos os alemães, os maquinistas e os deportados. Antes da chegada dos verdadeiros nazistas, o trem parte com destino à Terra Prometida. Tudo vai conforme planejado, exceto pelo fato de que as encenações começam a ficar cada vez mais realistas. Os nazistas se tornam mais autoritários; os deportados começam a tramar uma rebelião contra seus falsos algozes, e outros se declaram comunistas, querendo lutar contra os fascistas, os burgueses e os imperialistas. Vencedor de inúmeos prêmios em todo o mundo, O Trem da Vida é um dos melhores filmes dos últimos tempos sobre o Holocausto. Tanto que teria servido de inspiração para Roberto Benigni realizar A Vida É Bela.
Atores Lionel Abelanski, Rufus, Clement Harari, Michel Muller, Agatha de La Fountaine,
Direção Radu Mihaileanu,
Idioma Francês,
Legendas Português,
Ano de produção 1998
País de produção França, Bélgica, Holanda,
Duração 103 min.
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Trem mais belo que a vida

Vander Colombo

O Trem da Vida de Radu Mihaileanu saiu cerca de meio ano depois de A Vida é Bela de Roberto Benigni. Pudera, o segundo tinha uma certa garantia de ganhar alguma coisa no Oscar daquele ano, principalmente depois que João Paulo II revelou ter chorado numa das exibições teste. Logicamente numa situação dessas é normal a antecipação e a pressa em lançar o filme a tempo de poder concorrer ao prêmio da academia. Resultado: três Oscar para a produção italiana, inclusive o estranho prêmio de melhor ator para o próprio Benigni, que para quem não conhece é uma espécie de “Didi” para adultos italiano.

Não se tire o mérito, A Vida é Bela é um filme bonito, mas um filme que não faz jus ao Holocausto. Aliás, como a maioria dos filmes que procuram tratar do tema aos moldes do cinema comercial. É o caso também de A Lista de Schindler de Steven Spielberg. Numa conversa com o roterista de Eyes Wide Shut (De Olhos Bem Fechados), Stanley Kubrick perguntava se lembrava de algum filme que já tivesse falado sobre o holocausto em Hollywood, o roteirista citou alguns nomes antes de citar Schindler, ao qual Kubrick devolveu: “Aquilo é um filme sobre o sucesso, não acha? O Holocausto é sobre 6 milhões de pessoas que foram exterminadas, A Lista de Schindler é sobre 600 que não foram. Mais algum?”[1]

A Vida é Bela, segue o molde do filme de mainstream, centralizando-se em uma família, que apesar das lágrimas é redentor. E como sabemos historicamente nenhum conflito onde uma etnia foi dizimada quase que completamente poderia ser redentora, alguém chamaria de redentora a história dos indígenas das Américas?

Agora você pode gostar ou não de Trem da Vida, porém este erro ele não comete, pois da mesma maneira que o filme italiano, ele injeta humor no assunto, embora seja um humor bem mais preso à História do que o humor físico do outro. Poderia se dizer que Trem da Vida é uma comédia que não desce sem engasgar.

A fita fala sobre judeus de uma pequena vila da Romênia que conseguem comprar um trem e planejam disfarçar-se de nazistas e fingir que levam os judeus para os campos de concentração, enquanto os conduzem à “terra prometida”. Numa comédia normal isso cairia facilmente em piadas chulas e quem sabe até anti-semitas, o que não acontece aqui, onde o respeito pela tragédia se mantém acima de qualquer riso, o que lhe rende uma reverência maior.

Ainda não “O” filme sobre o assunto, porém a arte apesar de seu poderio, por vezes pode sentir-se intimidada diante de assuntos aos quais nem mesmo se tem como explicar, ainda mais quando continuam acontecendo em menor escala e de maneira disfarçada, seja com os já citados indígenas, sem-terras, negros, homossexuais e "outros marginais".

O filme “Trem da Vida” será exibido neste sábado dia 28/06 às 19:30h no SESC Cineclube Silenzio. A Entrada é Gratuita.


[1] RAPHAEL, Frederic – Kubrick, De Olhos Bem Abertos – Geração Editorial – Pg. 103

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Trem da Vida: Identidades e Transposição de Fronteiras

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

laysedoardo@gmail.com

A perseguição nazista aos judeus é alvo de diversas abordagens, das ciências às artes, de forma que ultrapassa os fatos e reverbera-se, tal qual em Trem da Vida, como uma articulação entre subjetividades e juízos de valor. Neste caso, o mote é o embate entre as fronteiras identitárias dos dois grupos e o comportamento dos seus membros. Deste modo, identidade pode ser definida como um elemento capaz de determinar a posição dos agentes, e por esta razão, orientar também suas representações e escolhas, de forma que é elaborada em uma relação que opõe um grupo aos outros que este mantém contato.

