1.5.07

Acossado de Godard

SINOPSE


Desconsiderando as convenções formais da arte de fazer um filme, Godard apresenta uma narrativa fragmentada de um insignificante ladrão, Michel (Belmondo), indo de Marseilles à Paris em um carro roubado. Ao longo do caminho, ele mata um policial que tenta prendê-lo por excesso de velocidade. Já em Paris, ele convence uma relutante Patrícia (Seberg), sua namorada, a esconder o corpo, até ele receber um dinheiro que lhe devem. Depois, promete ele, ambos irão até a Itália. Neste ínterim, o crime de Michel já repercutira em vários jornais; ele então se esconde no apartamento de Patrícia onde, em uma inesquecível cena, eles discutem sobre livros e o flerte entre os dois, ele discursa sobre a morte, ela o informa que está grávida dele, e os dois fazem amor.

Um genuíno borra-botas, Michel Poiccard veste um traje de "valentão" com óculos escuros, terno, gravata e um chapéu de filme dos gângsters americanos dos anos 40. Ele rouba paquímetros, esvazia pneus, rouba carteiras, carros e assalta um homem em um banheiro masculino.

Quando ele é reconhecido na rua por um informante (o próprio Godard), a final e trágica perseguição se inicia. Um inspetor de polícia (Boulanger) visita Patrícia e mostra a ela a notícia do crime de seu namorado, alertando-a que, se ela não colaborar com a lei, diversos problemas iriam ser criados a ela. Uma diligência policial é formada para capturar Michel. Ele e Patrícia vão então ao cinema. Ela o ajuda a encontrar o homem que devia o dinheiro e o casal passa a noite na casa de amigos. Na manhã seguinte, ela liga para o inspetor e informa o paradeiro de Michel. Na rua, Michel está perto de pegar o seu dinheiro, quando é surpreendido pelo inspetor, que atira nele. Enquanto Michel colapsa, Patrícia assiste, impassível, à sua morte.


CRÍTICA


"Qualquer coisa vai" é o espírito por trás de Acossado, o retrato de Godard de dois personagens perdidos no labirinto do existencialismo de ruptura, como um raio em um mundo à margem de uma transformação social. O diretor tornou-se um "deus" entre a juventude e o filme é a grande conquista cinematográfica da Nouvelle Vague. François Truffaut foi aquele que relatando o fato.

Primeiro longa de Godard, Acossado é um espirituoso e romântico filme de perseguição com Jean-Paul Belmondo como um criminoso parisiense, e Joan Seberg como uma garota americana que, ocasionalmente, vive com ele. Godard, que dedicou esse filme de 90 mil dólares a Monogram Pictures, viu algo nos baratos filmes de gângster americanos que faltava aos filmes franceses; ele poetizou e o fez tão moderno (com rápidos cortes), que tornou-o uma das maiores influências para os filmes americanos dos anos 60. Aqui, ele trouxe elementos desarmoniosos - ironia, palhaçada e derrota - e buscou elementos psicológicos de diversos filmes para o seu próprio produto. O filme é leve, brincalhão e com toques de improvisação, até mesmo um pouco bobo. Os personagens, que são atordoados e desajeitados e não estão nem aí para nada, não são apenas familiares de uma maneira reveladora e excitante, eles são também terrivelmente atraentes.

Algumas participações especiais: o conhecido diretor Jean-Pierre Melville faz uma celebridade; Daniel Boulanger aparece como um inspetor de polícia; o próprio Godard como um informante; Truffaut e Chabrol.

Ao manter a história simples, Godard pôde fazer o que mais gosta: liberar o filme das convenções herdadas e empregar uma colagem de técnicas inovadoras - os chamados jump cuts, ângulos de câmera fora do comum e edição elíptica. Em uma cena, por exemplo, Godard senta-se em uma cadeira de rodas e, com a câmera no colo, filma ao longo da rua, seguindo os atores e forçando os espectadores a perceber o que é familiar, de uma maneira inovadora. Produz-se, dessa maneira, um imediatismo que deu a Acossado, como diz Godard, "um senso de viver no momento".

O estilo do filme tem um profundo efeito na história do cinema, abrindo o caminho, como observou um crítico, "para um cinema mais livre e pessoal". Também demonstrou aos cineastas o que os novelistas sempre souberam: que a maneira em que a história é contada pode ser mais importante do que a própria história. Acossado tem hoje um status de cult.


TRAILER:
Fonte: www.facom.ufba.br/ Acossado ( A Bout de Souffle)


Tempo de Duração: 86 minutos
Ano de Lançamento (França): 1959
Estúdio: Impéria / Société Nouvelle de Cinématographie / Les Films Georges de Beauregard
Distribuição: Impéria
Direção: Jean-Luc Godard
Roteiro: Jean-Luc Godard, baseado em estória de François Truffaut
Produção: Georges de Beauregard
Música: Martial Solal
Fotografia: Raoul Coutard
Desenho de Produção: Claude Chabrol
Edição: Cécile Decugis e Lila Herman

Elenco
Jean-Paul Belmondo (Michael Poiccard)
Jean Seberg (Patricia Franchisi)
Daniel Boulanger (Inspetor de polícia)
Jean-Pierre Melville (Parvulesco)
Henri-Jacques Huet (Antonio Berrutti)
Van Doude (Jornalista)
Claude Mansard (Claudius Mansard)
Jean-Luc Godard (Informante)
Richard Balducci (Tolmatchoff)
Roger Hanin (Cal Zombach)


SESSÃO: Dia 05/05
19:30hrs no SESC (endereço no topo da página)
ENTRADA GRÁTIS

6 comentários:

Anônimo disse...

