12.11.07

Brazil, O Filme (Terry Gilliam) 1985

NESTE SÁBADO 17/11
no SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA



Brazil - O Filme (Brazil, 1985) »
Direção: Terry Gilliam»
Roteiro: Terry Gilliam,
Tom Stoppard
» Gênero: Ficção Científica»
Origem: Inglaterra»
Duração: 131 minutos»

Elenco ::.

- Ator/Atriz
Personagem
- Robert De Niro
Archibald

- Peter Vaughan
Sr. Helpmann

- Ian Richardson
Sr. Warrenn

- Michael Palin
Jack Lint

- Bob Hoskins
Spoor

- Katherine Helmond
Sra. Ida Lowry

- Jonathan Pryce
Sam Lowry

- Jim Broadbent
Dr. Jaffe

- Ian Holm
Sr. M. Kurtzmann

- Kim Greist
Jill Layton




Terry Gilliam é um diretor complexo. Ou melhor: Terry Gilliam é um diretor de filmes complexos. Mas não só de filmes complexos também. É dele o filme considerado a melhor comédia de todos os tempos por muitas pessoas e críticos: Monty Python em Busca do Cálice Sagrado, talvez o filme do gênero que mais inspirou outros diretores em todos os tempos. Monty Python não é um filme complexo, mas mesmo assim é um filme altamente diferenciado. O diretor também fez o estranhíssimo (e também complexo) Os 12 Macacos, e seu filme mais recente é o esquisitão Medo e Delírio, uma viagem alucinante (ou seria alucinógena?) ao mundo das drogas.

Para este ano, Gilliam já está pré-produzindo (e vai dirigir) Good Omens. Se não ocorrer nenhum imprevisto, o filme deve chegar lá pelo final do ano nos Estados Unidos. Dificilmente vai conseguir, produções desse tipo geralmente são complexas (ops, de novo!). Good Omens é – adivinhem só! – outro filme com uma premissa bizarra: é uma fantasia sobre o Armageddon, com o anti-cristo chegando ao planeta na forma de um bebê. Vai dar o que falar... Bem, esse foi um resumo totalmente supérfluo da carreira de diretor de Terry Gilliam, mas é necessário para as pessoas entenderem o que estarão esperando caso resolvam aventurar-se no filme que é considerado a sua obra-prima até o momento: Brazil - O Filme!

Do nosso país, nosso querido Brasil, o filme tem muito pouco. Apenas a trilha sonora tem relação com ele. Pra ser mais exato, a música-tema do filme é a Aquarela do Brasil, clássico composto por Ary Barroso. De resto, não há nenhuma outra referência a nosso país. A história – uma ficção científica futurista e bastante fantasiosa – é sobre uma sociedade estranhíssima (assim como em 12 Macacos), depressiva, infeliz, altamente alienada por burocracia. Em Brazil, o mundo criado por Gilliam é ainda mais importante que seus personagens, embora estes sejam muito interessantes.

O clima do filme é escuro, depressivo, tedioso. O mundo é um completo caos. Se você acha as grandes metrópoles do início do novo milênio caóticas, espere para conhecer o mundo retratado em Brazil. Gilliam teve a felicidade de, mesmo criando um mundo futurista fantasioso, já em 1984, quando produziu o filme, prever vários aspectos que hoje são comuns à nossa sociedade (mesma coisa que Kubrick fez em Laranja Mecânica), como o individualismo do homem, e até mesmo a convivência diária com vários atentados terroristas.

Sim, os atentados são o grande problema do momento da sociedade de Brazil, e Sam Lowry, nosso protagonista (finalmente chegamos nele), que acabara de receber uma promoção para um departamento mais importante no governo, onde cuida da burocracia (ele e seus companheiros de trabalho devem lidar com milhares de papéis, num ambiente intoxicante), acaba se envolvendo com a mulher de seus sonhos, que é uma terrorista (ou no mínimo parece uma). Durante boa parte do filme, Gilliam exibe cenas absolutamente bizarras de Sam sonhando com essa mulher, perseguindo-a pelos céus com um grande par de asas, porém sempre sendo impedido pelos seus comandantes (simbolizado pelo grande samurai), que querem dele apenas trabalho, trabalho, e mais trabalho. Como em outros filmes de Gilliam (e como em filmes de David Lynch também) as cenas “estranhas” podem ser interpretadas de várias maneiras, esta apresentada é apenas uma delas.

Mas ainda tem mais história pra contar: enquanto trabalha e continua tendo seus sonhos esquisitos com a tal mulher, um funcionário acaba, acidentalmente, cometendo um erro de cadastro. O fugitivo da polícia Tuttle acaba tendo seu nome trocado para Buttle por causa de tal acidente, e Buttle, cidadão pacato e inocente, acaba sendo preso no lugar de Tuttle. Tuttle é interpretado por Robert De Niro, em um papel estranhíssimo. Ele e Sam acabam se encontrando várias vezes em situações bastantes esquisitas (pra variar).

Criar uma sinopse para Brazil é dos trabalhos mais difíceis que existem. O filme é tão “diferente”, com sua história tendo tantos detalhes anormais, que fica difícil entendê-la sem ver o filme (bem, mesmo vendo ele não é a coisa mais fácil de de entender). O filme ainda conta com uma galeria grande de personagens interessantes, como a mãe de Sam, que está com o rosto incrivelmente esticado de tanto fazer cirurgias plásticas; e o Sr. Kurtzmann, interpretado por Ian Holm (o Bilbo de O Senhor dos Anéis – a trilogia), que não quer perder o seu eficiente funcionário Sam para outro departamento.

De não tão fácil assimilação, o principal que fica depois de se assistir Brazil – O Filme, é a mensagem que Gilliam nos passa, de um futuro, mesmo que fantasioso no filme, possível em vários pontos (alguns deles já existentes, como já foi citado). Não há muito o que uma pessoa, sozinha, possa fazer para evitar que mais aspectos negativos do filme se tornem realidade, mesmo assim, vale a pena fazer a sua parte. Espero apenas que no mundo real, no futuro, não haja tamanha burocracia e a alienação com papéis vistas em Brazil. Difícil, já que uma coisa Gilliam não previu: o crescimento da importância dos computadores, que eliminam quase toda a papelada.

Brazil – O Filme é uma obra-prima difícil de assistir, difícil de digerir. Não é um filme para quem busca entretenimento. Infelizmente, 99% das pessoas que dizem gostar de cinema acabarão nunca assistindo a este filme. Uma pena, mas fica aqui a recomendação valiosa. A versão analisada aqui é a versão do diretor, que foi lançada tempos depois da original com 11 minutos de cenas a mais, entre elas alguns momentos mais “quentes” entre Sam e sua amada. Assim como os filmes de Terry Gilliam, analisar Brazil é tão complexo que tenho certeza que você não entendeu praticamente nada, assim como dificilmente entendi o que escrevi... Então estamos quites.


2 comentários:

OFICINELITERMUSICAL disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
OFICINELITERMUSICAL disse...

Concordo com a opinião concernente a complexidade, o teor visionário e a multiplicidade de interpretações constantes do filme.
Apenas discordo de uma coisa:
Sinceramente, falar que as semelhanças do filme com o nosso país restringem-se apenas ao filme é benevolência gratuita quando o que vemos é a insistente necessidade de burocratização e alienação por parte da sociedade como um todo e a dispersão e "malandragem" dos funcionários da empresa que procuram saber qual sera o "filme do dia". Mais semelhança com o Brasil...impossível.
E penso que Terrry Gilliam realmente utilizou de seu sarcasmo britânico para buscar nossas "raízes" como inspiração!
abs