Não há identidade em si nem para si, pois ela somente existe em relação a uma outra. Ou seja, a identificação é ao mesmo tempo diferenciação, pois na tentativa de participarem ativamente e de forma estável na multiplicidade cultural, os membros do grupo exprimem em seus comportamentos, características próprias e, no mais das vezes exclusivas, buscando uma autenticidade visível. A reunião em grupos então, que é regra básica para uma existência completa do indivíduo, rotula e exige, conforme a atuação diante do diferente, um comportamento determinado por estruturas maiores, tais como a moral, religiosa e cultural – no sentido de apreensão de mundo – para que este seja considerado pertencente e participante do grupo que considera como seu.

Identificar-se e ser identificado faz parte do primeiro acesso à uma identidade grupal caracterizando o pertencimento de semelhantes, quando há necessariamente a apropriação e/ou fixação de diversos símbolos identitários de reivindicação. Ou seja, o grupo define normas de conduta, comportamento e apresentação que deverão ser seguidas por todos aqueles que desse fazem parte, podendo assim, ser distinguido e distinguir-se diante de “não semelhantes”, fazendo deste processo o ponto crucial da dicotomização Nós/Eles. Por fim, estes três artifícios, se fazem completos com o realçamento de traços étnicos por saliência na interação, quando os indivíduos ou grupos em contato demonstram suas características distintivas para imporem-se enquanto grupo.

Estes critérios estipulados pelo grupo, internalizados e expressados pelos indivíduos pertencentes, denotam e identificam impressões categóricas de classificação recorrentes à pessoas de uma mesma matriz cultural. Cabe então ao grupo desenvolver e manejar os mecanismos, que são simbólicos na maioria das vezes, utilizados para este afastamento dos indesejáveis, estabelecendo critérios exclusivos, entre eles cor, língua, vestimentas. E no caso de o Trem da Vida, insígnias, fardas e quepes.

17.6.08

21/06 - Alphaville (Jean-Luc Godard)

Neste Sábado dia 21/06 às 19:30h
no SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA

Alphaville (Alphaville, une étrange aventure de Lemmy Caution, França, Itália, 1965)
Títulos Alternativos: Agente Lemmy Caution, missione Alphaville / Alphaville / Alphaville, a Strange Adventure of Lemmy Caution / Alphaville, a Strange Case of Lemmy Caution / Dick Tracy on Mars / Tarzan vs. IBM
Duração: 99 min.
Diretor(es): Jean-Luc Godard
Roteirista(s): Paul Éluard, Jean-Luc Godard
Elenco: Eddie Constantine, Anna Karina, Akim Tamiroff, Valérie Boisgel, Jean-Louis Comolli, Michel Delahaye, Jean-André Fieschi, Christa Lang, Jean-Pierre Léaud, László Szabó, Howard Vernon
Sinopse: Título: Alphaville. Sinopse: "Uma fusão inteligente de ficção científica, personagens de H.Q., e poesia surrealista; uma viagem irreverente de Godard na misteriosa Alphaville, que permanece como um dos melhores filmes convencionais de todos os tempos. Eddie Constantine estrela como o herói intergalático Lemmy Caution, com a missão de matar o inventor do computador fascista Alpha 60. Uma missão nada fácil, porque a sinistra comunidade é controlada despótica e cuidadosamente pelo supercérebro eletrônico."
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Tarzan contra a IBM

Vander Colombo

Godard já foi o maioral. Na década de 60 o diretor francês figurava entre os maiores artistas do mundo, a Nouvelle Vague ainda estava em seus anos áureos, e principalmente todos os seus colaboradores trabalhavam juntos. Sendo assim um exemplo como Acossado que tinha Godard na direção, Truffaut no roteiro e Chabrol na fotografia, não seria mais visto com tanta facilidade.

Mas graças ao sistema de Home Vídeo é possível no mundo cinematográfico fazer viagens no tempo e voltar a épocas onde tudo no cinema francês era perfeito, e essa viagem ao passado vai de encontro à viagem ao futuro de Godard, Alphaville, considerado por muitos, um dos melhores filmes do diretor e um dos melhores do gênero.

Alphaville é uma mistura de ficção científica com filme noir; uma mistura de Foucalt com Marx, Orwell e Aldous Huxley; de filme político com comédia social ácida.

O detetive Lemmy Caution chega a Alphaville um planeta onde as pessoas são proibidas de ter sentimentos, e que é governado por um robô ditador chamado Alpha 60 que mantêm seu totalitarismo emburrecendo a população. A missão de Caution então é convencer o criador da máquina a desligá-la.

