24.3.08

29/03 - Feios, Sujos & Malvados (Ettore Scola)

Neste Sábado dia 29/03 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA






Vencedor do Prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes, Feios, Sujos e Malvados é uma das obras-primas do cineasta Ettore Scola (Um Dia Muito Especial). Giacinto (Nino Manfredi em grande atuação) mora com a esposa, os dez filhos e vários parentes, num barraco de uma favela de Roma. Todos querem roubar o dinheiro que ele ganhou do seguro, por ter perdido um olho quando trabalhava. A situação fica ainda pior quando ele decide levar uma amante para dentro de casa. Feios, Sujos e Malvados é uma comédia social corrosiva, em que Scola dialoga, de maneira brilhante, com Accattone - Desajuste Social, de Pasolini.
Vencedor do Prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes

TÍTULO: FEIOS, SUJOS E MALVADOS
DIRETOR: Ettore Scola
ARTISTAS: Alfredo D'Ippolito | Maria Bosco | Marina Fasoli | Giancarlo Fanelli | Nino Manfredi | Marco Marsili | Franco Merli | Ettore Garofolo | Francesco Anniballi | Giselda Castrini
IDIOMA: Italiano
PAÍS DE PRODUÇÃO: ITALIA
LEGENDA: Português
TÍTULO ORIGINAL: BRUTTI, SPORCHI E CATTIVI
TEMPO DE DURAÇÃO: 115 minutos



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Feios, Sujos e Malvados

Vander Colombo

“Tudo é política, até mesmo o desenho mais inócuo da Disney”

A frase é de Ettore Scola um dos maiores diretores italianos de todos os tempos e um dos mais desconhecidos por estes lados. Scola costuma definir seus filmes como “o reflexo da formação do jovem meridional que eu era, vindo a Roma depois de ter tido contato com marginais e oprimidos”. Percebe-se aí um espírito que é comum em quase todos os cineastas, pais ou filhos do neo-realismo italiano: o revolucionário de esquerda. Antes que se crie uma redoma protetora a esse sentido moldada por preconceitos e jornalismo marrom de colunistas de meia-pataca de Revista Veja e afiliados, há de se lembrar que a sinistra deles não é a mesma que a nossa, mas os ideais de prevalecimento vindo de que lado forem, esses sim foram importados na íntegra com nossos imigrantes.

Vindo eu de família italiana, daquelas onde italianos casam com italianos para terem italianinhos, dou-me ao direito de fazer essa comparação tendo em base conversas sussurradas ou bradadas, ou mesmo quando o elixir de Baco - próprio dos vinhedos da migração, - sobe um pouco a cabeça; lembrando é claro que em primeiro lugar, o que segue não tem intuito de ser ofensivo à qualquer família italiana, posto que faz parte dessa raiz meridional já citada e não difere em nada das alemãs por exemplo, que povoam quase que inteiramente pequenas cidades vizinhas, e não deve ser vista como generalização; lembrem-se por exemplo, de que o nazi-fascismo dominou as duas terras como regra por vários anos, e da mesma maneira que muitos aqui no Brasil ainda idolatram Getúlio Vargas como se fosse um herói nacional, muitos destes seja por uma espécie de alienação histórica ou por nacionalismo genético, têm sentimentos nostálgicos por tempos passados.

Feios. (Referência no geral aplicada aos nordestinos de classe baixa, ou muitas vezes ampliada aos não-caucasianos)

Ettore Scola, deu luz ao filme Feios, Sujos e Malvados (Brutti, Sporchi e Cattivi, 1976), na época em que o cinema italiano, a despeito da renascença pós neo-realismo organizada principalmente por Fellini, mostrava um mundo utópico de classe média-alta, onde se interagia com a classe baixa somente no âmbito de empregados felizes e fiéis – como visto nas telenovelas, isso após um período cinematográfico que auxiliou no renascimento da Itália após a derrota da direita fascista na Segunda Guerra, irritou e muito a geração dos neo-realistas e seus pupilos.

Sujos. (Vide Feios. Adjetivo usado para justificar pigmentação da derme e colorir as peles dos não-europeus, usado também para os barracos de favelas ou qualquer bairro fora das áreas nobres)

É preciso lembrar que o período cinematográfico apesar da renascença não era dos melhores: Vittorio de Sica e Luchino Visconti haviam falecido em 74 e 76 respectivamente, Pasolini havia sido assassinado em circunstâncias misteriosas um ano antes, Rosselini estava em seus últimos dias e as metáforas de Fellini estavam cada vez mais complexas. Aos poucos, a geração que tanto havia incomodado os fascistas estava desaparecendo ou se remodelando. Era preciso desta vez algo que não só criticasse o mal declarado, mas o oculto dentro da própria Itália pós-guerra.

