21.7.08

26/07 - O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante (Peter Greenaway)

Neste Sábado dia 26/07 às 19:30h
no SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA



O gângster Albert Spica (Michael Gambon, de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban) janta todas as noites no restaurante Le Hollandais em companhia de seus capangas e da esposa, Georgina (Helen Mirren). Cansada dos modos violentos e grosseiros do marido, Georgina flerta com um solitário freqüentador do restaurante, o bibliotecário Michael (Alan Howard).

Com a cumplicidade do chefe de cozinha francês, Richard (Richard Bohronger), os dois amantes fazem sexo às escondidas no banheiro e na despensa do restaurante, enquanto Albert devora prato após prato em sua mesa. Quando Albert descobre a traição da esposa, desfecha uma cruel vingança contra Michael, que por sua vez será vingado por Georgina.

Recheado de violência, escatologia e canibalismo, este filme do inglês Peter Greenaway é um banquete para os olhos. Com a cumplicidade do fotógrafo Sacha Vierny e do estilista Jean-Paul Gaultier, Greenaway realizou uma das mais requintadas obras-primas do cinema contemporâneo.


Gênero Drama
Atores Richard Bohringer, Michael Gambon, Helen Mirren, Alan Howard, Tim Roth, Ciarán Hinds, Liz Smith, Gary Olsen, Ewan Stewart, Roger Ashton-Griffiths,
Direção Peter Greenaway,
Idioma Inglês,
Legendas Português,
Ano de produção 1989
País de produção Inglaterra, França, Holanda,
Duração 124 min.
-----------------------------------------------------------------------------------------------

Perfumaria em açougues

Vander Colombo

“Se você quiser contar histórias, seja um escritor e não um cineasta”

Peter Greenaway

Peter Greenaway me é assunto dos mais delicados, principalmente quando se trata de um assunto doméstico e qualquer sílaba que destoe me pareceria parricídio. Este senhor inglês me foi uma das maiores desculpas para escolher o ramo do cinema como única e derradeira condição de vida. E confesso: tenho ciúmes de Peter Greenaway. Isso responde o porquê escalei poucos filmes deste para exibições do cineclube, foram apenas duas outras vezes, O Bebê Santo de Mâcon e Afogando em Números, ambos traduzidos com não pouca dificuldade por este aprendiz de colunista quando ainda começava a me envolver com este trabalho. Em ambas as ocasiões, senti dores ao perceber o desdém de alguns no ofício de não tentar entender aquela amálgama de pequenos enigmas artísticos e matemáticos, o que me fazem rever seus filmes como um arqueólogo em busca de pequenas pistas que levam a grandes tesouros. São os já famosos “eastern eggs” só que embutidos no próprio filme muito antes de terem essa denominação.

Mesmo assim, creio que mesmo silenciosos, nas sessões anteriores nasceram outros arqueólogos, que como disse um crítico britânico, apreciam a ação do boticário dentro de açougues, uma bela metáfora para o uso da arte barroca requintada em choque com a violência mundana e a sexualidade bestial, elementos caríssimos na obra de Greenaway.

Até para que talvez mais se interessem em não ver com superficialidade a obra do diretor, duas coisas são imprescindíveis, a primeira, a epígrafe deste texto, a segunda, o filme deste sábado: O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante, um dos filmes do inglês com o enredo mais simples, embora combinando as duas coisas ver-se-á que o enredo é o que menos importa.

O título já revela muito, há um criminoso que freqüenta todos os dias o mesmo restaurante que ele mesmo banca e onde trabalha seu chef favorito. A mulher do criminoso é uma mulher elegante que freqüentemente sofre abusos do marido grosseirão e acaba se apaixonando por um cliente do restaurante, tendo encontros com este no próprio lugar, alcovitados pelo cozinheiro. O violento marido ao descobrir arma uma cruel vingança, mas não conta com o fato que sua esposa pode ser calculista quando atacada.

Greenaway usa uma história simples para com ela destilar inúmeras metáforas requintadas e com o auxilio da direção de arte, fotografia, figurino e trilha sonora construir verdadeiras pinturas em movimento, enchendo os olhos e satisfazendo os paladares mais requintados, ao mesmo tempo, lhe dando água na boca e minutos depois lhe exigindo um estômago dos mais fortes.

O filme “O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante” será exibido neste sábado dia 26/07 às 19:30h no SESC Cineclube Silenzio. A entrada é gratuita

------------------------------------------------------------------------------------------------

Mulher e a Traição Avant-Garde

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

laysedoardo@gmail.com

"Os lábios da meretriz destilam favos de mel, e as suas palavras são mais suaves do que o azeite; mas o fim dela é amargo como o absinto. A infidelidade, ainda que possa ser excitante e doce no seu início, costuma ter um fim amargo como a losna."

Provérbios 5, 1-4

Peter Greenaway e toda a sua produção, exigem muita reflexão, e isso, desde a construção da narrativa ao comportamento das personagens, considerando-se o fato de sua produção cinematográfica vir carregada de elementos exteriores a ela mesma, o que exige do espectador, o máximo da atenção. Neste caso, principalmente no que diz respeito ao inter-relacionamento de o Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante, no filme de mesmo título, considerar apenas a aparência da interação faz com que o ambiente e a própria narrativa percam parte de seus sentidos. Ora, é fundamental levar em conta a profundidade do trato na existência das personagens e suas funções “no mundo”, por exemplo, pela mudança de emoções presente na troca de cores e figurinos da personagem que transita entre as salas do restaurante, haja vista o fato de que ela (no caso a mulher) pode ser considerada o elemento central da interação entre os demais.

Tendo em mente tais fatos, da profundidade simbólica do filme e da personagem feminina como bedel da narrativa, é preciso considerar diversos vieses para realizar uma breve e modesta análise sociológica, sabendo-se que além da questão de gênero envolvida no caso há outros fatores, tais como posições e papéis sociais, emoções pessoais, subversão, etc. Aliás, como dito, Greenaway não consegue ser simples, aborda inclusive a vivência de suas personagens de forma complexa, pinçando por vários ângulos a tomada de decisões daquelas, no mais das vezes por caminhos bastante atípicos aos olhares mais desatentos.

Além do mais, as situações apresentadas por Greenaway, principalmente no que diz respeito às mulheres, partem geralmente de uma figura passiva, simples e superficial que no decorrer dos acontecimentos, transforma-se num sujeito ativo e determinado, talvez mais sádico do que aquelas criadas por Nelson Rodrigues. De todo modo, este inter-relacionamento citado faz mais sentido dentro do contexto fílmico, pois como dito, muito do que pode ser tomado para a interpretação, vêm dos aspectos visuais, e arquitetônicos utilizados pelo diretor.

Talvez, para finalizar, seja interessante ainda citar uma importante questão, aqui emprestada do filósofo Gilles Deleuze, a respeito do regime de traição universal, onde um traidor volta-se contra todos os trapaceiros em um movimento duplo, de separação, onde enquanto o trapaceiro tem algum futuro (e não devir, nas palavras do autor) o traidor rompe com o antigo estado de coisas e consegue dar origem a algo novo, idéia esta que amplia um pouco mais a perspectiva discutida e dá nome ao papel da mulher no filme de Greenaway.***

Um comentário:

Anônimo disse...

Greenaway apavora. Estarei lá. Abraços.