Com essa trama simples, Godard se viu livre para fazer todo e qualquer tipo de crítica não a uma sociedade futurista, mas a de 1965 até hoje. Alpha 60 poderia ser visto como um ditador humano, ou como a televisão nos dias de hoje, o que o deixa mais atual que nunca. Há críticos que dizem que Alpha 60 foi uma profecia para o que conhecemos hoje como MTV. Não deixa de ser um paralelo curioso e com suas razões, pois o filme segue justamente este tipo de humor cáustico, poupando poucos e expandindo sua fúria às proeminentes ditaduras direitistas que estavam acontecendo aos poucos sob o aval dos Estados Unidos. Justamente por isso não é à toa que os nomes próprios do filmes provêm da língua inglesa apesar do filme ser falado em francês.

Para criar esse futuro, Godard não foi muito longe, Alphaville é a Paris dos anos 60 com robôs jogados aqui e ali, ao invés de tentar fazer efeitos especiais sem dinheiro, o que era comum ao cinema sci-fi da época. Godard preferiu utilizar a cor, ou a falta dela, para além do dito, intensificar o choque com o mundo futurista e tecnológico.Sendo assim, usou pouquíssima luz, trabalhando com zonas de branco estourado e negro absoluto (fazendo uma bela referência artística ao código binário), ao invés do cinza, caro à Hollywood.

Utilizando-se de uma linguagem complexa em sua simplicidade que em nada lembra a verborragia intelectual masturbatória usada em seus últimos filmes, Godard parecia ainda na época lembrar que sua mensagem só teria sentido se absorvida pela massa, e não elitizada à doutores letrados que somente a remasturbam fazendo-a extinguir-se em sua própria intenção, num repelente círculo vicioso.

Godard já foi sim, o maioral. Iniciou uma das melhores fases da cinematografia brasileira com Rogério Sganzerla, Carlos Reichenbach e Julio Bressane, entre Glauber e Person que já tentavam manter o cinema político vívido no cenário nacional. E que falta faz Godard quando este mesmo cenário hoje está repleto de um comercialismo torpe, de um fascismo disfarçado em ação pueril aclamado por uma crítica despreparada que iniciou sua caça às bruxas aos títulos com viés na crítica social, e que por sua vez, infelizmente perdeu seu guru para o próprio ego deste.

O filme Alphaville será exibido neste sábado 21/06 às 19:30hs

No SESC Cineclube Silenzio

A entrada é gratuita.

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“Sorria, você está sendo filmado”

Mecanismos de Controle Social

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

laysedoardo@gmail.com

“O preço da liberdade é a eterna vigilância”

Thomas Jefferson

Embora resistindo de alguma forma aos processos disciplinatórios, o indivíduo é condicionado pelas estruturas sociais, haja vista o fato de que a socialização, prescritivamente, acaba prevendo determinadas escolhas dentro de um rol pré-estabelecido para o sujeito. Este sujeito escolhe, igualmente, uma determinada ação e sob as regras institucionais e disciplinas diluídas, sofre as conseqüências por aquelas. Sendo neste sentido, ‘livre’ para agir ainda que coagido pela sociedade como um todo. Deste modo, compreender as relações de poder diluídas na sociedade vai muito além de apenas considerar o papel das instituições, de grandes grupos legitimados ou do Estado, por exemplo. Implica em reconhecer o fato de que há um construto coercitivo que influencia escolhas e direcionamentos pessoais do indivíduo desde o seu nascimento, de forma que se utilizando de mecanismos violentos ou não, capacitam o homem a viver em conjunto com os demais.

Hoje, a socialização, ou seja, o processo pelo qual o homem é inserido de fato no relacionamento com os demais e que se realiza durante toda a vida, se configura a partir de mecanismos de controle responsáveis pela virtualização das ações de violência legítima antes empregadas. Ora, enquanto o poder era realizado através da detenção de determinados saberes, como no caso do papel desempenhado pelos intelectuais universais colocados por Foucault na Microfísica do Poder, hoje se realiza pela manipulação de um pode disseminado que dá a falsa impressão da possibilidade de detenção de saber por todos. Ou seja, a partir da especialização e da formação continuada daqueles condicionados pelas instituições de ensino, há um falseamento da instância individual, de forma que a potencialidade do acúmulo de conhecimento realiza-se em conformidade com redes de dominação, que paralisam o sujeito diante de um controle virtual e não mais visível.

A vigilância constante e invisível constituída como um poder múltiplo, automático e anônimo em que até os fiscais são fiscalizados, permite que o indivíduo tenha uma falsa idéia de liberdade, de modo que, não havendo mais, tão explicitamente, a imposição aos corpos dóceis, embora sim, por outro lado, o controle diluído em instâncias que aparentemente conduzem à livre escolha (com a consciência da existência de algo ou alguém onipresente). Questões como semiliberdade assistida, internação domiciliar, ensino à distância e a política dos colaboradores nas empresas, acabam imprimindo nas concepções vigentes sobre tais mudanças e políticas públicas, a impressão de democratização, respeito aos direitos humanos e participação efetiva nas instâncias “maiores” da vida em sociedade.

