8.4.08

12/04 - Sonhos de Um Sedutor (com Woody Allen)

Neste Sábado Dia 12/04 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA


Allan Felix (Woody Allen), um crítico de cinema que consome filmes ansiosamente e idolatra "Casablanca", é abandonado por Nancy Felix (Susan Anspach), sua mulher, que quer o divórcio pois não agüenta mais a insegurança emocional dele. Incapaz de lidar com este momento conturbado da sua vida, Allan busca consolo nos filmes que ama enquanto imagina Humphrey Bogart (Jerry Lacy) lhe dando conselhos de como Allan deve lidar com as mulheres, sendo que estes conselhos são desprovidos de qualquer sutileza. Paralelamente, um casal de amigos, Dick Christie (Tony Roberts) e Linda Christie (Diane Keaton), tentam ajudar Allan lhe arrumando encontros com outras mulheres, mas todos resultam em total fracasso em virtude da insegurança e nervosismo de Allan. Finalmente Allan percebe que tem passado mais tempo com Linda do que com qualquer outra mulher e sente-se atraído por ela, pois é a única mulher que ele se sente realmente à vontade. Linda se mostra receptiva às investidas de Allan, pois Dick tem trabalhado tanto que ela se sente abandonada. Mas Allan carrega um sentimento de culpa, por estar amando a mulher de seu amigo.
* Informações Técnicas
Título no Brasil: Sonhos de um Sedutor
Título Original: Play it Again, Sam!
Direção: Herbert Ross
País de Origem: EUA
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 81 minutos
Ano de Lançamento: 1972

* Elenco
Woody Allen .... Allan Felix
Diane Keaton .... Linda Christie
Tony Roberts .... Dick Christie
Jerry Lacy .... Humphrey Bogart
Susan Anspach .... Nancy Felix
Jennifer Salt .... Sharon
Joy Bang .... Julie

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Toque novamente, Sam

Vander Colombo

Os efeitos da cultura popular nos americanos são devastadores, nos EUA, o cinema é o maior formador de opinião disparado, e chegou a exportar para diversos países (incluindo o Brasil que foi um alvo muito bem-sucedido) a maneira de falar, vestir e agir no que deveria ser o famoso American Way of Life, que já está hoje mais para Occidental Way of Life, diga-se de passagem. O cigarro fumado pelo cowboy, a coca-cola bebida pelo mocinho, o bourbon do detetive, enfim, o cinema hollywoodiano principalmente da Era Reagan em diante tornou-se o maior centro de merchandising do globo, porém a força de suas personagens já não é mais a mesma que era antes dessa fase, talvez porque a criação de ídolos hoje tenha ficado tão rápida que se torna descartável para os fãs dando lugar ao produto a ser vendido.

Motivos como esse, justificam o fato que a recente morte do ator Heather Ledger, jamais terá a comoção que teve, por exemplo, a morte de James Dean. Nos dias de hoje, Hollywood, tenta por fim revitalizar seus primeiros ícones descartáveis: Rambo, Indiana Jones, Rocky entre outros que com certeza ainda virão, como Garotos Perdidos e Tron. Porém nenhum desses saiu da esfera estritamente nostálgica daqueles que o consumiram em sua infância, tanto que Rambo hoje está apenas engraçado de um jeito triste, Rocky, decrépito e Indiana Jones já parece mais velho que seu pai, ou seja, já não convencendo como ícones, operando apenas como um back to the 80’s.

Pelo contrário, Elvis, Marilyn Monroe, Brigitte Bardot, Clark Gable James Stewart, Grace Kelly, John Wayne, além do próprio James Dean e Humphrey Bogart, tornaram-se ícones independentes de suas personagens, a tal ponto que na imaginação do fã, um e outro tornam-se o mesmo.

