21.8.08

23/08 - Para Sempre Lilya (Lukas Moodysson)

Neste Sábado Dia 16/08 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA




Lilyia é uma garota de 16 anos. Seu único amigo é o garoto Volodja. Eles moram numa vila pobre na Estônia, fantasiando sobre uma vida melhor. Certo dia, Lilya se apaixona por Andrej. Ele está indo para a Suécia e convida Lilya para ir com ele e iniciar uma vida nova.
Título Original Lilja 4-ever
Atores Oksana Akinshina, Artiom Bogucharski, Elina Benenson, Liliya Shinkaryova, Pavel Ponomaryov, Tomas Neumann, Lyubov Agapova, Tõnu Kark, Anastasia Bedredinova, Nikolai Bentsler,
Direção Lukas Moodysson,
Idioma Russo, Sueco, Inglês
Legendas Português, Inglês, Espanhol,
Ano de produção 2002
País de produção Suécia,
Duração 109 min.

Longe das raízes

Vander Colombo

" E talvez esteja aí toda a diferença; talvez toda a sabedoria, toda verdade e toda sinceridade estejam apenas contidas naquele inapreciável momento em que ultrapassamos o limiar do invisível."

Joseph Conrad

Suécia e Dinamarca são países vizinhos e difíceis de diferenciar vistos de fora.

Lição de geografia dada para tentar explicar um pouco do trabalho do diretor Lukas Moodysson. Lukas é sueco, conterrâneo de um dos maiores cineastas de todos os tempos, Ingmar Bergman que dizia que não poupava de sua fúria diretores que mexessem demais a câmera, sendo um deles ninguém mais ninguém menos que Hitchcock.

O conterrâneo Moodysson parece não ter ligado muito para os conselhos do mestre, visto que faz todos os seus filmes com a câmera no ombro, e é essa degeneração que é explicada pela geografia, pois além das línguas parecidas e da troca cultural, na época que Moodysson estava começando, no país vizinho já se davam os primeiros passos de uma manifesto que mais tarde ficou conhecido como Dogma 95, no qual a principal regra era justamente esse trabalho manual de operação de câmera. É lógico que Moodysson não seguiu todos os preceitos do Dogma 95, pois usa e abusa da trilha sonora e vez ou outra pede uma fotografia mais elaborada. Mas enfim, a intenção dos dinamarqueses está toda lá.

No mesmo ano do primeiro filme do manifesto, Moodysson lança seu primeiro grande sucesso, Amigas de Colégio, introduzindo com ele, seus temas caros e recorrentes: adolescência, sexualidade e a batalha do etéreo versus o mundano. Porém o sucesso de público e crítica veio em 2002 com o filme Para Sempre Lilya. Com esse Lukas conseguiu atingir o caráter humano que nenhum filme sobre drogas, prostituição infantil e afins, havia conseguido. Além de levar a fama de um Cristhiane F aos moldes de Lars Von Trier. Lilya ganha de Christiane não só no quesito cinematografia, mas em abordagem psicológica, embora, não faltem exageros também comuns ao diretor de Dogville.

Outro traço similar entre Von Trier e Moodysson são suas personagens femininas enfrentando com as armas que podem o mundo falocêntrico que as cerca, auxiliadas por uma espécie de distorção da realidade em prol de suas sensibilidades aguçadas, que aos poucos se convertem numa coragem crua no dado momento de reação inadiável.

A sinopse é como outras tantas, mas tente não se enganar com ela. Num país da ex-União Soviética dilacerado economicamente pelo pós-Gorbachev, Lilya uma menina de 16 anos sonha em mudar de vida radicalmente. Os pais se mudam e não dão mais notícias, deixando-a com uma tia pra lá de bizarra e obrigando-a a recorrer a métodos escusos para conseguir sobreviver.

No caso de Para Sempre Lilya o etéreo também está presente, contudo muito mais como ironia do que como representação espiritualista, Mais como antônimo de toda e qualquer desgraça do que como sinônimo de redenção.