Desta forma, considerar as manifestações de poder, faz com que, necessariamente se considere as relações entre o sujeito, a verdade e a constituição da experiência - tal qual coloca Foucault - tendo em mente a realização objetiva de tais relações de forma descentralizada, ou seja, diluídas no seio social, ultrapassando a instância do direito jurídico-legal, numa realização permanente de dominação, vigilância e normatividade nos microcosmos de convivência.

Por fim, é até possível dizer, ao contrário do que prediziam Aldous Huxley e George Orwell sobre regimes centralizados que monitorariam a população, que estamos sujeitos à uma condição geral de vigilância, de modo que voluntariamente acabamos por entregar “aos fiscais” todas as informações pessoais possíveis. Com a tecnologia disponível hoje, é possível recuperar relatórios individuais, desde as ligações telefônicas realizadas até o trajeto percorrido pelo automóvel ao vir para casa, além de outros, para não citar inconvenientes maiores como das paredes que tem olhos e ouvidos.

Igualmente, não é nenhum exagero dizer que tal poder-controle, realizado pelo computador Alpha 60 em Alphaville, por HAL 9000 em 2001: Uma Odisséia no Espaço e pelas câmeras do “sorria, você está sendo filmado” em todo o espaço público, assemelha-se à figura do Deus Todo-Poderoso – onipresente e onipotente – que não se manifesta fisicamente, embora realize sua justiça sobre a torre do Panóptico, (idealizado pelo filósofo Jeremy Bentham ainda no século XVII), responsável por fazer com que, tal qual colocado por Foucault “o criminoso não saiba se está sendo vigiado, mas sinta que possa estar sendo”.




10.6.08

14/06 - Amém (Costa-Gavras)

Neste Sábado dia 14/06 às 19:30h
no SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA

TÍTULO: AMÉM.
DIRETOR: Costa-Gavras
ARTISTAS: Michel Duchaussoy | Antje Schmidt | Frederick Von Thun | Ulrich Muhe | Hanns Zischler | Ulrich Tukur | Marcel Iures | Mathieu Kassovitz | Ion Caramitru
IDIOMA: Inglês
PAÍS DE PRODUÇÃO: FRANÇA
LEGENDA: Português
FORMATO DE TELA: Widescreen
TEMPO DE DURAÇÃO: 132 MINUTOS

SINOPSE
Durante a 2ª Guerra Mundial, um oficial da SS, desenvolve um produto para tornar mais eficiente a limpeza de tanques. Seu produto, porém, é utilizado para matar os judeus nos campos de concentração. Horrorizado, ele procura o jovem padre Ricardo Fontana que, sendo de família influente, poderia solicitar a interferência do Papa Pio XII para impedir o genocídio dos judeus. Nessa trama se desenrola toda a saga desses dois jovens, um movido pela culpa outro pela consciência e toda a intensa luta para salvar milhões de judeus. Ao mesmo tempo a situação cria a polêmica que persegue a igreja católica até hoje: Qual seu papel na 2ª Guerra ou como é possível ser cristão e nazista? Amém é considerado por muitos como um filme mais polêmico do que a "Paixão de Cristo" de Mel Gibson. O simples cartaz do filme na França provocou protestos e processos na justiça por católicos fervorosos e apesar disso e de ser um filme falado em inglês, ganhou na França o Cesar (Oscar Francês) de melhor roteiro . Dirigido pelo vencedor do Oscar, Costa-Gavras (Missing-Desaparecido, Um Grande Mistério), Amém é um filme intenso, provocante, histórico e que discute corajosamente a relação polêmica entre o Vaticano e o III Reich.

Em nome do que?

Vander Colombo

O grego Costa-Gavras jamais tentou seguir outro caminho que não o do cinema político, porém com um diferencial: a política é tratada como fenômeno e não como partidarismo, ou seja, vista sob o viés dos efeitos que as idéias políticas provocam. Em 69 o mundo se rendia a um filme chamado Z, que chegou a concorrer como melhor filme e melhor filme estrangeiro no Oscar, ganhando o segundo. Este que tratava sobre a ditadura recente da Grécia sem meias-palavras, passando por cima de qualquer anistia que posteriormente fosse defender seus carrascos com uma simples frase que começava o filme: “Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais, não é uma coincidência, é intencional”.

Notava-se já aí a tremenda capacidade de direção agressiva que o diretor tinha.

