17.6.08

21/06 - Alphaville (Jean-Luc Godard)

Neste Sábado dia 21/06 às 19:30h
no SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA

Alphaville (Alphaville, une étrange aventure de Lemmy Caution, França, Itália, 1965)
Títulos Alternativos: Agente Lemmy Caution, missione Alphaville / Alphaville / Alphaville, a Strange Adventure of Lemmy Caution / Alphaville, a Strange Case of Lemmy Caution / Dick Tracy on Mars / Tarzan vs. IBM
Duração: 99 min.
Diretor(es): Jean-Luc Godard
Roteirista(s): Paul Éluard, Jean-Luc Godard
Elenco: Eddie Constantine, Anna Karina, Akim Tamiroff, Valérie Boisgel, Jean-Louis Comolli, Michel Delahaye, Jean-André Fieschi, Christa Lang, Jean-Pierre Léaud, László Szabó, Howard Vernon
Sinopse: Título: Alphaville. Sinopse: "Uma fusão inteligente de ficção científica, personagens de H.Q., e poesia surrealista; uma viagem irreverente de Godard na misteriosa Alphaville, que permanece como um dos melhores filmes convencionais de todos os tempos. Eddie Constantine estrela como o herói intergalático Lemmy Caution, com a missão de matar o inventor do computador fascista Alpha 60. Uma missão nada fácil, porque a sinistra comunidade é controlada despótica e cuidadosamente pelo supercérebro eletrônico."
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Tarzan contra a IBM

Vander Colombo

Godard já foi o maioral. Na década de 60 o diretor francês figurava entre os maiores artistas do mundo, a Nouvelle Vague ainda estava em seus anos áureos, e principalmente todos os seus colaboradores trabalhavam juntos. Sendo assim um exemplo como Acossado que tinha Godard na direção, Truffaut no roteiro e Chabrol na fotografia, não seria mais visto com tanta facilidade.

Mas graças ao sistema de Home Vídeo é possível no mundo cinematográfico fazer viagens no tempo e voltar a épocas onde tudo no cinema francês era perfeito, e essa viagem ao passado vai de encontro à viagem ao futuro de Godard, Alphaville, considerado por muitos, um dos melhores filmes do diretor e um dos melhores do gênero.

Alphaville é uma mistura de ficção científica com filme noir; uma mistura de Foucalt com Marx, Orwell e Aldous Huxley; de filme político com comédia social ácida.

O detetive Lemmy Caution chega a Alphaville um planeta onde as pessoas são proibidas de ter sentimentos, e que é governado por um robô ditador chamado Alpha 60 que mantêm seu totalitarismo emburrecendo a população. A missão de Caution então é convencer o criador da máquina a desligá-la.

Com essa trama simples, Godard se viu livre para fazer todo e qualquer tipo de crítica não a uma sociedade futurista, mas a de 1965 até hoje. Alpha 60 poderia ser visto como um ditador humano, ou como a televisão nos dias de hoje, o que o deixa mais atual que nunca. Há críticos que dizem que Alpha 60 foi uma profecia para o que conhecemos hoje como MTV. Não deixa de ser um paralelo curioso e com suas razões, pois o filme segue justamente este tipo de humor cáustico, poupando poucos e expandindo sua fúria às proeminentes ditaduras direitistas que estavam acontecendo aos poucos sob o aval dos Estados Unidos. Justamente por isso não é à toa que os nomes próprios do filmes provêm da língua inglesa apesar do filme ser falado em francês.

Para criar esse futuro, Godard não foi muito longe, Alphaville é a Paris dos anos 60 com robôs jogados aqui e ali, ao invés de tentar fazer efeitos especiais sem dinheiro, o que era comum ao cinema sci-fi da época. Godard preferiu utilizar a cor, ou a falta dela, para além do dito, intensificar o choque com o mundo futurista e tecnológico.Sendo assim, usou pouquíssima luz, trabalhando com zonas de branco estourado e negro absoluto (fazendo uma bela referência artística ao código binário), ao invés do cinza, caro à Hollywood.

Utilizando-se de uma linguagem complexa em sua simplicidade que em nada lembra a verborragia intelectual masturbatória usada em seus últimos filmes, Godard parecia ainda na época lembrar que sua mensagem só teria sentido se absorvida pela massa, e não elitizada à doutores letrados que somente a remasturbam fazendo-a extinguir-se em sua própria intenção, num repelente círculo vicioso.

Godard já foi sim, o maioral. Iniciou uma das melhores fases da cinematografia brasileira com Rogério Sganzerla, Carlos Reichenbach e Julio Bressane, entre Glauber e Person que já tentavam manter o cinema político vívido no cenário nacional. E que falta faz Godard quando este mesmo cenário hoje está repleto de um comercialismo torpe, de um fascismo disfarçado em ação pueril aclamado por uma crítica despreparada que iniciou sua caça às bruxas aos títulos com viés na crítica social, e que por sua vez, infelizmente perdeu seu guru para o próprio ego deste.

