17.4.08

19/04 - A Felicidade dos Katakuri (Takashi Miike)

Neste Sábado dia 19/04 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA




A família Katakuri acabou de abrir uma casa de hóspedes nas montanhas. Infelizmente seu primeiro cliente comete suicídio e querendo evitar problemas eles decidem enterra-lo no jardim. Porém, a lei de Murphy também impera na terra do sol nascente e as coisas vão ficar cada vez mais complicadas e distanciando a família da felicidade que buscavam juntos no campo. Um musical completamente diferente de tudo o que já se viu, do mesmo diretor de Audition.

Título Original: Katakuri-ke no kôfuku (2001)
Direção: Takashi Miike
Pais de Origem: Japão
Duração: 112 minutos


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“As montanhas estão vivas pelo som dos gritos...”

Vander Colombo

Quando o cineclube no ano passado exibiu um filme chamado Audition (Entrevista) do diretor japonês Takashi Miike, minha intenção era a de colocar esse nome na lista dos diretores dos cinéfilos cascavelenses que o desconheciam, sendo que na época o diretor já tinha dezenas de títulos e somente o episódio da série Masters of Horror havia sido lançando em DVD no Brasil. O filme era visto como o melhor exemplar de Miike juntamente com Ichi, o Assassino, e verdade seja dita, que já eram febre no Brasil, devido às abençoadas cidades que tem grandes festivais e principalmente à internet.

O filme causou reações diversas, desde o fã de terror que dentro de uma infinita prepotência achou o começo chato, o que o fez perder uma das turgescências mais pesadas da história do cinema, até os mais sensíveis que lotaram a caixa de e-mail do SESC exigindo uma classificação etária mesmo não tendo ninguém com menos de 16 na sessão.

Desde o começo do Silenzio sua intenção junto dos outros cineclubes é fazer aumentar o número de pedidos por certos diretores que forçasse o lançamento nacional, ou se já lançado, a compra das cópias pelas vídeo-locadoras, tornando assim o acesso do cinema não-hegemônico mais fácil. Essa pesquisa por nossa parte por vezes nos traz grandes cineastas que se não estão no hall dos maiores, mas com certeza estarão. É o caso de Miike, apesar de alguns críticos ainda torcerem o nariz devido ao seu desapego a perfeição de efeitos. Contudo a Revista SET é a prova viva que qualquer moleque espinhento pode se dizer crítico mesmo sem ter referencial teórico nenhum, e vomitar “achismos” e frases feitas para um público que consome fofoca ao invés de cinema. Tirando esses indivíduos, os que se dedicaram a conhecer Miike, perceberam antes de tudo seu ecletismo nos assuntos escolhidos que vão do terror extremo, até filmes infantis, tudo isso aliado a uma prolificidade que não se via desde a morte de R. W. Fassbinder.

Por conta disso, achei que o primeiro filme de Miike a ser exibido depois de Audition, poderia ser A Felicidade dos Katakuri, que, afinal é um musical familiar,... Mas é um Takashi Miike. O que o torna uma comédia-romântica-familiar-de humor-negro-com-toques-de-terror-light-stop-motion-bizarros-e-números-musicais-bregas-com-zumbis. E isso faz toda a diferença. A frase que escolhi para nomear esse texto é o slogan americano do filme, claramente uma brincadeira com a frase famosa do filme A Noviça Rebelde: “The hills are alive with the sound of music

Um filme que começa com uma moça tirando um cupido feito com massinha de modelar de dentro de um prato de sopa já diz ao que veio e logo lhe informa que será diferente. Miike brinca o filme todo com a ocidentalização da cultura nipônica, e de como o ocidente vê essa cultura tão diferente do lado de lá. Por exemplo, os números musicais são repletos de ‘caras e bocas’ e dancinhas que fazem Rocky Horror Picture Show parecer bem coreografado, sempre evocando o exemplar mais nipônico impossível: o karaokê. Apesar das brincadeiras, é visível o respeito de Miike por sua cultura, mesmo volta-e-meia a criticando (em Audition os instrumentos de tortura são objetos caros aos orientais como incensos e agulhas de acupuntura), tanto que apesar de fazer enorme sucesso nos EUA e ser considerado “um dos diretores mais talentosos da atualidade” por nomes como Quentin Tarantino, Miike flerta com o ocidente, mas se recusa a aprender inglês, por exemplo. Um de seus últimos filmes também faz essa mistura de pólos, Sukiyaki Western Django. É isso mesmo que você está pensando: um remake do faroeste italiano Django com atores japoneses falando um inglês só possível de entender com legendas. Detalhe: Tarantino atua no filme e fala esse mesmo inglês.

O cinema importa mais a Miike do que os seus filmes, e ele faz questão de deixar isso claro, seja usando inúmeras técnicas de câmera e/ou edição numa mesma obra, seja recuperando elementos de um filme para outro sem nenhuma ligação aparente; especializando-se tanto no trash japonês como no terror comercial (Ligação Perdida já ganhou remake hollywoodiano); até episódios como A Grande Guerra Yokai que parece um episódio do Ultramen... E é nesse em especial que ele mostra que não estão nem aí com os críticos chinfrins, já que um dos principais personagens é um boneco de luva que tem menos movimentos que o Louro José. Então se você quer ver um Miike com efeitos mais perfeitos tem que procurar seus filmes mais comerciais, agora se quer ver um Miike de verdade como é o caso de A Felicidade dos Katakuri deve se despreocupar com coisas do estilo “o fio do cara que tá voando está aparecendo nitidamente” ou “que boneco mal-feito” pois isso tudo é feito intencionalmente e segundo uma entrevista do próprio Miike, ele supervisiona os efeitos especiais para que não pareçam reais demais, a menos que o filme realmente peça por isso.

Por conta disso, os cineclubes quando exibem filmes, pedem uma visão diferenciada de seu público para que por exemplo, não se assista A Felicidade dos Katakuri esperando ver um Chicago, por que a proposta não é essa, longe disso. E o que nos deixa felizes é o fato é que esse público começa a se formar, prova foi que anunciando um novo filme de Miike a ser exibido, boa parte do público vibrou, demonstrando que apesar de um único filme ter sido exibido o diretor já tem seu público em Cascavel. Fora daqui, Miike já é figura carimbada nas sessões de cineclube, o que forçou o lançamento de vários títulos do diretor no Brasil do ano passado pra cá. Infelizmente o feitiço volta-se contra o feiticeiro, pois algumas distribuidoras iniciaram uma caça-às-bruxas contra os cineclubes, como é o caso da Europa Filmes, que faz uma cruzada nacional fechando cineclubes brasileiros que exibem seus filmes, o que nos força a ter de deixar de exibir outro filme já programado de Miike, Ichi, o Assassino. E já que a maioria dos filmes exibidos em cineclubes em nada lembra o comercial, soaria irônico, caso não fosse trágico, o fato da democratização cultural ao invés de se converter em grandes investimentos, novamente seja singularizada aos tribunais de pequenas causas.

A Felidade dos Katakuri será exibido nesse sábado dia 19/04

Às 19:30h no SESC Cineclube Silenzio

A entrada continua sendo gratuita.

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