É legendado em português??

CineClube Silenzio disse...

Sim sim, todos os filmes são legendados em português

Camy disse...

Gente, muito boa a "re-estréia" de vocês. Queria ter falado mais ontem, mas assim, de improviso, eu travo mesmo ;]
Depois que saímos de lá (foi mal, acabamos indo comer e o povo tinha que pegar ônibus pra ir embora :/), ainda ficamos discutindo sobre.
Pra semana que vem vou tentar ler alguma coisa sobre o filme e coisas relacionadas a ele pra poder falar decentemente.
Beijos!

CineClube Silenzio disse...

Valeu Camy, semana que vem temos um jogo de futebol entre os filósofos alemães contra os gregos, heheh
Esperamos seus comentários

Obrigado

Anônimo disse...

Após toda exibição, estamos realizando um debate entre o público e alguns especialistas de diversas áreas a respeito da temática específica discutida dentro do universo fílmico, estabelecendo assim um diálogo entre a plataforma cinematográfica e teórica.

No meu caso, delimito-me a discorrer sobre a Antropologia no filme "Acossado, relacionando então a leitura de Da Matta em "Carnavais, Malandros e Heróis" numa aproximação entre estes ritos e personagens marginalizados e a história contada por Godard.

Da Matta coloca que o malandro é um sujeito avesso às normas e ordenações sociais e determina por si suas leis, modos de conduta, comportamento, vestimentas, falas, enfim, agindo conforme uma regra estipulada por ele mesmo em contraposição à ordem estabelecida. Por outro lado, ele não é um mal-caráter, apesar de cometer pequenos golpes e "vender o almoço para comer na janta" fazendo-o se necessário às custas de outrem.

No caso do personagem principal (de Jean Paul Belmondo) o malandro "damattiano" é representado linearmente e em conformidade com tal leitura, mostrado inclusive em direto confronto com os "otários" que são alvo de suas chacotas, como por exemplo na parada militar em que ele é perseguido, ou o relacionamento direto que ele e seus afetos mantém com a polícia durante toda a narrativa.

Em contraponto a isso, o personagem, negando essa sociedade organizada e organizando-se de forma diferente conforme sua própria verdade, apaixona-se pela personagem de Jean Seberg, que apresenta-se como um meio termo entre a vida da malandragem e o pertencimento a sociedade que ele nega. É por este relacionamento, numa espécie de conflito entre sua vontade de ser "livre" e o desejo de relacionar-se com esta mulher, que ele sucumbe, traído por ela, que estabelece, por sua vez, a ponte real entre um mundo e outro.

Assim, ao meu ver, ele determina-se então como o malandro completo, pois morre sim pela mão de seus "inimigos" (inclusive a dela) mas seu último momento é de ofensa, assumindo completamente sua postura marginal ao mesmo tempo declarando sua aversão àquele mundo que ele continuou negando e do qual ela agora também faz parte.

Em resumo, conceitualmente no filme, a malandragem vem diretamente de encontro com as tradições morais, de ordem e preservação, numa batalha constante contra as mesmas na instância psicológica e física (no caso a polícia) que acabam sendo mais fortes por se tratar de um movimento coletivo enquanto o primeiro é individual. No caso do personagem, talvez por confiar demais no seu "taco" acreditando que aquela mulher pertencia ao seu mundo, acabou então traído pelo excesso de confiança depositada na mesma, esquecendo que o malandro, marginalizado e constantemente "caçado" pelo seu comportamento contraventor, deve dormir sempre com um olho aberto.

"Jacaré que marca vira bolsa..."

Anônimo disse...

Acossado inovou, isso é induvidável, fazia muito tempo (desde de Eisenstein) que algum não punha uma teoria do cinema em prática, essa teoria foi a de André Bazin, mestre dos garotos Godard e Truffaut. Godard pode ter virado um mala sem alça mas deixou uma grande obra que teve seu ápice na década de 60.

Acossado mostra toda a leveza exemplar que Godard dedicou a contar uma história muito simples que o deixasse livre para novos experimentos cinematográficos, críticas ferozes mas bem humoradas e uma desmitificação de Paris.

É um clássico e não há muito o que dizer sobre clássicos sem cair nas mandíbulas da redundância.

Porém vale dizer que este filme conseguiu unir Godard, Truffaut e Chabrol. O primeiro na direção, o segundo como co-roteirista e o último no design de produção.

Vale ainda para ver como as excentricidades de Godard (como escrever alguns diálogos pouco antes de rodar) ainda davam certo.