3.6.07

Ondas do Destino (Lars Von Trier)

Neste sábado dia 09/06 às 19:30hrs, o filme exibido pelo SESC Cineclube Silenzio será "Ondas do Destino" (Breaking the Waves) do dinamarquês Lars Von Trier (Dogville, Dançando no Escuro), a exibição é no salão do SESC Cascavel e a entrada é GRÁTIS.
No norte da Escócia uma jovem mulher (Emily Watson) se apaixona e se casa com um dinamarquês (Stellan Skarsgard) que trabalha em uma plataforma de petróleo. Quando ele retorna ao seu serviço sofre um acidente, quebrando seu pescoço e provavelmente o deixando incapacitado para o resto da vida. Nesta situação ele pressiona a mulher a procurar amantes e lhe contar detalhes de suas relações.
Premiações-
- Recebeu uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Atriz (Emily Watson). - Recebeu 2 indicações ao Globo de Ouro, nas categorias de Melhor Filme - Drama e Melhor Atriz - Drama (Emily Watson). - Recebeu uma indicação ao BAFTA, na categoria de Melhor Atriz (Emily Watson). - Recebeu uma indicação ao Independent Spirit Awards, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. - Ganhou o César de Melhor Filme Estrangeiro. - Ganhou o Grande Prêmio do Júri, no Festival de Cannes. - Ganhou 3 prêmios Bodil, nas seguintes categorias: Melhor Filme, Melhor Atriz (Emily Watson) e Melhor Atriz Coadjuvante (Katrin Cartlidge). - Ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival Internacional do Uruguai.
Curiosidades- Ondas do Destino é o filme de estréia da atriz Emily Watson.
Título Original: Breaking the Waves
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 152 minutos
Ano de Lançamento (Dinamarca): 1996
Direção: Lars Von Trier
Roteiro: Lars von Trier e Peter Asmussen
Produção: Peter Aalbak Jensen e Vibeke Windelov
Fotografia: Robby Müller
Direção de Arte: Karl Juliusson
Figurino: Manon Rasmussen
Edição: Anders Refn
Cópia em Francês com legendas em português.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sobre Ondas do Destino pode-se emitir alguns comentários a partir do comportamento das personagens (Jan e Bess) e da relação dos mesmos com a coletividade local.

Para início de conversa, cito Anthony Giddens, sociólogo inglês, que realizando uma leitura sobre o amor, o dividiu em duas manifestações diferentes: a primeira, nosso velho conhecido, o Amor Romântico, aquele em que há idealização do outro e consequentemente frustrações quando da não realização de espectativas; já o segundo, trata-se do Amor Confluente, aquele que une duas pessoas em nome da supressão de necessidades mútuas na busca constante pela felicidade, numa espécie de "contrato" pela lealdade ao outro enquanto sujeito, ou seja, as decisões são "negociadas" e o relacionamento vai além do simples "viveram felizes para sempre".

Bom, reservando por um momento esta relação, penso em Bess como um legítimo exemplo daquilo que Rousseau chamou de "bom selvagem", quando presa a uma comunidade pequena, tradicional a mesma acaba vendo-se possuída por um amor romântico renegado por este mesmo grupo.

Ao relacionar-se com Ja, começa a fazer descobertas, inclusive no que diz respeito ao relacionamento de um casal e dos prazeres do sexo. No final da lua de mel, quando Jan precisa voltar a plataforma de petróleo, Bess potencializa este abismo formado entre a dissociação do mundo ao qual ela pertencia até o momento e aquele em que houve a "negociação" com Jan, colocando em prova e risco toda a construção tradicional do grupo.

Assim, inclusive na divisão de capítulos feita por Lars von Trier vê-se claramente o processo de mudança e de apropriação pelo qual ela passa, ou seja, transformando sua "solidão" em culpa e posteriormente todos os preceitos em "negociação" com Jan. Desta forma, após o acidente, os dois iniciam uma relação muito próxima, digna de um amor confluente, tal qual coloca Giddens, deixando de lado todas as influências (agora exteriores) da religão e da tradição familiar pregadas pelo grupo social.

A nomenclatura que dei para Bess, do "bom selvagem" aparece muito clara aqui, pois com o relacionamento aprofundado com Jan, Bess inicia um processo de transformação, abandonando por completo as imposições do grupo em nome de seu "contrato" com aquele. Enquanto Jan pede a Bess, as relações com estranhos numa tentativa de libertá-la, ela o faz na esperança de curá-lo das consequências do acidente, fazendo com que a figura da garota meiga e inocente seja "perdida" diante da sociedade.

Relacionando-os agora com o grupo, temos um desconhecimento completo do "contrato" dos mesmos por parte da coletividade, deixando muito claro a função da instituição familiar como mera construção tradicional. Enquanto o casamento para o grupo é um aglomerado de respeito e submissão, para os dois é um relacionamento íntegro e consciente, trazendo à tona o infortúnio enfrentado por Bess inclusive no dia do seu enterro.

Por fim, acredito que o grande mérito do filme foi a colocação da personagem de Bess, como um sujeito fraco, considerado infantil, histérico e imaturo, mas que foi capaz de reconhecer implícitamente toda a construção ideológica e exterior da qual foi vítima, enfrentando-a poéticamente.

Lars von Trier manifesta as duas relações que falei de forma magistral, a primeira quando Bess diz que não se pode amar uma palavra e a segunda quando os sinos que não podiam tocar na igreja vêm do céu.

"A única diferença entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho dura um pouco mais".
Oscar Wilde

Anônimo disse...

Até o presente momento, Ondas do Destino foi o filme mais bem recebido pelo público apesar das duas horas e meia.
Porém muitos levaram a interpretação do filme por estranhos caminhos que sinceramente não compreendi, seja os risos em momentos completamente errados, sejam justificativas para o final metafórico.
Mas creio que a intenção do filme realmente seja essa, fazer certos tabus emergirem de onde mais se escondiam.
Não tem como não se fascinar vendo essas várias facetas despertando lá no escuro da sessão, aliás Lars Von Trier é expert em tirar a pele de cordeiro dos espectadores, lembro de quando assisti Dogville, e no final ouvi alguém gritar da segurança de sua anonimidade "Mata essas crianças!" seguido de risos histéricos como uma volta da caça-as-bruxas da Idade Média.
Como eu já tinha visto o filme, pude me dar ao luxo de assistir os espectadores e sentando lá no meio ouvir sussurros como "é uma vadiazinha não é?" "imagina se tivesse feito um boquete". Um shangrilá para qualquer Nelson Rodrigues desembanhar a caneta.

É lógico que seria preciso uma análise psicológica profunda, mas ouso dizer que talvez essa câmera nervosa, essa fotografia aguada, ao contrário do que se pensava, deixa as pessoas mais confortáveis, como se estivesse vendo algum vídeo bizarro do Ratinho. Como se estivessem vendo a vida real, acontecendo ali mesmo na tela. Se for, porque ele não ganhou nenhum prêmio de contribuição técnica? rs

O fato é que devo dizer que nesse filme em especial o que mais me chamou a atenção não foi nada no próprio filme, mas sim em quem o assistia.