O próprio Humphrey Bogart foi o símbolo de uma geração: apesar de feio, magrelo, calvo e fumante inveterado, tornou-se um dos maiores sex-symbols do cinema, (segundo o próprio, por conta de sua personalidade, coisa quase impossível de se imaginar acontecer por esses tempos). Bogart juntamente com Marlon Brando tornaram-se os ícones do “macho-rebelde-mas-com-estilo”, daqueles que conquistavam suas amantes com um olhar ou com um tabefe (sem violência, é claro), e que sabiam ser doces, porém conservavam a masculinidade dos homens fortes dos quais segundo Luís Fernando Veríssimo, Clint Eastwood é o último exemplar.

No filme Casablanca, que por si só já um ícone do cinema, Bogart interpretou talvez seu papel mais marcante: Rick Blaine, o dono do bar Rick’s em Casablanca que era o ponto de fuga da Europa em guerra. Porém poucos se lembram desse nome, ou seja, era Bogart que estava lá.

O filme se fixou tanto na cultura popular que até os dias de hoje a música As Time Goes By já gravada por dezenas de intérpretes remete logo ao filme e a imagem de Dooley Wilson a executando. Além é claro da frase “Play it Again, Sam” que tomou vida própria na massa e se transformou em jargão nostálgico. Digo que tomou vida própria, porque a frase em momento algum é dita no filme.... Coisas de ícones.

Mas o assunto de hoje não é Casablanca, mas a expansão destes ícones. O que nos leva, agora sim, ao filme discutido.

30 anos depois do lançamento de Casablanca, Woody Allen havia escrito uma peça teatral chamada justamente: Play it Again, Sam, que ele mesmo reescreveu para o cinema e entregou para o amigo Herbert Ross dirigir. No Brasil chamaria-se Sonhos de um Sedutor.

O texto de Allen conta a história de Allan Felix (interpretado por ele mesmo), um crítico de cinema que está sendo largado pela esposa que reclama dizendo que Allan é um mero “espectador da vida”. Um casal de amigos (Tony Roberts e Diane Keaton) tenta ajuda-lo a recomeçar sua vida e conquistar um novo amor. O problema é que Allan não leva o menor jeito com as mulheres: é tímido, não bebe, é viciado em aspirinas, e justamente por isso, seu alter-ego que lhe aparece como uma sombra quase fantasmagórica é justamente Humphrey Bogart (interpretado com maestria por Jerry Lacy, pois o verdadeiro já havia falecido em 1957). É “Bogart” quem lhe dá as dicas de como conquistar as mulheres, ou seja, de como se tornar esse “macho-alpha” o que no corpo de Woody Allen rende piadas só igualadas por este em Annie Hall e Manhattan.

Sonhos de um Sedutor consegue inserir-se no fascínio por esses ícones que ditaram as falas, o andar e a maneira de encarar a vida de várias gerações em contraste com os anos 70 no caso, e com o humor de Woody Allen nos seus melhores momentos, fazendo parceria pela primeira vez com Diane Keaton, dando aquele ar inevitável de nostalgia mesmo já denunciando a atração doentia pelos ídolos, porém sem ter que parar a sessão para tentar empurrar-lhe uma coca-cola obsessão adentro.

Tem suas ironias, pois Woody Allen faz parte da trupe que também se tornou símbolo, sendo que os óculos de aro grosso são tão icônicos como a silhueta de Hitchcock, e justamente esses podem reconfigurar uma espécie de retorno aos ídolos, mas é lógico que do jeito moderno. Ao invés de calçada da fama podemos quem sabe ver uma homenagem a Woody Allen no parque de diversões, ou quem sabe ainda um Mac Lanche Stallone com muito colesterol ou ainda o já em construção Big Kahuna Burguer, a lanchonete que era fictícia na época que estreou Pulp Fiction.

Os ícones estão à venda. Quem dá mais?

Sonhos de um Sedutor será exibido neste sábado dia 12/04 às 19:30No SESC Cineclube Silenzio com entrada franca.

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