Malvados. (Vide Feios e Sujos. Adjetivo de uso amplo e múltiplas variações (velhacos, ladrões, invasores, pecadores, vagabundos, punks etc) serve como aplicação desde marginais de pequeno a médio porte, porém restringe-se a eles, até designações de fundo religioso, mais especificamente tudo o que não seja”vaticanizado” ou fora das tradições judaico-cristãs. Alheios à tradição, família (patriarcado), proteção de propriedade e nacionalismo).

Scola resolveu então não somente criticar a forma como a Itália queria aparentar, porém mais do que isso, uma alegoria de como as classes abastadas viam as menos favorecidas. Para isso abusou do humor-negro, da escatologia e da violência para mostrar como, segundo os “belos, límpidos e bonzinhos” seria a vida dos “feios, sujos e malvados”. Para isso dialoga com o primeiro filme de Pasolini, Accattone – Desajuste Social, e nos apresenta um lado paupérrimo da Itália, onde dezenas de pessoas vivem numa pequena casa, tal qual ratos amontoados, fornicando, tramando a morte do patriarca que esconde o dinheiro do seguro que recebeu após furar o próprio olho e extorquindo a avó que é a única que recebe algum dinheiro com a aposentadoria.

Com este lado obscuro da Itália, Scola não só critica a visão deturpada das classes como também questiona um dos maiores slogans do fascismo e que é usado até hoje, “Deus, Pátria e Família”

Scola mostra também aos fanáticos de esquerda que ser engajado, como manifestação revolucionária apenas, é tão utópico quanto o cinema que criticavam. E sem apontar caminhos, mostrar heróis, ou pregar uma filosofia vã com palavras intelectualmente masturbatórias em prol de um povo que muitas vez nem mesmo sabe ler, o diretor usa-se de fábulas para derrubar seus detratores, usa o humor como arma máxima contra a ignorância e encerra o filme com uma das imagens mais explicitamente reveladoras, questionadoras e tristes da história do cinema, tudo para que simplesmente se abram dimensões novas para se poder pensar, ao invés de dizer que determinado caminho é o correto. Se funcionar em 10% dos casos, o cinema já é uma utilidade pública indispensável.

“Um filme não tem o poder de mudar uma realidade,

mas pode convidar ao questionamento".

Ettore Scola

O filme “Feios, Sujos e Malvados” (Brutti, Sporchi e Cattivi, ITA, 1976) será exidido no SESC Cineclube Silenzio neste sábado dia 29/03 no SESC Cascavel

A entrada é gratuita.

11.3.08

15/03 - Jesus de Montreal (Denys Arcand)

Neste sábado dia 15/03 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA
“A Paixão segundo Arcand”

