3.8.08

09/08 - Café da Manhã em Plutão (Neil Jordan)

Neste sábado dia 09 de Agosto às 19:30h
no SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA




Passado nos anos 70, em meio ao fervor dos conflitos entre britânicos e irlandeses, CAFÉ DA MANHÃ EM PLUTÃO é um filme "encantador, penetrante e cômico" (Michael Koresky, Interview Magazine) do diretor vencedor do Oscar® Neil Jordan (melhor roteiro original por Traídos pelo Desejo, 1993; Fim de Caso) e estrelado pelo indicado ao Globo de Ouro® de 2006 Cillian Murphy (Batman Begins) e pelo indicado ao Oscar® Liam Neeson (melhor ator por A Lista de Schindler, 1993). Patrick "Kitten" Braden (Murphy) é abandonado quando bebê e deixado na soleira da porta do padre Bernard (Neeson). Desde pequeno, Patrick percebeu que era diferente dos outros garotos se recusa terminantemente a mudar. Quando cresce, Patrick decide sair em busca de sua mãe verdadeira, que agora vive em Londres. Assim, começa uma comovente e divertida jornada que o levará a um lugar completamente inesperado. "Uma história colorida de Neil Jordan. uma irritantemente maravilhosa comédia. que celebra o poder da imaginação". (Stephen Holden, The New York Times).

Gênero Drama
Atores Cillian Murphy, Stephen Rea, Brendan Gleeson, Liam Neeson, Eva Birthistle, Liam Cunningham, Bryan Ferry, Gavin Friday, Ian Hart, Laurence Kinlan, Ruth McCabe,
Direção Neil Jordan,
Idioma Inglês,
Legendas Português, Inglês, Espanhol, Francês,
Ano de produção 2004
País de produção Irlanda, Inglaterra,
Duração 129 min.
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Transgêneros, Travestis e outros Ts

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

laysedoardo@gmail.com

“Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.”

Adélia Prado

Conforme discutido em outra ocasião, o comportamento sexual, segundo Foucault, engendra-se dentro de três características: “a consciência do que se faz, a maneira como se vê a experiência e o valor que se atribui” a ele, de modo que a questão de compreender, incluir e aceitar socialmente comportamentos sexuais antes considerados desviantes, centram-se na liberdade de escolha sexual e não do ato em si, de forma que “a liberdade de escolha sexual implica a liberdade de expressão desta escolha”, ou seja, “a liberdade de manifestar ou de não manifestar essa escolha”.

Tendo por base o filme Café da Manhã em Plutão de Neil Jordan, penso necessário considerar os Ts, ou seja, transgêneros ou travestis e transexuais, da imensa sigla atual do movimento GLS, leia-se GLBTTHI; a saber que estes indivíduos estão muito mais sujeitos ao preconceito, mais do que pela homossexualidade em si, justamente pelo fato de subverterem as regras de comportamento imposta aos sexos. Ora, gênero trata-se necessariamente do papel exercido por uma determinada pessoa com relação à sua condição biológica, ou seja, mulheres possuem papéis femininos e homens papéis masculinos. O travesti, hoje chamado de transgênero, justamente por este motivo, ao contrário do que postula o saber comum sobre o comportamento social, admite o papel ‘alheio’ para a sua pessoa, o que gera talvez o principal motivo da contenda contra tais homossexuais.

O que é necessário ser lembrado, mais do que as famigeradas discussões sobre atentado ao pudor, biologização da homossexualidade ou relativismos concernentes a assentimento por parte da sociedade, é o fato de tal comportamento ser histórico e ultrapassar nosso tradicional convencionalismo. Pierre Clastres em A Sociedade Contra o Estado, discute em um dos capítulos a existência de transgêneros em aldeias ‘primitivas’, mostrando principalmente que o papel exercido por eles em tal espaço é respeitado e considerado normal. Nesta aldeia, há uma restrição sobre os objetos utilizados pelos homens e pelas mulheres, ou seja, arcos e flechas para os primeiros e balaios para as últimas, havendo inclusive punições para aqueles que desrespeitarem tal regra. O transgênero feminino, a partir do momento que se assume enquanto tal, passa a conviver com as mulheres, manuseando o balaio e a restrição com o arco e flecha, mantendo relações sexuais com os homens da aldeia, e, sobretudo, reconhecido pelos demais habitantes tal qual qualquer outra mulher.

Tendo em vista tal discussão, reservo-me ao registro de uma fala de ‘N’, em uma entrevista cedida ao colega Juliano Diehl que realiza pesquisa antropológica sobre tal temática, deixando, assim, o leitor livre para estabelecer considerações sobre o tema: “Além do mais todo mundo percebe uma travesti que tá na rua... As pessoas ficam ‘meio assim’ de chegar conversar com uma travesti... (...) Andando no calçadão agora... E como a pessoa repara numa travesti... Como ela olha... Pode tá um elefante passando na avenida, mas elas tão vendo a travesti. Então é complicado...”.

Finalmente, em Café da Manhã em Plutão, Patrick um menino deixado pela mãe na porta de uma casa paroquial na Irlanda é adotado por uma alcoólatra que, ao descobrir sua homossexualidade, o rejeita. Patrick, porém, se desvencilha tanto do preconceito quanto do próprio conflito irlandês nos anos 70, recorrendo a sua imaginação com pequenas mentiras inocentes que o protegem da vida como ela se apresenta. O filme é belissimamente comandado por Neil Jordan (Traídos Pelo Desejo, Entrevista com o Vampiro) e dispõe da atuação magistral de Cilliam Murphy no papel principal. As cores lembram trabalhos de Pedro Almodóvar, sem cair jamais na narrativa pejorativa, num trato carinhoso aos seus personagens.

Café da Manhã em Plutão de Neil Jordan

será exibido neste sábado dia 09/08 às 19:30h

No SESC Cineclube Silenzio em Cascavel.

A entrada é gratuita.

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