26.6.08

28/06 - Trem da Vida

Neste Sábado dia 28/06 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
Entrada Gratuita



Trem da Vida (Train de Vie)
Em 1941, um vilarejo na Europa Ocidental recebe o alerta de que os nazistas estão chegando para deportar todos os judeus. Quem dá a notícia é Schlomo, o bobo da aldeia, que é o único capaz de sugerir uma saída: os próprios habitantes irão forjar um trem nazista, interpretando eles mesmos os alemães, os maquinistas e os deportados. Antes da chegada dos verdadeiros nazistas, o trem parte com destino à Terra Prometida. Tudo vai conforme planejado, exceto pelo fato de que as encenações começam a ficar cada vez mais realistas. Os nazistas se tornam mais autoritários; os deportados começam a tramar uma rebelião contra seus falsos algozes, e outros se declaram comunistas, querendo lutar contra os fascistas, os burgueses e os imperialistas. Vencedor de inúmeos prêmios em todo o mundo, O Trem da Vida é um dos melhores filmes dos últimos tempos sobre o Holocausto. Tanto que teria servido de inspiração para Roberto Benigni realizar A Vida É Bela.
Atores Lionel Abelanski, Rufus, Clement Harari, Michel Muller, Agatha de La Fountaine,
Direção Radu Mihaileanu,
Idioma Francês,
Legendas Português,
Ano de produção 1998
País de produção França, Bélgica, Holanda,
Duração 103 min.
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Trem mais belo que a vida

Vander Colombo

O Trem da Vida de Radu Mihaileanu saiu cerca de meio ano depois de A Vida é Bela de Roberto Benigni. Pudera, o segundo tinha uma certa garantia de ganhar alguma coisa no Oscar daquele ano, principalmente depois que João Paulo II revelou ter chorado numa das exibições teste. Logicamente numa situação dessas é normal a antecipação e a pressa em lançar o filme a tempo de poder concorrer ao prêmio da academia. Resultado: três Oscar para a produção italiana, inclusive o estranho prêmio de melhor ator para o próprio Benigni, que para quem não conhece é uma espécie de “Didi” para adultos italiano.

Não se tire o mérito, A Vida é Bela é um filme bonito, mas um filme que não faz jus ao Holocausto. Aliás, como a maioria dos filmes que procuram tratar do tema aos moldes do cinema comercial. É o caso também de A Lista de Schindler de Steven Spielberg. Numa conversa com o roterista de Eyes Wide Shut (De Olhos Bem Fechados), Stanley Kubrick perguntava se lembrava de algum filme que já tivesse falado sobre o holocausto em Hollywood, o roteirista citou alguns nomes antes de citar Schindler, ao qual Kubrick devolveu: “Aquilo é um filme sobre o sucesso, não acha? O Holocausto é sobre 6 milhões de pessoas que foram exterminadas, A Lista de Schindler é sobre 600 que não foram. Mais algum?”[1]

A Vida é Bela, segue o molde do filme de mainstream, centralizando-se em uma família, que apesar das lágrimas é redentor. E como sabemos historicamente nenhum conflito onde uma etnia foi dizimada quase que completamente poderia ser redentora, alguém chamaria de redentora a história dos indígenas das Américas?

Agora você pode gostar ou não de Trem da Vida, porém este erro ele não comete, pois da mesma maneira que o filme italiano, ele injeta humor no assunto, embora seja um humor bem mais preso à História do que o humor físico do outro. Poderia se dizer que Trem da Vida é uma comédia que não desce sem engasgar.

A fita fala sobre judeus de uma pequena vila da Romênia que conseguem comprar um trem e planejam disfarçar-se de nazistas e fingir que levam os judeus para os campos de concentração, enquanto os conduzem à “terra prometida”. Numa comédia normal isso cairia facilmente em piadas chulas e quem sabe até anti-semitas, o que não acontece aqui, onde o respeito pela tragédia se mantém acima de qualquer riso, o que lhe rende uma reverência maior.

Ainda não “O” filme sobre o assunto, porém a arte apesar de seu poderio, por vezes pode sentir-se intimidada diante de assuntos aos quais nem mesmo se tem como explicar, ainda mais quando continuam acontecendo em menor escala e de maneira disfarçada, seja com os já citados indígenas, sem-terras, negros, homossexuais e "outros marginais".

O filme “Trem da Vida” será exibido neste sábado dia 28/06 às 19:30h no SESC Cineclube Silenzio. A Entrada é Gratuita.


[1] RAPHAEL, Frederic – Kubrick, De Olhos Bem Abertos – Geração Editorial – Pg. 103

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Trem da Vida: Identidades e Transposição de Fronteiras

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

laysedoardo@gmail.com

A perseguição nazista aos judeus é alvo de diversas abordagens, das ciências às artes, de forma que ultrapassa os fatos e reverbera-se, tal qual em Trem da Vida, como uma articulação entre subjetividades e juízos de valor. Neste caso, o mote é o embate entre as fronteiras identitárias dos dois grupos e o comportamento dos seus membros. Deste modo, identidade pode ser definida como um elemento capaz de determinar a posição dos agentes, e por esta razão, orientar também suas representações e escolhas, de forma que é elaborada em uma relação que opõe um grupo aos outros que este mantém contato.

Não há identidade em si nem para si, pois ela somente existe em relação a uma outra. Ou seja, a identificação é ao mesmo tempo diferenciação, pois na tentativa de participarem ativamente e de forma estável na multiplicidade cultural, os membros do grupo exprimem em seus comportamentos, características próprias e, no mais das vezes exclusivas, buscando uma autenticidade visível. A reunião em grupos então, que é regra básica para uma existência completa do indivíduo, rotula e exige, conforme a atuação diante do diferente, um comportamento determinado por estruturas maiores, tais como a moral, religiosa e cultural – no sentido de apreensão de mundo – para que este seja considerado pertencente e participante do grupo que considera como seu.

Identificar-se e ser identificado faz parte do primeiro acesso à uma identidade grupal caracterizando o pertencimento de semelhantes, quando há necessariamente a apropriação e/ou fixação de diversos símbolos identitários de reivindicação. Ou seja, o grupo define normas de conduta, comportamento e apresentação que deverão ser seguidas por todos aqueles que desse fazem parte, podendo assim, ser distinguido e distinguir-se diante de “não semelhantes”, fazendo deste processo o ponto crucial da dicotomização Nós/Eles. Por fim, estes três artifícios, se fazem completos com o realçamento de traços étnicos por saliência na interação, quando os indivíduos ou grupos em contato demonstram suas características distintivas para imporem-se enquanto grupo.

Estes critérios estipulados pelo grupo, internalizados e expressados pelos indivíduos pertencentes, denotam e identificam impressões categóricas de classificação recorrentes à pessoas de uma mesma matriz cultural. Cabe então ao grupo desenvolver e manejar os mecanismos, que são simbólicos na maioria das vezes, utilizados para este afastamento dos indesejáveis, estabelecendo critérios exclusivos, entre eles cor, língua, vestimentas. E no caso de o Trem da Vida, insígnias, fardas e quepes.

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