27.4.08

03/05 - Persona (Ingmar Bergman)

Neste Sábado Dia 03/05 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA



Persona é simplesmente um dos maiores filmes da história do cinema, e uma das obras centrais do mestre Ingmar Bergman, apresentada aqui em versão integral restaurada e remasterizada.
Uma atriz teatral de sucesso sofre uma crise emocional e emudece. Para se recuperar, parte para uma casa de campo, sob os cuidados de uma enfermeira, que a admira e tenta compreender a razão de seu silêncio. Isoladas, as duas mulheres desenvolvem uma relação de forte intensidade emocional.
A impressionante seqüência inicial, as atuações viscerais de Bibi Andersson e Liv Ullman, a brilhante direção de Bergman fazem de Persona uma experiência cinematográfica fascinante e inesquecível.

Atores Bibi Andersson, Liv Ullmann, Margareta Krook, Gunnar Björnstrand, Jörgen Lindström,
Direção Ingmar Bergman,
Idioma Sueco,
Legendas Português,
Ano de produção 1966
País de produção Suécia,
Duração 84 min.
Preto & Branco -----------------------------------------------------------------------------------------------

Da alma para Alma

Vander Colombo

“Que o cinema seja o meio que me expresso, é absolutamente natural.

Fiz-me compreender numa língua que passava ao lado da palavra de que

carecia, da música que não sabia tocar,da pintura que me deixava

indiferente. Subitamente tive a possibilidade de me corresponder com o

mundo numa linguagem que literalmente fala da alma para a alma, em

termos que quase de maneira voluptuosa, escapam ao controle do intelecto”

Ingmar Bergman

Stanislavsky, famoso dramaturgo e teórico do teatro, escrevera que para o êxito completo da futura interpretação, era necessário que o ator fosse o parasita da personagem, nutrir-se dela, a dissecasse a tal ponto que em determinado momento se tornasse a própria. Apoiado em Jung, essa construção de persona (como também se conhece as máscaras do teatro clássico) já se dá naturalmente quando agimos de um modo no convívio social e de outro na privacidade.

Ingmar Bergman, sabia disso, desde 1940 trabalhava com teatro e percebia as nuances facetarias de atores, que ao recorrer a essas táticas, acabavam por perder um pouco ou esquecer-se de sua persona original. Por isso o filme Persona, vai se estender não só nesse princípio, mas inacreditavelmente em todas as ramificações que o sentido da palavra consiga chegar.

Hesitei muito antes de escolher um Bergman para exibir, tanto que no decorrer do ano passado nenhum foi exibido. Quase todos os filmes do diretor sueco têm elementos que mergulham fundo na dramaturgia onde muitos não conseguiram levar ao palco, dadas suas limitações para explorar minuciosamente a alma humana, seja à luz da psicologia, da eterna busca por Deus e consequentemente o Seu silêncio, ou pela vertente existencialista mais dolorosa possível.

Persona não é diferente, chega a ser inconcebível a profundidade da discussão que vai de Jung a Kierkegaard, com poucos diálogos e em apenas 81 minutos. Bergman mantém em planos claustrofóbicos as duas personagens: Elizabeth, uma atriz que teve um surto enquanto interpretava Electra de Sófocles e com isso deixa de falar - embora antes extrovertida para em silêncio encontrar sua verdadeira persona, e a enfermeira Alma, tímida e analítica que reclusa-se com a primeira para um melhor tratamento.

Logo nos primeiros momentos, dadas as circunstâncias de Elizabeth, os papéis já são invertidos, Alma tem que se comunicar apesar de introvertida com uma interlocutora totalmente calada que expressa-se agora por gestos e olhares, ou seja, cada uma assume a personalidade ou personagem da outra para desempenhar seu papel.

No decorrer do filme uma simbiose começa a acontecer entre as duas mulheres que tem seu clímax, quando Alma lê confidencias de Elizabeth, o que gera um conflito onde as duas personas não mais diferenciam e isso é orquestrado por Bergman com uma maestria absurda, utilizando-se de linguagens cinamatográficas e se aproveitando da sua última fotografia em preto-e-branco de Sven Nykvist.

Se o filme fosse só isso, já seria um clássico por sua conquista narrativa, mas, além disso, o filme é um poema visual, a seqüência inicial é de uma metalinguagem quase surrealista que já rendeu estudos devido seu chamado enigma quase que indecifrável. De certa forma Bergman aqui já se utiliza do princípio de outro dramaturgo, Bertold Brecht, pois não só o prólogo ali está como várias técnicas de cinema, para criar um efeito de distanciamento e avisar o espectador que aquilo não é real, mas um filme. Tanto que em determinado momento, a película se rompe dando a impressão que o filme foi queimado no projetor. É por conta disso que quando imagens reais entram em confronto com a ficção do filme, causam um terrível estrago, é o caso do bonzo vietnamita que ateia fogo em seu próprio corpo em protesto, e a presença masculina mostrada num flash de poucos segundos de um pênis ereto, mais tarde substituído por algo que lembra uma vagina dentada e ainda a imagem de corpos idosos em um necrotério “para lembrarmos que somos seres finitos” sendo substituídos pelos rostos em close das duas personagens principais.

Segundo Jacques Aumont para Bergman o rosto é a superfície visível que remete a um interior invisível, ou seja, uma persona para fora, outra para dentro, o exterior e a alma, por isso talvez para ele o parasitismo de um para o outro tal qual o ator para sua personagem tenham conseqüências irremediáveis de auto-conhecimento, e posterior isolamento, como foi o caso do próprio Bergman na Ilha de Fårö.

Há um preço alto para aqueles que se dedicam a conhecer tão bem a alma humana.

O filme Persona será exibido neste sábado dia 03/05 às 19:30h

No SESC Cineclube Silenzio em Cascavel-PR

A entrada é gratuita

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