Vander Colombo

Não sou muito religioso, mas tem algo na figura de Jesus que me atrai, talvez seja a mensagem, que não tinha nada a ver com o que muita gente usa para defender valores e morais políticos como família e propriedade, sendo que talvez ainda uma releitura moderna dessa figura trouxesse luz ao assunto. Foi o que Arcand tratou de fazer. O diretor Denys Arcand virou uma figura pop de uma hora para outra fora do Canadá quando em ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com “As Invasões Bárbaras”. Justiça seja feita, o filme é a perfeição do drama anti-pieguice e uma obra de coração imenso. Mas Arcand já era conhecido no underground por obras como Amor e Restos Humanos, Gina, O Declínio do Império Americano (que graças ao Invasões Bárbaras, ganhou relançamento) e na opinião de muitos, pela sua obra prima Jesus de Montreal.
Arcand também ficou famoso pelos temas controversos tratados com extrema maestria e naturalidade em seus filmes, seja apresentando a heroína como analgésico para o câncer em Invasões Bárbaras, seja mergulhando na vida sexual da intelectualidade ocidental em O Declínio...
Aliás, conta-se que foi durante a pré-produção de O Declínio do Império Americano que a idéia de Jesus de Montreal nasceu. Arcand fazia teste de elenco e descobriu que um dos atores assumia durante o dia o trabalho em comerciais televisivos e à noite ensaiava uma peça sobre a Paixão de Cristo. Essa contradição entre valores versus comercialismo gerou as primeiras idéias para o filme.
O enredo de Jesus de Montreal conta a história de Daniel Coulombe, diretor renomado do teatro marginal canadense que é convidado por um amigo sacerdote a re-montar a Paixão de Cristo, antiga peça da catedral há décadas parada. Daniel aceita, porém, ao invés de se basear nos evangelhos como verdade suprema, busca nas descobertas científicas arqueológicas o contexto para encenar sua obra. O resultado é um total sucesso de público e crítica, levantando, contudo, contra si, toda a ira da Igreja. Conforme lutam para continuar exibindo a obra, Daniel e o elenco formado por atores desempregados mesclam-se cada vez mais à história de Jesus.
O fato de apresentar Jesus como filho bastardo de um soldado romano com Maria, já seria motivo bastante para os religiosos fanáticos de plantão organizarem aqueles piquetes chatos nas portas dos cinemas. Porém Arcand deixou uma armadilha perceptível no filme que faria qualquer detrator religioso da saga de Daniel em peso igual aos daqueles que na Bíblia gritavam: “Crucifica-o!”. Ao recontar a história cristã, Arcand coloca a fúria da Igreja Católica montrealense como sinônimo da fúria dos judeus ao ouvir Jesus defender prostitutas e samaritanos em nome de Deus e isso tudo na qualidade de ser filho do cara. As declarações de Jesus segundo a Bíblia foram consideradas heresias na época, da mesma forma que as do filme hoje o são. Por essas e outras coisas o roteiro é amarrado tão perfeitamente que vai da concepção à ressurreição sem sair do caráter humano, dando tapas de pelica em várias gerações. Sendo assim, o filme ao invés de ser massacrado pelos cristãos, acabou sendo adorado e estudado por esses. Conseguindo o feito de “agradar a todos” onde até as máximas dizem que para outros era impossível. Ateus e religiosos se unem no discurso de Jesus de Montreal por um simples fato: não importa a crença ou não no etéreo, mas algumas daquelas palavras. Essas são inquestionáveis.
Muitos filmes erraram feio ao retratar Jesus na tela grande (por exemplo a bobagem sanguinária “A Paixão de Cristo” de Mel Gibson que mais parece ter voltado aos tempos dos espetáculos do Coliseu), outros foram superficiais e nada inovadores, como o de Zefirelli e a enxurrada desses que passam na TV em datas religiosas, porém apenas dois conseguiram ultrapassar a fé cega, inovando e se aprofundando justamente no complexo turbilhão shakespeareano de culpa, medo, dúvida e diversos outros conflitos. Um deles é “O Evangelho Segundo São Mateus” de Pasolini e o outro é o próprio filme de Denys Arcand, que apesar de se passar nos dias de hoje consegue algo que nem o evangelho como foi escrito conseguiu, ser elucidatório. Alguém pode até perguntar: “E o “A Última Tentação de Cristo” de Scorsese?” Mas convenhamos que assim como Je Vous Salue Marie de Godard, é mais controvérsia do que cinema.
Assim, Daniel e seus apóstolos partem na cruzada que poderia ser a de libertar a arte da dramaturgia (que tem por templo o próprio teatro) da mediocridade comercial. E dessa forma, o polêmico Arcand, reconta o único testamento fora da Bíblia que têm sido estudado por religiosos, o que, diga-se de passagem, é uma conquista digna de lembrança, até para lembrarmos qual era mesmo a mensagem, antes de ser deturpada por televangelistas, fanáticos, moralistas, pastores e clérigos carreiristas, que muitos de nós gostaríamos de ver sob a chibata na famosa cena da expulsão dos vendilhões do templo.


O filme Jesus de Montreal será exibido no SESC Cineclube Silenzio, no dia 15/03 às 19e 30hrs no SESC Cascavel, com entrada franca.

5.3.08

08/03 - O Balconista (Kevin Smith)

Neste Sábado Dia 08/03 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA

Devo avisar que “O Balconista” é um filme nerd por excelência, mas isso não é uma coisa ruim. Todos os filmes de Tarantino e Brian de Palma o são, assim como outros tal Alta Fidelidade, Swingers, e a consagrada trilogia western de Sérgio Leone.

Chama-se filme nerd, o chamado cinema pós-moderno no quesito olhar para o próprio cinema com olhar de cinefilia, além é claro, de muitas referências ao que veio antes. Em muitos casos não só no cinema, mas na cultura pop de um modo geral, música, teatro, literatura, quadrinhos e o que mais lhe for de agrado.