E é com esse conto da carochinha moderno que o diretor consegue dar a sua visão crítica do mundo adulto em sua melhor forma. Usando metáforas simples e acessíveis ele consegue atingir a um público consideravelmente maior que seus outros trabalhos, deixando inclusive um moral da história bem desenhado: no começo da fita Lilya rasga a foto de sua mãe; arrependida ela a cola novamente apenas para mais tarde queima-la por completo. Ou seja, a importância magnânima dos pequenos atos que após tomados se tornam irreversíveis, pois queiram seus anjos da guarda ou não, o máximo que lhes podem ser é parte dessa consciência inaudível...

Certo e errado são caminhos vizinhos e difíceis de diferenciar vistos de fora.

O filme Para Sempre Lilya será exibido neste sábado dia 23/08 às 19:30h no SESC Cineclube Silenzio. A entrada é gratuita

11.8.08

16/08 - O Clube da Felicidade e da Sorte (Wayne Wang)

Neste Sábado Dia 16/08 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA



Um filme extraordinário que relata a épica história de quatro famílias e suas incríveis vidas, cheias de alegrias, tristeza, riqueza e magia. Desde os campos da China, dilacerados pela guerra no começo do século, até os dias de hoje, na moderna San Francisco, você vai conviver com as esperanças, os sonhos e vitórias de duas gerações, revelados através das lembranças de quatro mulheres. Elas contam os fatos que marcaram e transformaram suas vidas para sempre. Baseado no romance de Amy Tan, um dos grandes sucessos do momento, elogiado pela crítica do mundo inteiro.
Gênero Drama
Atores Tsai Chin, Kieu Chinh, Lisa Lu, France Nuyen, Rosalind Chao, Tamlyn Tomita,
Direção Wayne Wang,
Idioma Português, Inglês,
Legendas Português, Espanhol,
Ano de produção 1993
País de produção Estados Unidos,
Duração 139 min.

Estabilidade e ‘Mutação’ Cultural

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

laysedoardo@gmail.com

“Que existe mais, senão afirmar a multiplicidade do real?

A igual probabilidade dos eventos impossíveis?

A eterna troca de tudo em tudo?

A única realidade absoluta?

Seres se traduzem.

Tudo pode ser metáfora de alguma outra coisa ou de coisa alguma.

Tudo irremediavelmente metamorfose!”

Paulo Leminski

O papel da instituição familiar na manutenção dos valores tradicionais vem sendo bastante discutido, pois esta como a primeira introdução das crianças no mundo dos homens, faz com que elas percebam o mundo exterior e dele retirem referências para que sejam inseridas no mundo dos pais e, posteriormente, também no universo dos amigos, escola, igreja, televisão, etc., envolvendo, entre outras variáveis, inclusive questões como a mudança de ambientes e a extrema tradicionalidade cultural, como no caso do filme O Clube da Felicidade e da Sorte.

Assim, a socialização primária, como é chamada pelos sociólogos Peter Berger e Thomas Luckmann em A Construção Social da Realidade, trata-se, portanto, da primeira interiorização do mundo, ponto inicial da ação de “compreensão dos nossos semelhantes e, em segundo lugar, da apreensão do mundo como realidade social dotada de sentido”, sabendo-se este conjunto o responsável por apropriar os aspirantes desde a linguagem até as regras de comportamento requeridas para a vivência em sociedade.

Para tais autores, configura-se em um “processo dialético em curso, composto de três momentos: exteriorização, objetivação e interiorização” que concorrem simultaneamente e constituem de forma gradativa o embate entre estabilidade e mutação de uma tradição. Ora, no interior de uma determinada cultura há dois conjuntos de forças: um que atua no sentido da estabilidade e outro que pressiona no sentido da mutação, configurando pequenas mudanças e adequações, resultantes, por um lado, do próprio processo histórico, e de outro, pelos contatos, trocas e individualidades. Em outras palavras, flexibilizações e adaptações no controle social dos comportamentos, são decorrência das diferentes interiorizações da realidade, visto que cada geração, fruto de um determinado momento histórico, adquire uma nova experiência ao conhecer as tradições dos adultos, num processo bastante conflituoso de socialização versus individualidade e contexto.