Passou a vida criticando duramente as injustiças de ditaduras e totalitarismos (inclusive no Brasil, em Estado de Sítio), até em 2002 fazer um filme que finalmente abordava o silêncio da Igreja Católica perante o extermínio de judeus pelo nazismo na II Guerra Mundial. O filme intitulado Amém. com um ponto final, já resumia a intenção de uma certa benção silenciosa ao que acontecia em Auschwitz e tantos outros campos de concentração. Mas antes mesmo do filme, a maior polêmica partiu do cartaz, feito por Oliviero Toscani, o responsável pela campanha da Bennetton, onde se via uma cruz fundida à suástica que dava entender uma união entre Igreja e nazismo pelo extermínio dos judeus. O filme como se esperava foi duramente criticado pelo Vaticano antes mesmo de estrear, e quando estreou, quem “desceu a lenha” foram os críticos.

Esperava-se um grito irado, esbravejado, esperava-se que Costa-Gavras babasse ódio em cima do fato, mas o que ele fez foi contar uma história de caráter humano nos velhos moldes cinematográficos. E não errou. A intenção da história, ao contrário das anteriores, não era dedicada aos militantes políticos, ou mesmo àqueles que se envolviam com o fato diretamente, mas aos próprios católicos que deveriam se envergonhar da barganha de poder que ocorreu na época. O fato é que a Igreja Católica teve a maior chance de ser perdoada pelos pecados da Idade Média, posicionando-se contra o Holocausto numa época que a mídia não era organizada cujo ato colocaria toda uma nação religiosa contra os abusos da Alemanha, mas por medo e acordos políticos, não abraçou essa chance única.

Ora, como se o fato de Costa-Gavras não ter esbravejado e ter escolhido uma narrativa clássica sem recorrer a técnicas pós-modernas não fossem indícios de sua maturidade cinematográfica. Pois assim como em algumas outras áreas, no cinema, fazer o simples bem feito é bem mais complicado do que fazer um filme repleto de movimentos desconexos de câmera aliado a um roteiro pra lá de rebuscado, porém insosso, em busca de uma auto-aceitação no hall dos diretores moderninhos. Nas palavras de Schopenhauer: “é fácil identificar um medíocre afetado: eles geralmente tentam enganar escondendo conceitos triviais atrás de simbolismo baratos, sofismas e profusões de palavras”.

Há muitos diretores que já quebraram a cara feio, ao tentar, sem sucesso, fazer um filme simples aos velhos moldes, caindo quase sempre em pântanos de clichês ou senão simplesmente no vasto mar daqueles que não tem nada a dizer. É como um matador, para utilizar-se de um exemplo piegas, pois atirar com uma arma de fogo qualquer um é capaz, agora usar uma pequena faca sem ser visto não é bem assim.

Em Amém. Costa-Gavras usa a faquinha, não é um completo espadachim com ela, mas com certeza dá conta do recado. Antropomorfizando os conflitos em figuras centrais, ele começa a história com o oficial nazista especializado em higienização, Kurt Gerstein, que acabara de criar um produto capaz de deixar a água potável em pouco tempo. Ele investiga o porquê sua sobrinha portadora de doença mental havia sido morta na câmara de gás. Durante a investigação descobre que os judeus mandados para deportação estão sendo exterminados, fato que ele desconhecia. Kurt volta para Berlim disposto a entregar o esquema e fazer o povo se rebelar contra o governo de Hitler. Todavia, ninguém lhe ouve e o único apoio vem da Igreja Protestante que freqüenta, a qual admite que somente o Vaticano teria algum poder para fazer recuar a situação. A única pessoa dentro da Igreja Católica disposto a ajudá-lo é o padre jesuíta Riccardo Fontana, que tem a ingrata missão de convencer seus líderes e finalmente ao Papa Pio XII a tomar alguma atitude.

Assim Costa-Gavras continua tratando o fenômeno como tal, sem deixar de citar que o Vaticano, sim, salvou alguns judeus na época, principalmente os que se convertiam (literalmente salvando suas almas), e também dos temores da Igreja em que os católicos começassem a sofrer também, no caso de um posicionamento. Revelando ainda ter um faro muito afiado para o tema quando dirige - mesmo sendo um péssimo presidente de júri de festivais internacionais, revelando uma incompreensão total do tema ao eleger o vencedor do Urso de Ouro deste ano em Berlim.

Mesmo assim ele ainda merece votos de confiança.

O filme Amém. será exibido neste sábado dia 14/06 às 19:30h

No SESC Cineclube Silenzio

A entrada é gratuita.

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Religiosidade Institucional e Laicização

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

laysedoardo@gmail.com

Um Estado político, onde alguns indivíduos têm milhões de rendimento enquanto outros morrem de fome, poderá subsistir quando a religião deixar de lá estar com as suas esperanças noutro mundo, para explicar o sacrifício?

