1.4.08

05/04 - Tesis - Morte ao Vivo (Alejandro Amenábar)

Neste Sábado dia 05/04 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA



TESIS - MORTE AO VIVO (Tesis - Espanha - 1996 - 125 min)
Direção: Alejandro Amenábar.
Elenco: Ana Torrent, Fele Martínez, Eduardo Noriega.
Sinopse: "Tese" conta-nos a história de Angela, uma estudante de cinema que está preparando uma tese sobre a violência no cinema e procura material áudio-visual sobre a matéria. Pouco a pouco vai se metendo de cabeça no que parece ser uma trama relacionada com os "snuff movies" (filmes que são feitos com assassinatos reais) e no quais podem estar implicados colegas de faculdades e professores. Angela contará com a ajuda de Chema, um estudante marginal que sente uma atração pelo pornô, pelo cinema gore e pelos filmes sangrentos


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O Trotuaro da Violência *

Vander Colombo

Imagine o seguinte caso: você está passeando de carro nas ruas tortas e remendadas de Cascavel, de repente, o trânsito num dia comum se torna mais lento. Lá na frente você vê um pequeno grupo de pessoas paradas no meio da rua, há um carro com placa de fora que mais parece um nó de aço retorcido, há sangue no chão. Vamos deixar mais claro: você agora já sabe que é uma colisão e sabe que não conhece as vítimas, posto os veículos envolvidos. Ah e mais! A ambulância está logo atrás de você com dificuldades para passar. Queira ou não você vai se ver num dilema: ou diminui a marcha para ver melhor, atrasando o socorro, ou vai parar o carro e sair para ver de perto, impossibilitando de vez tal socorro, embora utilize o mote: “talvez eu pudesse ajudar em algo”.

Isso vai ser egoísta da sua parte? É lógico que vai! Mas você geralmente faz sem maldade. Essa curiosidade mórbida, apesar de já estudada antropologicamente, ainda nos é mistério, já que jamais admitimos: ok, gostamos de ver sangue e violência.

Se fosse o contrário, filmes de terror não teriam lucro, tablóides empilhariam na banca, programas como Ratinho, Aqui Agora, Tribuna da Massa, e outras centenas não teriam audiência, assim como Big Brother e Pânico na TV. Os dois últimos não são propriamente violentos em seu grafismo, porém os episódios que trazem algum tipo de degradação ou humilhação humana não são os de maior repercussão?

Sangue e esperma em geral se tornam um só em casos assim. Ambos são substâncias corpóreas que só saem do corpo em momentos extremos.

Ok, o exemplo é radical, mas funciona, o que atrai na pornografia extrema, por exemplo, provém da mesma curiosidade que atrai à violência explícita.

O cinema já usou e muito essa premissa para filmes de grande bilheteria como A Bruxa de Blair, Instinto Selvagem, O Último Tango em Paris, A Paixão de Cristo; este que por sua vez consegue provar qualquer teoria do gênero, sendo o filme mais bem recebido por cristãos do mundo todo e que têm como lema a paz e a fraternidade; tema que o torna por outro lado um dos filmes mais maniqueístas e de violência extrema e a oitava maior bilheteria de todos os tempos, logo abaixo de Jurassic Park, desta vez com a desculpa: “mas foi assim que aconteceu...”. Esse mesmo mote justificaria todos os programas policiais que mostram em close, cadáveres expostos na rua ou linchamentos filmados. No caso de A Paixão de Cristo, porém vai mais longe, visto que toda a mensagem pacífica cristã nem mesmo é citada no filme, que se concentra nas 12 horas finais de Jesus. Segundo o assassino Alex do filme Laranja Mecânica “a parte boa da bíblia”.

O cinema, porém através da metalinguagem muitas vezes já discutiu o assunto com maestria em filmes como Violência Gratuita, O Vídeo de Benny e em nossa sessão desta semana: Tesis – Morte ao Vivo.

