9.7.08

12/07 - Sob o Domínio do Medo (Sam Peckimpah) + Ciclo Grandes Adaptações

Neste Sábado dia 12/07 às 19:30h>
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA



Tudo o que o pacato matemático americano David Sumner (Dustin Hoffman) queria quando se mudou para uma fazenda no interior da Inglaterra com sua jovem esposa Amy (Susan George) era paz e tranqüilidade para terminar seu livro. Mas seu sonho de encontrar o lugar perfeito se desfaz quando os homens que contratou para reformar sua garagem começam um jogo de intimidação e medo, progressivamente invadindo sua casa e desrespeitando o casal. David vai ser posto em uma dura provação e será levado até o limite para defender seu lar, sua honra e sua esposa. Marcante e perturbador, com brilhantes atuações de Dustin Hoffman e Susan George, em um dos melhores filmes de Sam Peckinpah.
Gênero Suspense
Atores Dustin Hoffman, Susan George, Peter Vaughan, T.P. McKenna, David Warner, Colin Welland, Cherina Mann, June Brown, Donald Webster, Chloe Franks, Peter Arne, Jim Norton,
Direção Sam Peckinpah,
Idioma Inglês,
Legendas Português
Ano de produção 1971
País de produção Inglaterra,
Duração 118 min.
LEMBRANDO QUE NO DIA 14/07 COMEÇA O CICLO GRANDES ADAPTAÇÕES
O GRANDE GATSBY, O PROCESSO, ALMOÇO NU, RICARDO III
- no domingo, a programação completa

Sam Peckimpah:

Decifra-me ou devoro-te

Vander Colombo

É uma tarefa ingrata falar do filme Sob o Domínio do Medo de Sam Peckimpah, principalmente porque é uma incógnita falsamente decifrada pela burlesca crítica brasileira.

Os mais moralistas dizem se tratar de “um homem pacífico tendo que recorrer a atitudes drásticas em meio a uma situação violenta”, balela! Seria uma desonra à memória do diretor dizer que ele trataria uma narrativa sua de forma tão banal e simplista. O fato é que Peckimpah, já foi chamado de tudo, de esteta da violência, de machista chauvinista, de bruto, e sinceramente nem sei se ele se importava em defender-se dessas acusações, pois sua área com certeza, sempre foi o universo masculino, seja fraternal, seja misógino quando seu personagem lhe pede. Sob o Domínio do Medo trata, falando “diegeticamente”, sobre a transformação do primeiro no segundo, por força de terceiros.

Quando David (Dustin Hoffman) um matemático americano chega de mudança junto com sua sexy esposa à cidadezinha natal desta, no interior da Inglaterra, já é um prenúncio da disputa masculina que irá se seguir e logo se sabe também que irá haver sangue.

David é um intelectual, tem bons modos, é um típico gentleman nova-iorquino, é casado com uma mulher sensual que porém, digamos, não desfruta dos mesmos dotes cerebrais dele. (é disso que em geral as mulheres desgostam, as personagens femininas de Peckimpah de um modo geral são vilanescas, porém isso nada mais é, que uma artimanha de intensificação do universo fálico, que permeia a obra do diretor, a saber que esse incomodou mais que outros pois na maioria era westerns onde esse desenho de personagem feminino é comum.) Logo, os brutalizados habitantes do proletariado local já colocam os olhos sobre a bela moça que retorna e parece insatisfeita com seu marido fraco (para eles, em todos os sentidos).

Uma prova deste universo de Peckimpah é francamente exemplificada em todas as cenas aonde David vai ao bar a querer se enturmar ou enfrentar os homens locais. A guerra de testosterona tipificada nos homens brutos e fortes contra o intelectual débil. Porém é aí que Peckimpah se encaixa num perfeito intermédio, suas metáforas são cínicas e corrosivas, e acabou sendo isso o que mais incomodou, causando tanto a esse quanto a Laranja Mecânica de Kubrick, uma proibição de décadas.

Seja na representação do animal hibernado que acorda quando se liberta das amarras sociais que definem seu comportamento, ou na crítica implícita da sociedade americana reservadamente excêntrica, porém extremamente violenta quando seu espaço é invadido, ou ainda pela defesa da chamada TFP versus proletariado. O certo é que Peckimpah forjou um filme de múltiplas conclusões e colocou com esse, seu nome no hall dos melhores diretores reacionários ianques, esbanjando habilidade de direção, roteiro e direção num filme que leva a tensão até seu extremo para encerrar com os 20 minutos que figuram entre os mais brutais e crus da história do cinema.

O filme Sob o Domínio do Medo, será exibido neste sábado dia 12/07 às 19:30h

No SESC Cineclube Silenzio.

A entrada é gratuita.

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Diferentes, Desiguais e Desconectados

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

laysedoardo@gmail.com

“Deus sabe que, entre gatos e pombos, eu sou francamente pela primeira espécie. Acho os pombos um povo horrivelmente burguês, com seu ar bem-disposto e contente da vida, sem falar na baixeza de certas características de sua condição, qual seja a de, eventualmente, se entredevorarem quando engaiolados.”

Vinicius de Moraes

Diferentes, desiguais e desconectados” é o título de um livro do sociólogo mexicano Nestor Garcia Canclini, que me utilizo nesta situação para definir a situação a qual estão sujeitos os indivíduos em mesma circunstância da vivida pelas personagens de Sob o Domínio do Medo. No filme, o casal protagonista muda-se para uma cidadezinha inglesa e é logo estigmatizado, sofrendo dos demais moradores, as implicações de serem outsiders. E é Norbert Elias quem discute profundamente a relação entre os Estabelecidos e Outsiders, por coincidência, também em uma pequena cidade inglesa, apontando que tal dicotomia está presente em praticamente todos os âmbitos da sociedade, de forma que reflete a construção das hierarquias classificatórias e/ou ordens de status presentes nas relações sociológicas.

Vale como “superior” a imagem do grupo de estabelecidos (estabelecidos de uma forma ou outra, seja econômica, social, tradicional ou legitimada por qualquer outro aspecto) que se sobrepõe aos demais grupos, através de mecanismos de violência simbólica, que podem, deste modo, ser considerados como manifestações de relações de poder, que vão além das instâncias meramente institucionais de legitimação. Trata-se de um enfrentamento de grupo a grupo e de pessoa a pessoa.

A exclusão e estigmatização a que estão sujeitos todos os grupos e indivíduos, que, logicamente, dependentes da relação com os demais, excluem e estigmatizam da mesma forma que são excluídos e estigmatizados, fazem com que seja percebida a presença de solidariedade, uniformidade, normas e autodisciplina dentro do grupo dos estabelecidos e o conseqüente aspecto referente aos mecanismos de controle para a manutenção do pertencimento à determinada comunidade, tendo em vista a integração dos pertencentes e a exclusão dos indesejáveis.

No que diz respeito ao funcionamento das comunidades outsiders é possível perceber a influência da opinião dos estabelecidos sobre essa, mais do que a própria exclusão realizada pela última, de forma que orientam a manifestação de superioridade a partir do mérito e do carisma e conseqüentemente da manutenção do controle comunitário por sobre os “inferiores”, que suprimidos acabam em muitos casos percebendo a si próprios como tais.

Tendo em vista que diversos fatores são determinantes para a conformação de tal fenômeno, é preciso levar em conta que o entendimento sociológico deve dar conta também de um emaranhado de concepções, figurações e fantasias coletivas e individuais que influencia os relacionamentos entre comunidades e indivíduos por meio das auto-imagens e das imagens que se tem dos demais.

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