18.7.08

19/07 - Faça a Coisa Certa (Spike Lee)

AVISO: Devido as pequenas platéias do ciclo anterior e às atividades culturais no 2º Festival Internacional de Cascavel, não haverá CICLO GRANDES COMEDIANTES na semana que vem.


NESTE SÁBADO DIA 19/07 às 19:30h
No SESC Cineclube
ENTRADA GRATUITA


Negros e brancos entram em choque dentro de uma pizzaria, após um longo dia de verão. Spike Lee, também autor do roteiro, baseia-se num episódio verídico para discurtir e polemizar sobre os conflitos raciais nos EUA. Exibido no festival de Cannes, o filme consagrou de vez o diretor, que também ganhou uma indicação ao Oscar® pelo roteiro. Exibido no festival de Cannes, o filme consagrou de vez o diretor, que também ganhou uma indicação ao Oscar® pelo roteiro.
Gênero Drama
Atores Danny Aiello, Ossie Davis, Ruby Dee, Richard Edson, Giancarlo Esposito, Spike Lee, Rosie Perez, John Turturro, Bill Nunn, John Savage,
Direção Spike Lee,
Idioma Inglês, Espanhol,
Legendas Português
Ano de produção 1989
País de produção Estados Unidos,
Duração 120 min.
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Fazendo a Coisa Certa

Vander Colombo

Não, desta vez vou tentar não ser redundante, principalmente se tratando de fatos históricos. Afinal, todos sabem que os negros sofreram um genocídio inalterável há séculos, todos sabem o quanto foram humilhados e explorados sob a sombra de instituições que os declaravam pessoas sem alma.

Mas se todos sabem, por que o genocídio ainda ocorre de maneiras disfarçadas? Por que continuam sendo humilhados e explorados seja economicamente seja nos programinhas “quero ser Mussolini” que povoam nossa televisão local no horário do meio-dia? Por que as religiões afro são duramente estigmatizadas, “jocosisadas” e relegadas a clandestinidade por um cristianismo que ainda não lhes concedeu alma?

Interpelar essas retóricas parece ter sido a missão de vida do diretor afro-americano Spike Lee principalmente em sua primeira fase, onde Faça a Coisa Certa figura como baluarte principal.

Neste em especial, ele coloca numa dura batalha, estigmatizados versus estigmatizados, italianos, coreanos, latinos e negros num único bairro de Nova Iorque onde parecem terem sido programados para matarem-se entre si enquanto fingem conviver em harmonia, mas não precisamos ir tão longe, segundo depoimentos no documentário de Kátia Lund, Notícias de uma Guerra Particular, desde que “desprovidos” foram isolados em favelas no Brasil, houve violência, porém essa violência só se tornou manchete quando desceu o morro e atingiu a classe média, por conta disso, o sonho desta, da policia e dos demais “cidadãos”, é que eles (os miseráveis) voltem a se matar entre si apenas, para que aqueles continuem sonhando viver num país desenvolvido.

Nisso, Faça a Coisa Certa funciona como um conto moral para todos os povos. Bedford-Stuyvesant, Brooklyn, a maioria dos habitantes do bairro são negros e latinos, a região é umas das mais pobres da Grande Maçã. Numa pizzaria, no dia mais quente do ano, os ânimos começam a se inflamar quando um ativista negro reclama que o estabelecimento do ítalo-americano tem apenas fotos dos descendentes daquele na parede de celebridades, nenhum afro-americano. Isso, associado ao pavio curto causado pelo calor é que vai acender a bomba que cada qual trazia escondida sob quilos de hipocrisia.

Uma das cenas que mais assustou na época do lançamento limita-se a personagens de todas as etnias espumando ofensas uns aos outros olhando para a câmera. Mais catártico impossível.

É assim que Spike Lee consegue ser imparcial e justifica o porquê tentar resolver tudo com um aperto de mãos, tão pregado pelo cinema ianque, é apenas um samba de banquelo doido, isso para uma etnia destroçada por mais de meio século seria novamente render-se e voltar pra “favela”, pro “bairrão” numa diária exploração. O que começou com sangue não irá se resolver com pombos.

Por conta disso, o filme é tão perigoso quanto necessário, e evoca a racionalização da Coisa Certa, o que logicamente nunca terá o mesmo sentido para todos.

O filme Faça a Coisa Certa será exibido neste sábado dia 19/07 às 19:30h às 19:30 no SESC Cineclube Silenzio, a entrada é gratuita.

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Ciências Sociais e o Preconceito,

ou a tentativa de fazer a coisa certa

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

laysedoardo@gmail.com

O homem de agora é como a multidão: ativo e imediato. Não pensa, faz, não pergunta, obra, não reflete, julga.

João do Rio

Para iniciar qualquer discussão a respeito do filme Faça a Coisa Certa é preciso retornar à gênese das Ciências Sociais, inclusive sobre seu caráter bastante sectarista na época, apesar de realizar-se como um fenômeno bastante inusitado e progressivo. A propósito, cabe aqui lembrar que Auguste Comte, fundador da ciência sociológica, foi o responsável por forçar a distinção entre ciências da natureza (físicas e biológicas) das ciências do homem social, tendo como mote o fato de o objeto de estudo de tal área do conhecimento exigir diferente abordagem. A partir daí, algumas considerações sobre o homem moderno, sabendo-se, entre outros fatos, submetido ao nascimento da indústria e dos Estados-Nação, por exemplo, direcionaram-se para a fundamentação de tal mudança histórica e de todas as suas conseqüências, positivas e negativas.

Anos mais tarde, com o avanço do desenvolvimento, a Antropologia também se legitima como ciência social, apresentando novos argumentos racionais e científicos, a fim de justificar determinados fatos. Sendo eles os que merecem um pouco mais de atenção nesta discussão. Ora, a Antropologia, hoje, a ciência das culturas, das diferenças, da pluralidade, foi utilizada em sua infância para alicerçar concepções evolucionistas entre os povos, tendo como pedra fundamental a famigerada concepção da distinção negativa entre primitivos e civilizados, “autorizando” ao último grupo a dominação dos “menos capazes”.

Hoje, após muitos estudos sobre ambos os grupos e a superação de terminologias tais como “evolução” e “raça” (substituída por etnia), além de alguns tropeços, reconheceu-se uma infinidade de coletivos, identidades e outras peculiaridades, embora ainda perdure, por parte dos grupos, posicionamentos preconceituosos que vão da expressão sexual à etnicidade, religiosidade, classe social, gosto musical e assim infinitamente.

As Ciências Sociais nasceram em um período turbulento, e mesmo sem querer, fundamentaram o preconceito alheio, esforçando-se hoje, com a ajuda de muitos aliados, tal qual Spike Lee, diretor de Faça a Coisa Certa, para dar conta das diferenças, sem contudo, causar distância. Aliás, destaque para a seqüência em que diversas personagens (de diversas etnias) exprimem seus sentimentos com relação aos demais, vozes não menos autorizadas do que aquelas que disputam espaço no mundo real.

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