François Chateaubriand

Penso que falar de tal tema citando expressões tais como “A religião é o ópio do povo” anunciada por Marx ou “neurose coletiva” por Freud, mesmo que cada qual enunciadas com pertinentes justificativas, trata-se de um lugar comum na discussão do fato, e também desconsideração de fatores relevantes que ultrapassam a existência ou não de algum tipo de religiosidade na vida das pessoas. Assim, considerar a religião, tendo como referente Amém. de Costa-Gavras, implica no tratamento da instituição religiosa e de todos os ordenativos constituintes deste corpo social. Tal instituição, bem como a escolar, a moral, entre outras, funciona com uma racionalidade digna de qualquer grande retórico, haja vista o fato de haver imposições naturalizadas que são tomadas como verdade pelos indivíduos que são sujeitados pelas mesmas.

Tendo em vista a presença constante de perguntas sobre o sentido da vida, início e fim do mundo e pela iminência permanente da morte, friso novamente que afora a questão de haver ou não a necessidade de crenças religiosas para que haja, por sua vez, um equilíbrio na vivência dos homens, há um aproveitamento da fidelidade dos seus realizada por parte de alguns grupos religiosos, de modo que o submetimento daqueles às regras e normas, fazem-se algumas vezes bastante rigorosas e utilitárias para as instituições. E isso me parece ser o foco do problema.

Como já falado em outras ocasiões, as tradições são vivenciadas e mantidas por meio de coações implícitas e explícitas que vão desde a normatividade expressa por regras, que se quebradas, excluem membros, até determinações que causam o chamado “mal-estar da civilização” discutido por Freud. Consequentemente, esta coerção externa, por parte do grupo, ou interna, por parte do próprio sujeitado, realiza a manutenção de elementos presentes na tradicionalidade institucional. No caso da religião, independente de sua orientação, embora o caso discutido por Costa-Gavras situe-se sobre o catolicismo, estas imposições estão pautadas numa punição bastante severa que vem diretamente de Deus, ou seja, a entrada ou não no Reino dos Céus e/ou a evolução espiritual que garante o êxito na superação do medo da morte, e que, ainda, segundo o que tenho falado, faz-se principio ativo de tais crenças.

A respeito a tais regras que têm como premissa o fornecimento de arsenal para que se alcance o objetivo posto acima, a grande questão entra em cena quando tal processo realiza-se de modo homogêneo para todos os membros sujeitados. Um exemplo disso são as imposições postas sobre o comportamento da família, uniformemente dispostos, para alguns recortes que não se encaixam em tal perfil. Aliás, como é possível que algumas entidades assistenciais que atendem crianças e adolescentes ou abandonados ou retirados da família por abusos e violência, forçam as mesmas a respeitar o mandamento bíblico “Honrar pai e mãe”? Se em todo caso, os mesmos são educados em tal orientação, com o objetivo de serem inseridos em uma outra família, realizando tal normativa, embora saibamos que muitas crianças chegam a atingir maioridade em tais abrigos, sem nunca serem adotadas, como se realiza tal processo para tais, com este distanciamento absoluto entre realidade e norma?

Tal problemática se apresenta em muitas outras situações, principalmente no que diz respeito à confusão que ainda existe no Brasil (embora este seja constitucionalmente um Estado laico) sobre questões de políticas públicas que se transformam em afrontas morais, entre elas o aborto e o uso de preservativos, e relações “ilegítimas”, por exemplo, de modo que a tomada de decisões políticas são condicionadas pela normatividade institucional da moral religiosa. Até o momento ainda são visíveis os dados referentes aos resultados de tais questões, de forma que o imperativo religioso acaba fundamentando tais decisões em nome, muitas vezes, da aceitação popular do governo que as realiza.

Por isso, é preciso dizer novamente que as crenças são livres e devem ser exercidas pelos indivíduos de maneira que cada um desejar. Todavia, para concluir, as imposições das instituições religiosas devem manter-se em sua jurisdição, afronteiradas tanto pelos seus membros, quanto pelos personagens legislativos, que devem zelar, por sua vez, pela laicização do Estado, já existente há alguns séculos na história da humanidade.