Kevin Smith já era fã da arte seqüencial, tanto que para conseguir fazer esse filme, ele teve que vender parte de sua coleção de quadrinhos e conseguir dinheiro com parentes e amigos para totalizar US$ 27 mil. Pediu emprestada a própria loja de conveniência onde ele trabalhava para ser o cenário de 90% do filme e juntou amigos que nunca tinham atuado (inclusive sua própria mãe) para formar o elenco do filme.

O resultado agradou tanto que a pós-produção catapultou para US$ 230 mil sendo em boa parte gasto na liberação da trilha sonora que tem nomes como Bad Religion, Alice in Chains e Soul Asylum.

A história se passa em 24 horas ou aproximadamente isso na vida de Dante Hicks e Randal, o primeiro é o balconista de uma loja de conveniências, seria seu dia de folga, mas para fazer um favor ao patrão ele vai trabalhar; Dante é o atendente exemplar, agüenta as humilhações feitas pelos clientes com paciência, seguindo o princípio de que “o cliente tem sempre razão” e a filosofia "Eu não incomodo os clientes e eles não me incomodam.". Randal é o atendente de uma vídeo-locadora ao lado da loja de Dante, Randal é o oposto de Dante, maltrata os clientes física e psicologicamente, antes que eles possam pensar em fazer o mesmo, seguindo este, como filosofia o próprio slogan do filme: "Não é porque eles servem você que eles gostam de você", como na cena que ele faz um pedido de vários filmes pornô com títulos escabrosos enquanto a mãe espera com o filho a localização de um filme infantil.

O Balconista foi filmado em 16mm preto-e-branco, com quase sua totalidade de planos fixos e não muito abertos o que lhe concede uma estética mezzo curtametragem, mezzo peça teatral. Mas apesar de falar sobre tédio, jamais se torna chato, com diálogos afiadíssimos, piadas politicamente incorretas e uma desconstrução fantástica da geração de seus 20 e poucos anos que ao mesmo tempo em que parece só se preocupar com drogas e sexo também se vê encurralada pela falta de expectativa profissional.

Falando em drogas, foi justamente neste filme em que uma dupla que mais tarde se tornaria famosa e voltaria a aparecer em todos os filmes de Kevin Smith, deu as caras pela primeira vez, Jay (Jason Mews) e Silent Bob, ou Bob Calado (interpretado pelo próprio diretor). Aqui eles são traficantes que para o desespero de Dante, fazem ponto justamente em frente à loja de conveniências.

É um filme onde o excelente humor reside justamente no mau humor de seus personagens, sem jamais ser superficial. Apesar de ser um filme onde há piadas sobre sexo e morte (ótimas piadas, que se diga de passagem, longe de besteróis como American Pie), há um paralelo erudito, como é o caso da constante referência com A Divina Comédia já no nome do personagem principal e na divisão do filme em nove capítulos, anunciando os nove ciclos do inferno, nesse caso um dia no inferno dos balconistas.

E o melhor de tudo em O Balconista, é a demonstração quase epistemológica que como já dizia Godard com o aval de gente como Pasolini, Rossellini e Vittorio De Sica: “só o amadorismo pode salvar a arte”. Em tempos onde os “DRT’s” importam mais que o talento, o elenco do filme, que jamais havia atuado antes, dá um aula de naturalismo e domínio de texto que deixaria qualquer Tom Cruise e Ben Affleck com vergonha. É uma extensão de tudo o que vemos na arte, onde um papel que lhe diga que você é um artista, raramente ou nunca, o tornará um.

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O Balconista (Clerks., 1994)
Direção: Kevin Smith
Roteiro: Kevin Smith
Gênero: Comédia/Drama
Origem: Estados Unidos
Duração: 92 minutos
Tipo: Longa
Site:
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Sinopse:
O filme que lançou Kevin Smith à fama é uma visão do mundo pop adolescente: ele mostra um dia na vida de dois balconistas, Dante e Randal, e suas discussões banais sobre filmes, mulheres e outras casualidades.



Elenco ::.

- Ator/Atriz Personagem
- Brian O'Halloran Dante Hicks
- Jeff Anderson Randal Graves
- Marilyn Ghigliotti Veronica Loughran
- Lisa Spoonhauer Caitlin Bree
- Jason Mewes Jay
- Kevin Smith clique para ver o perfil Silent Bob
- Scott Mosier Vários personagens
- Walter Flanagan Vários personagens