Assim, as experiências pessoais de percepção e seleção de valores fazem com que mudanças gradativas no todo cultural ocorram e, logicamente, conflitos com os modelos anteriores sejam verificados, tanto na relação pais e filhos (como o caso de O Clube da Felicidade e da Sorte), professores e alunos, entre outros; pelo fato, aparentemente simples, da influência do mundo sobre o indivíduo e vice-versa, pois este assimila o mundo exterior por meio daquilo que experimenta, e não só pelo aprendizado repassado pelas gerações anteriores. Tal sujeito apreende “a si próprio como um ser ao mesmo tempo interior e exterior à sociedade [que] simultaneamente exterioriza seu próprio ser no mundo social e interioriza este último como realidade objetiva”, formando grupos, releituras de antigas tradições e, finalmente, modificações no fazer de uma sociedade.

Baseado do livro de Amy Tan, o filme O Clube da Felicidade e da Sorte conta a história de quatro famílias chinesas que migram para os EUA na década de 40. A nova cultura vai diretamente contra os preceitos aprendidos pelas famílias que foram criadas no oriente, e esse choque é o tema essencial do filme; porém o drama humano é o que se sobressai nas relações entre mães e filhas que ao passo que parecem se anular pelo próprio conflito entre gerações e no abismo cultural, se aproximam no tema universal do amor incomunicável familiar.

O filme O Clube da Felicidade e da Sorte será exibido neste sábado dia 16/08 às 19:30h no SESC Cineclube Silenzio

A entrada é gratuita.

3.8.08

09/08 - Café da Manhã em Plutão (Neil Jordan)

Neste sábado dia 09 de Agosto às 19:30h
no SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA




Passado nos anos 70, em meio ao fervor dos conflitos entre britânicos e irlandeses, CAFÉ DA MANHÃ EM PLUTÃO é um filme "encantador, penetrante e cômico" (Michael Koresky, Interview Magazine) do diretor vencedor do Oscar® Neil Jordan (melhor roteiro original por Traídos pelo Desejo, 1993; Fim de Caso) e estrelado pelo indicado ao Globo de Ouro® de 2006 Cillian Murphy (Batman Begins) e pelo indicado ao Oscar® Liam Neeson (melhor ator por A Lista de Schindler, 1993). Patrick "Kitten" Braden (Murphy) é abandonado quando bebê e deixado na soleira da porta do padre Bernard (Neeson). Desde pequeno, Patrick percebeu que era diferente dos outros garotos se recusa terminantemente a mudar. Quando cresce, Patrick decide sair em busca de sua mãe verdadeira, que agora vive em Londres. Assim, começa uma comovente e divertida jornada que o levará a um lugar completamente inesperado. "Uma história colorida de Neil Jordan. uma irritantemente maravilhosa comédia. que celebra o poder da imaginação". (Stephen Holden, The New York Times).

Gênero Drama
Atores Cillian Murphy, Stephen Rea, Brendan Gleeson, Liam Neeson, Eva Birthistle, Liam Cunningham, Bryan Ferry, Gavin Friday, Ian Hart, Laurence Kinlan, Ruth McCabe,
Direção Neil Jordan,
Idioma Inglês,
Legendas Português, Inglês, Espanhol, Francês,
Ano de produção 2004
País de produção Irlanda, Inglaterra,
Duração 129 min.
------------------------------------------------------------------------------------------------

Transgêneros, Travestis e outros Ts

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

laysedoardo@gmail.com

“Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.”