4.6.08

07/06 - O Casamento de Muriel (P.J. Hogan)

Neste Sábado dia 07/06 às 19:30h
no SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA

O Casamento de Muriel (Muriel's Wedding)
Menosprezada pelo pai e rejeitada por suas amigas, Muriel é uma jovem cujo sonho de realização e sucesso pode ser traduzido em uma única palavra: casamento. Em sua luta para ser aceita e escapar de sua triste rotina, ela tenta de tudo. Para aliviar os momentos de frustração, faz das músicas da banda Abba seu refúgio contra a solidão. O que ela ainda não sabe é que grandes surpresas, alegrias e fortes emoções estão à sua espera nesta deliciosa e nada convencional comédia que, acima de tudo, celebra a amizade, os sonhos e a busca pela realização pessoal. Um filme de grande sucesso de público e crítica, que revelou ao mundo o diretor P. J. Hogan (O Casamento de Meu Melhor Amigo, Peter Pan 2000) e a atriz Toni Collette (O Sexto Sentido e Connie e Carla, as Rainhas da Noite).
Gênero Comédia
Atores Toni Collette, Rachel Griffiths, Jeanie Drynan, Gennie Nevinson Brice, David Van Arkle, Lapaine Tania, Steve Smith, Genevieve Picot, Daniel Lapaine, Rob Steele, Richard Morecroft, John Walton,
Direção P. J. Hogan,
Idioma Inglês,
Legendas Português
Ano de produção 1994
País de produção Austrália,
Duração 105 min.

Os Casamentos de P.J. Hogan

Vander Colombo

Em plena era de contestações diretas e sem rodeios, alguém ainda se incomodaria em disfarçar suas idéias em glacês de gênero? P.J. Hogan sim, o australiano que deu vida à última versão do clássico Peter Pan, sempre esteve ligado à contracultura, apesar de seus filmes serem um misto entre a comédia romântica e o melodrama - ainda que poucos saibam disso e prefiram a facilidade de encaixá-lo como apenas mais um no cinema hegemônico.

Quando Hogan (marido da também cineasta Jocelyn Moorhouse do suspense “A Prova”) dirigiu O Casamento do Meu Melhor Amigo já com elenco estrelar, poucos sabiam que ele já havia falado de um outro casamento antes disso, o de Muriel. O filme que se chama justa e simplesmente O Casamento de Muriel está mais para os filmes da fase sueca de Lasse Hallstrom, ou os de Todd Haynes do que para os filmes com Julia Roberts.

Muriel é a filha mais nova de uma família completamente hedionda, o pai, um político pilantra e adúltero, a mãe no limiar da insanidade e os filhos vagabundos, sustentados pelos desvios e subornos do primeiro. Digamos que Muriel, gorda, feia, cleptomaníaca e obcecada por casamentos é a mais normal deles.

Magnificamente interpretada por Toni Collete (O Sexto Sentido) em começo de carreira, é na vida de Muriel que nos fixamos e em sua já citada obsessão que a leva numa viagem a Sidney, onde os rituais de casamento servirão de alegoria para sua busca pelo autoconhecimento.

O modo de tratamento de Hogan, diferentemente do filme posterior, foi num clima brega assumido, para não ser apenas uma crítica a própria instituição do casamento, bem como aos padrões femininos de classe e beleza, ao ponto que paralelamente, o foco e a heroína são mulheres, a vilania é também em maior parte feminina.

Tudo bem que os tempos mudam e o que era brega, é hoje pós-moderno, como o fato de inserir ABBA na trilha sonora. Mas digamos por cima que O Casamento de Muriel é um exagero, todas os maiores hits do quarteto estão no filme e não gratuitamente. É certo que a subversão de Hogan é matemática e embalada em conceitos moralistas, o que o deixa ainda mais interessante. Assim como Frank Zappa na música, Hogan critica usando a língua do criticado, e o melhor de tudo, hoje em dia, financiado pelo próprio.

Você vai pensar, o que Hogan tem de subversivo hoje em dia fazendo Casamento do Meu Melhor Amigo e Peter Pan? Bom, seja pelo fato do personagem de Ruppert Everett ser de longe a figura mais sexy num mesmo filme que estão Julia Roberts e Cameron Diaz, (o que no meu caso como heterossexual me deixa no ponto certo de voltar a ler Freud) e pelas insinuações alegóricas de romance incestuoso num filme com linguagem infantil, creio que se poderia chamá-lo de subversivo, no melhor dos sentidos.

E é bom que se continue assim, Hogan não é um nome que figura no primeiro escalão hollywoodiano. É apenas mais um, porém é o que está mais perto da geração que deu gás a Cidade dos Sonhos na década de 70, como Scorsese, Copolla, Woody Allen entre outros; trabalha com orçamentos nem modestos nem grandiosos, tem um público lucrativo e nas entrelinhas destila seus venenos.

O cinema se não subversivo, não serve para mais nada senão entretenimento descartável. A comunicação massiva tem seus deveres que vão de encontro a desalienação e o “pensar diferente” de seu público, os EUA e mesmo o Brasil a usam como ferramenta de política e violência lobotomizada, então, nada melhor do que alguns lá no meio darem a entender pelo menos, que a coisa não é bem assim. Se eles pagarem, melhor ainda.

