29.7.08

02/08 - O Fantasma da Liberdade (Luis Buñuel)

Neste Sábado Dia 02/08 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA






Várias situações independentes se sucedem, num filme episódico, sempre ligadas por um dos personagens. Mais uma parceria de Luis Buñuel com o roteirista Jean-Claude Carrière. Trama surreal e livre, uma sátira onírica e nonsense, na qual o diretor apela para a total inversão de valores no ataque à religião, à pátria e à família. O humor é erótico e violento. Uma das obras mais características de um diretor amaldiçoado pela igreja. Sem dúvida, mais uma obra-prima surrealista.

Gênero Arte
Atores Jean-Claude Brialy, Monica Vitti, Paul Frankeur, Paul Le Person, François Maistre, Claude Piéplu, Marie-France Pisier, Jean Rochefort, Milena Vukotic, Bernard Verley, Adriana Asti, Julien Bertheau,
Direção Luis Buñuel,
Idioma Francês,
Legendas Português
Ano de produção 1974
País de produção França, Itália,
Duração 104 min.
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Poesia, Surrealismo e Luis Buñuel:

“Um fantasma ronda o burlesco, O Fantasma da Liberdade

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

laysedoardo@gmail.com

“Para um neo-realista, (...) um copo é um copo e nada mais; nós o vemos ser tirado do armário, enchido de bebida, levado à cozinha onde a empregada o lava e talvez o quebre, o que pode ou não custar-lhe o emprego, etc. Mas esse mesmo copo, visto por seres diferentes, pode ser milhares de coisas, pois cada um transmite ao que vê uma carga de afetividade; ninguém o vê tal como é, mas como seus desejos e seu estado de espírito determinam. Luto por um cinema que me faça ver esse tipo de copo, porque este cinema me dará uma visão integral da realidade, ampliará meu conhecimento das coisas e dos seres e me abrirá o mundo maravilhoso do desconhecido, de tudo o que não encontro nem no jornal nem na rua.”

Luis Buñuel

Falar de Luis Buñuel exige, no mínimo, total desprendimento de normas, regras ou recalques. Trata-se, na verdade, de buscar no mais grotesco, no mais ridículo do próprio espectador, a função poética do cinema lírico do diretor. Buñuel realizou com maestria, ao longo de 38 filmes, o romance entre poesia e surrealismo num cinema “cru” de esteticismos, embora rico de sentidos sobre o cômico de alguns comportamentos civilizados. Exemplo disso é o longa O Fantasma da Liberdade, que já em seu título traz um trocadilho sobre a primeira frase do Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels: “Um fantasma ronda a Europa, o fantasma do comunismo”. Ora, sobre este aspecto, pouco pode ser dito, pois o diretor, defensor ferrenho das vias alternativas ao capitalismo e ao comportamento civilizado, buscou em várias fontes a fundamentação para seu surrealismo apaixonado.

O Manifesto do Surrealismo, escrito por André Breton em 1924, já apresentava em sua constituição a efervescência do período pós Primeira Guerra Mundial que a Europa, especialmente, estava vivendo. Aliás, o texto centra-se, sobretudo, na crítica à arte clássica não engajada, à arte contemplativa sem posicionamento crítico para com a realidade social, à art per l´art e o esteticismo vazio. O Surrealismo propõe, ao contrário disso, o uso da imaginação como fundamento básico para a produção artística de seus adeptos, embora não se constituísse, e nem tivesse o desejo de ser uma escola artística. Tratava-se meramente de um enfrentamento marginal aos criticados por eles.

Por outro lado também, Breton contemplou e recuperou antecessores tais como Baudelaire e Sade, entre outros; que serviriam igualmente de base e inspiração para as obras dos demais surrealistas. Por exemplo, em Un Chien Andalou e em L´Age d´or, dos anos de 1929 e 1930, respectivamente, e os quais, segundo o próprio Buñuel, propiciaram sua entrada no círculo surrealista, referem-se claramente aos ‘malditos’ clássicos para a construção de seus discursos, utilizados constantemente para dar o ‘tom’ absurdo presente nas obras.

Tendo por base as “normativas” surrealistas, Buñuel cumpriu em seus dois primeiros filmes, em parceria com outros surrealistas tais como Salvador Dalí e Max Ernst, rigorosamente a crítica artística, concentrada especialmente nos ranços burgueses da sociedade européia do início de século XX. Aliás, críticas duras à religião e a moral, por exemplo, tornaram-se recorrentes em toda a obra buñuelesca por praticamente cinqüenta anos. Destarte, segundo Wanderson Lima¹, dois pontos caracterizam a postura de Buñuel diante do cinema, de forma que estas influências acabam por formalizarem-se em uma espécie de assinatura do diretor, desenvolvida no decorrer de sua trajetória como cineasta. Ou seja, “a recusa do esteticismo e a assunção da precariedade material como opção estético-ideológica [...] e, de outro lado, o uso da imaginação, do humor negro, da poesia como invectiva contra a racionalidade; a problematização e a complexificação do que chamamos realidade”.

Buñuel, portanto, vai fundo na crítica aos mundos sociais, econômico, políticos e culturais, empregando um humor ácido que pode ser confundido com ‘mau gosto’ por alguns. Contudo, a intenção de mostrar e explorar a ridicularidade de algumas considerações acerca do mundo é contemplada ao conduzir o espectador pelo universo das etiquetas e regras subvertidas, tal qual a seqüência do jantar, que merece muito destaque, embora não possa ser adiantada aqui sob pena de perder seu impacto no contexto fílmico.

Por todos estes motivos, O Fantasma da Liberdade não pode e nem deve ser vítima de uma sinopse, de forma que, definido, embora não limitado como obra surrealista, é garantia de um espetáculo cinematográfico onde há a tentativa de transformar o absurdo em natural e o burlesco em cotidianidade, fazendo com que a subversão seja identificada pelo público e interpretada à revelia de suas próprias vivências.

¹LIMA, Wanderson. Surrealismo e Quixotismo no Cinema de Luis Buñuel, In Revista de Cultura #52, Fortaleza, São Paulo – julho/agosto de 2006. disponível em http://www.revista.agulha.nom.br/ag52bunuel.htm

O Fantasma da Liberdade de Luis Buñuel

será exibido neste sábado dia 02/08 às 19:30h

No SESC Cineclube Silenzio em Cascavel.

A entrada é gratuita

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