Tesis foi o primeiro longa do chileno naturalizado espanhol Alejandro Amenábar que mais tarde fez um filme chamado Abra los Ojos, que Tom Cruise gostou tanto que pediu a refilmagem americana como Vanilla Sky, e em troca financiou o único filme de Amenábar até agora em terras yankees: o sucesso Os Outros. Voltando à Espanha, filmou Mar Adentro em 2004 ficando com o Oscar de filme estrangeiro.

Amenábar tinha apenas 24 anos quando fez Tesis, porém conseguiu discutir com maturidade o fascínio pela violência. No filme Ângela decide fazer sua tese no curso de Comunicação sobre violência no audiovisual, para isso pede que seu orientador lhe consiga filmes que contenham violência extrema. Ângela desde o começo diz-se enojada pelo tema, porém mesmo contra sua vontade, sua curiosidade torna-se mais forte que suas concepções morais. A exemplo disso, a cena inicial do filme metaforicamente expõe sua própria tese sobre o assunto: Ângela está no metrô, quando é pedido a todos que saiam do vagão pois um homem havia caído nos trilhos e sido cortado ao meio. Os policiais vão orientando os passageiros a saírem, para afastarem-se e não olhar para os trilhos, isso é repetido algumas vezes, porém enquanto alguns se afastam, Ângela é instintivamente puxada para ver o corpo. O filme todo parte desse principio: “não olhe, se conseguir”.

A discussão dentro da própria linguagem cinematográfica é resumida por um professor quando este diz que “é preciso dar ao público o que ele quer ver”. Essa simples frase apesar de não discutida ou questionada explicitamente no filme abre uma discussão sem fim sobre a produção dos filmes que já citamos e de que forma eles servem à população, que de uma maneira ou de outra irão buscar / ver / consumir esse sangue derramado.

Em cima dessa frase, seria pretensioso se Amenábar fizesse um filme de arte, soaria no mínimo como um sermão sobre moral visual. Desta forma ele o transforma num thriller de suspense e no melhor filme sobre a lenda dos “snuff movies” que são vídeos onde se vê uma pessoa sendo morta propositalmente em frente às câmeras. Apesar do tema já ter rendido vários filmes, desde Cannibal Holocaust a 8mm, a existência de algum snuff nunca foi oficialmente comprovada.

Por conta disso, o curioso dessa área não tem tanto acesso quanto um consumidor de pornografia, por exemplo. A ficção é o que acaba fazendo essa parte, e o espectador, mesmo sabendo que se trata de encenação, consome a violência, nas palavras de Rose Hikiji, “como um olho a espreitar a fechadura”. Porém o nível de realidade exigido por esse consumir tem crescido à passos largos, tanto que filme que outrora chocavam como Laranja Mecânica, Amargo Pesadelo, Quadrilha de Sádicos, já não têm o mesmo efeito, abrindo espaço para filmes que não mais questionam o fascínio, e acabam somente o satisfazendo, como por exemplo: Irreversível; O Albergue; e os exercícios de morbidez nipônica, a série Guinea Pig que encena snuffs.

Os cinemas cascavelenses por outro lado são redutos do consumo desse fascínio, porém em seu viés politicamente-correto, seja James Bond, Rambo, Van Damme, e o já tão falado Tropa de Elite, atendem ao mesmo chamado da violência explícita, porém utilizando do artifício maniqueísta de estar sempre do lado do bem. Nestes, a violência por mais absurda que seja, sendo direcionada a alguém por quem durante duas horas lhe foi convencido que a merecia, é automaticamente abrandada.

É lógico que não vou generalizar. Vez ou outra, nossos cinemas tem exibido filmes que saem dessa categoria, todavia em grande parte das vezes tem menos espectadores que aquele acidente de trânsito.

“Tesis – Morte ao Vivo” será exibido no SESC Cineclube Silenzio

neste sábado dia 05/04 às 19:30hrs no SESC Cascavel.

A entrada é gratuita...

e livre a todos os curiosos.




Texto publicado na Gazeta do Paraná de Domingo (30/03) Caderno Gazeta Alt todos os domingos




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