O filme Alphaville será exibido neste sábado 21/06 às 19:30hs

No SESC Cineclube Silenzio

A entrada é gratuita.

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“Sorria, você está sendo filmado”

Mecanismos de Controle Social

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

laysedoardo@gmail.com

“O preço da liberdade é a eterna vigilância”

Thomas Jefferson

Embora resistindo de alguma forma aos processos disciplinatórios, o indivíduo é condicionado pelas estruturas sociais, haja vista o fato de que a socialização, prescritivamente, acaba prevendo determinadas escolhas dentro de um rol pré-estabelecido para o sujeito. Este sujeito escolhe, igualmente, uma determinada ação e sob as regras institucionais e disciplinas diluídas, sofre as conseqüências por aquelas. Sendo neste sentido, ‘livre’ para agir ainda que coagido pela sociedade como um todo. Deste modo, compreender as relações de poder diluídas na sociedade vai muito além de apenas considerar o papel das instituições, de grandes grupos legitimados ou do Estado, por exemplo. Implica em reconhecer o fato de que há um construto coercitivo que influencia escolhas e direcionamentos pessoais do indivíduo desde o seu nascimento, de forma que se utilizando de mecanismos violentos ou não, capacitam o homem a viver em conjunto com os demais.

Hoje, a socialização, ou seja, o processo pelo qual o homem é inserido de fato no relacionamento com os demais e que se realiza durante toda a vida, se configura a partir de mecanismos de controle responsáveis pela virtualização das ações de violência legítima antes empregadas. Ora, enquanto o poder era realizado através da detenção de determinados saberes, como no caso do papel desempenhado pelos intelectuais universais colocados por Foucault na Microfísica do Poder, hoje se realiza pela manipulação de um pode disseminado que dá a falsa impressão da possibilidade de detenção de saber por todos. Ou seja, a partir da especialização e da formação continuada daqueles condicionados pelas instituições de ensino, há um falseamento da instância individual, de forma que a potencialidade do acúmulo de conhecimento realiza-se em conformidade com redes de dominação, que paralisam o sujeito diante de um controle virtual e não mais visível.

A vigilância constante e invisível constituída como um poder múltiplo, automático e anônimo em que até os fiscais são fiscalizados, permite que o indivíduo tenha uma falsa idéia de liberdade, de modo que, não havendo mais, tão explicitamente, a imposição aos corpos dóceis, embora sim, por outro lado, o controle diluído em instâncias que aparentemente conduzem à livre escolha (com a consciência da existência de algo ou alguém onipresente). Questões como semiliberdade assistida, internação domiciliar, ensino à distância e a política dos colaboradores nas empresas, acabam imprimindo nas concepções vigentes sobre tais mudanças e políticas públicas, a impressão de democratização, respeito aos direitos humanos e participação efetiva nas instâncias “maiores” da vida em sociedade.

Desta forma, considerar as manifestações de poder, faz com que, necessariamente se considere as relações entre o sujeito, a verdade e a constituição da experiência - tal qual coloca Foucault - tendo em mente a realização objetiva de tais relações de forma descentralizada, ou seja, diluídas no seio social, ultrapassando a instância do direito jurídico-legal, numa realização permanente de dominação, vigilância e normatividade nos microcosmos de convivência.

Por fim, é até possível dizer, ao contrário do que prediziam Aldous Huxley e George Orwell sobre regimes centralizados que monitorariam a população, que estamos sujeitos à uma condição geral de vigilância, de modo que voluntariamente acabamos por entregar “aos fiscais” todas as informações pessoais possíveis. Com a tecnologia disponível hoje, é possível recuperar relatórios individuais, desde as ligações telefônicas realizadas até o trajeto percorrido pelo automóvel ao vir para casa, além de outros, para não citar inconvenientes maiores como das paredes que tem olhos e ouvidos.

Igualmente, não é nenhum exagero dizer que tal poder-controle, realizado pelo computador Alpha 60 em Alphaville, por HAL 9000 em 2001: Uma Odisséia no Espaço e pelas câmeras do “sorria, você está sendo filmado” em todo o espaço público, assemelha-se à figura do Deus Todo-Poderoso – onipresente e onipotente – que não se manifesta fisicamente, embora realize sua justiça sobre a torre do Panóptico, (idealizado pelo filósofo Jeremy Bentham ainda no século XVII), responsável por fazer com que, tal qual colocado por Foucault “o criminoso não saiba se está sendo vigiado, mas sinta que possa estar sendo”.




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