O filme “O Casamento de Muriel” será exibido neste sábado

dia 07/06 às 19:30h

no SESC Cineclube Silenzio

A entrada é gratuita.

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Casamento: Mulher e o Papel de Gênero

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

laysedoardo@gmail.com

Casamento é o destino tradicionalmente oferecido às mulheres pela sociedade. Também é verdade que a maioria delas é casada, ou já foi, ou planeja ser, ou sofre por não ser.

Simone de Beauvoir

Creio que o grande mote de O Segundo Sexo da filósofa Simone de Beauvoir, esposa do também filósofo Jean-Paul Sartre, seja a famosa frase: “Não se nasce mulher: Torna-se”. Em dois volumes, a autora, mesmo com todas as críticas antifeministas da qual é vitima, consegue dar vistas na construção histórica do papel social da mulher na sociedade moderna, reconstituindo todo o processo de edificação das regras de comportamento exigidos pela sua condição. Ou seja, e com maestria, diga-se de passagem, a autora relaciona sentidos e causalidades de comportamentos que hoje são naturais, e por isso, cobrados das meninas desde a pré-escola.

Um pouco disso pode ser visto na discussão sobre as castrações que a menina sofre desde pequena, ao ser proibida de fazer xixi em pé como os meninos ou de brincar sem roupas junto com eles, por exemplo. A autora discute tais fatos, logicamente levando em conta que os livros foram escritos em 1949, considerando que a menina ao ter de portar-se em conformidade ao vestido de seda ou organza que veste, cuidando sempre da higiene e limpeza do mesmo e da manutenção de seu penteado, faz-se com o tempo, literalmente um sujeito limítrofe, artificial. De modo que o comportamento que a obriga a sentar-se ‘direito’ para que a menstruação não apareça sob o vestido claro, confunde-se historicamente com os bons modos exigidos pela sua condição.

A partir daí, fica fácil deduzir o papel da mulher na instituição do casamento, pois de fato, para Beauvoir “não são as pessoas que são responsáveis pelo falhanço do casamento, é a própria instituição que é pervertida desde a origem”, haja vista o fato de que ainda, apesar da reconstrução virtual do gênero em torno do trabalho e da liberação sexual constituir a mulher como um indivíduo pleno vivendo em sociedade, tal qual o homem, tem-se o desejo de uma mulher que saiba dar conta de suas obrigações como esposa e mãe dentro do lar. Desta forma, “o casamento incita o homem a um imperialismo caprichoso; a tentação de dominar é a mais universal, a mais irresistível que existe; entregar o filho à mãe, entregar a mulher ao marido é cultivar a tirania na terra”.

Por outro lado, reciprocamente, há uma entrega não deliberada por parte da esposa, que embora deseje sua autonomia, muitas vezes satisfaz-se diante de seu empenho. As jornadas duplas, triplas, quádruplas... da qual a mesma é refém tornam-se objeto de orgulho da sua capacidade, de forma que o casamento, como uma união através do amor, rende, sem dúvida, um aglomerado de papéis sociais (todos estes incluídos no papel de gênero) cumpridos em nome de valores matriarcais na gestão de uma família patriarcal.

Para Beauvoir, “é certo que o papel sexual da mulher é, em grande parte passivo; viver imediatamente essa situação passiva não é tão masoquista como a atividade do macho é sádica; a mulher pode transcender as carícias, a comoção, a penetração para o seu próprio prazer…; ela pode também procurar a união com o amante e entregar-se-lhe, o que significa uma superação de si e não uma abdicação.” De mesmo modo, a função de mãe, principalmente no cuidado e na educação dos filhos, constituindo-se como objetivo mor da existência feminina, caracteriza-se também, de algum modo, como uma submissão.

Como ressalva, e levando em conta que Simone de Beauvoir também foi casada, é preciso levar em conta que ao escrever os livros, sua intenção era a de promover uma reconstituição da mulher como sujeito, tal qual ela mesma se colocava. A própria autora, na introdução de O Segundo Sexo coloca que deseja ser imparcial, olhando objetivamente a condição existencial das mulheres, de modo que as acusações e as críticas à submissão da qual a mulher é vitima não são nenhuma novidade, ainda mais nos dias de hoje, para as mulheres que pensam sua condição. Portanto, e considerando que, independente de ser uma construção histórico-cultural, toda mulher deseja se casar, e que em toda “ligação, ao estabilizar-se, acaba por assumir freqüentemente um caráter familiar e conjugal; [sendo que] nela se reencontram o tédio, o ciúme, a prudência, o ardil, todos os vícios do casamento”. Entretanto, toda mulher ainda pode, tal qual coloca a autora, retornando ao escopo do seu papel, sonhar “com outro homem que a tire dessa rotina”.