Adélia Prado

Conforme discutido em outra ocasião, o comportamento sexual, segundo Foucault, engendra-se dentro de três características: “a consciência do que se faz, a maneira como se vê a experiência e o valor que se atribui” a ele, de modo que a questão de compreender, incluir e aceitar socialmente comportamentos sexuais antes considerados desviantes, centram-se na liberdade de escolha sexual e não do ato em si, de forma que “a liberdade de escolha sexual implica a liberdade de expressão desta escolha”, ou seja, “a liberdade de manifestar ou de não manifestar essa escolha”.

Tendo por base o filme Café da Manhã em Plutão de Neil Jordan, penso necessário considerar os Ts, ou seja, transgêneros ou travestis e transexuais, da imensa sigla atual do movimento GLS, leia-se GLBTTHI; a saber que estes indivíduos estão muito mais sujeitos ao preconceito, mais do que pela homossexualidade em si, justamente pelo fato de subverterem as regras de comportamento imposta aos sexos. Ora, gênero trata-se necessariamente do papel exercido por uma determinada pessoa com relação à sua condição biológica, ou seja, mulheres possuem papéis femininos e homens papéis masculinos. O travesti, hoje chamado de transgênero, justamente por este motivo, ao contrário do que postula o saber comum sobre o comportamento social, admite o papel ‘alheio’ para a sua pessoa, o que gera talvez o principal motivo da contenda contra tais homossexuais.

O que é necessário ser lembrado, mais do que as famigeradas discussões sobre atentado ao pudor, biologização da homossexualidade ou relativismos concernentes a assentimento por parte da sociedade, é o fato de tal comportamento ser histórico e ultrapassar nosso tradicional convencionalismo. Pierre Clastres em A Sociedade Contra o Estado, discute em um dos capítulos a existência de transgêneros em aldeias ‘primitivas’, mostrando principalmente que o papel exercido por eles em tal espaço é respeitado e considerado normal. Nesta aldeia, há uma restrição sobre os objetos utilizados pelos homens e pelas mulheres, ou seja, arcos e flechas para os primeiros e balaios para as últimas, havendo inclusive punições para aqueles que desrespeitarem tal regra. O transgênero feminino, a partir do momento que se assume enquanto tal, passa a conviver com as mulheres, manuseando o balaio e a restrição com o arco e flecha, mantendo relações sexuais com os homens da aldeia, e, sobretudo, reconhecido pelos demais habitantes tal qual qualquer outra mulher.

Tendo em vista tal discussão, reservo-me ao registro de uma fala de ‘N’, em uma entrevista cedida ao colega Juliano Diehl que realiza pesquisa antropológica sobre tal temática, deixando, assim, o leitor livre para estabelecer considerações sobre o tema: “Além do mais todo mundo percebe uma travesti que tá na rua... As pessoas ficam ‘meio assim’ de chegar conversar com uma travesti... (...) Andando no calçadão agora... E como a pessoa repara numa travesti... Como ela olha... Pode tá um elefante passando na avenida, mas elas tão vendo a travesti. Então é complicado...”.

Finalmente, em Café da Manhã em Plutão, Patrick um menino deixado pela mãe na porta de uma casa paroquial na Irlanda é adotado por uma alcoólatra que, ao descobrir sua homossexualidade, o rejeita. Patrick, porém, se desvencilha tanto do preconceito quanto do próprio conflito irlandês nos anos 70, recorrendo a sua imaginação com pequenas mentiras inocentes que o protegem da vida como ela se apresenta. O filme é belissimamente comandado por Neil Jordan (Traídos Pelo Desejo, Entrevista com o Vampiro) e dispõe da atuação magistral de Cilliam Murphy no papel principal. As cores lembram trabalhos de Pedro Almodóvar, sem cair jamais na narrativa pejorativa, num trato carinhoso aos seus personagens.

Café da Manhã em Plutão de Neil Jordan

será exibido neste sábado dia 09/08 às 19:30h

No SESC Cineclube Silenzio em Cascavel.

A entrada é gratuita.