27.10.08

01/11 - A Troca (Peter Medak)

Neste Sábado dia 01/11 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA



Desde a trágica morte de sua família, o compositor John Russell (George C. Scott), abandonou Nova Iorque e agora vive numa casa solitária na esperança de continuar compondo e encontrar a paz. Enquanto ele aprecia o silêncio e solidão de sua nova residência, ele começa a ver constantemente o corpo de um jovem rapaz. Nas suas pesquisas pela casa, ele descobre uma entrada secreta para um antigo quarto de criança, que permaneceu esquecido durante muito tempo. Nele, John encontra uma cadeira de rodas e uma caixinha de música e sente que alguma coisa terrível deve ter acontecido neste quarto. Possivelmente, devido ao seu trauma, ele está aberto a se comunicar com os espíritos ocupantes da casa e tenta fazer contato através de um médium. A sinistra sessão espírita revela um acontecimento que permaneceu, até então, em segredo...
Gênero Suspense/ Terror
Atores George C. Scott, Trish VanDevere, Melvyn Douglas, John Colicos, Jean Marsh, Barry Morse, James Douglas, Madeleine Thornton-Sherwood, Roberta Maxwell, Bernard Behrens,
Direção Peter Medak,
Idioma Inglês,
Legendas Português
Ano de produção 1979
País de produção Estados Unidos,
Duração 115 min.

Sem Sangue, sem CGI

Vander Colombo

Desta vez devo-lhe fazer uma confissão: Não, o diretor do filme desta semana não é um grande diretor. Na verdade, Peter Medak até fez algumas coisas capazes de envergonhar o dúbio título dos convocados ao “Masters of Horror” da Multishow.

Aí chega a hora de você se perguntar: “Ta, e por que diabos escalou um filme do cara pra essa semana?” E lhe respondo, porque A Troca, é um filme ímpar na estante dos filmes de terror em língua inglesa. Primeiro, porque o filme não tem uma única gota de sangue e um único efeito especial “off camera” ou seja, não há um único efeito que foi realizado em cima da imagem posteriormente, todos eles foram habilmente feitos apenas com trucagens de câmera.

“Ok, Vander, Drácula e Frankenstein de 1931, Nosferatu e muitos outros filmes também foram feitos assim” Sim, lógico que por necessidade, mas é verdade, porém a Troca não é um filme de monstro, mas um filme de fantasmas feito em 1979, isso é, depois de Tubarão e Guerra nas Estrelas, sendo que depois desses filmes o “ó do borogodó” era encher o filme de efeitos especiais até o talo (lembra de Poltergeist?) aliás, “era” é bondade minha, ainda o é (lembra de qualquer um dos últimos filmes que assistiu no shopping?).

Em A Troca, George C. Scott é um compositor que após a morte da família muda-se para um grande casa, onde pouco a pouco começa a perceber estranhezas. O compositor aos poucos vai tentando decifrar o que ele mais tarde acredita ser uma mensagem. E é justamente aí que o filme torna-se mais interessante que pencas de outro do gênero, pois ao invés de segurar a platéia com banhos de sangue, ele a faz participar da investigação com todo o interesse possível, e convenhamos isso não é das coisas mais fáceis em filmes do estilo, até porque a “entidade” não é um professor de literatura antiga evocando clássicos como A Divina Comédia ou fazendo enigmas à luz de Aristóteles, mas simplesmente um interlocutor com segredos inquietantes.

E afinal será Halloween, um feriado que não comemoramos e nem fazemos feriado, mas graças aos enlatados dominamos. E Halloween é sinônimo de serial killer, que aliás também não temos por aqui, fantasmas dizem que tem em todo lugar e parece que não foram patenteados, o que nos dá uma sensação maior de participação na trama (A que ponto chegamos quando para nós o sobrenatural é o mais próximo possível do verossímil?).

A Troca se não for um filme que estimule a inteligência é no mínimo um estímulo à sua criatividade dedutiva. Vez ou outra é interessante não somente “assistir” um filme, mas “observa-lo” no sentido ativo do verbo. Digamos que na categoria de filmes de gênero isso tem sido de uma raridade similar a conseguir conversar com um fantasma.

O filme “A Troca” será exibido neste sábado dia 01/11 às 19:30h

No SESC Cineclube Silenzio.

A entrada é gratuita

24.10.08

25/10 - Gritos e Sussurros (Ingmar Bergman)

Neste Sábado dia 25/10 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA



Um dos filmes mais perturbadores do mestre Ingmar Bergman, Gritos & Sussurros é apresentado, pela primeira vez no Brasil, em versão restaurada e remasterizada no formato widescreen, que resgata em todo seu esplendor a belíssima fotografia do genial Sven Nykvist, premiada com o Oscar da categoria. Numa casa de campo, Agnes recebe, à beira da morte, os cuidados de suas duas irmãs e de uma dedicada empregada da família. Neste ambiente claustrofóbico, acompanhamos as imaginações, lembranças e frustrações destas quatro mulheres. Indicado a 5 Oscar, incluindo Melhor Filme e Direção, Gritos & Sussurros é obra-prima de uma riqueza infinita, obrigatória na coleção de todo cinéfilo.
Gênero Arte
Atores Liv Ullman, Ingrid Thulin, Harriet Andersson, Kari Sylwan, Erland Josephson,
Direção Ingmar Bergman,
Idioma Sueco,
Legendas Português,
Ano de produção 1972
País de produção Suécia,
Duração 106 min.

Estou morta, mas não consigo dormir.

Vander Colombo.

Dizer que o texto vai de encontro a Ibsen ou mesmo Tchecov, seria minimizá-lo. Não fosse o fato da humanidade não imortalizar seus contemporâneos, Ingmar Bergman estaria no mesmo patamar de seus dois antecessores, sem tirar ou pôr.

Na época que começava a produção de Gritos e Sussurros, Bergman dava instruções aos seus companheiros de set, de que aquilo não era uma história, era um sentimento, aquilo não era uma casa, mas o interior de uma alma fragilizada. Por conta disso o vermelho que iria dominar o filme junto ao branco e negro, era tão somente como a membrana úmida que segundo Bergman cobria esta mesma alma.

O universo é feminino, suas atrizes já declaravam que Bergman talvez entendesse melhor este universo que as próprias mulheres. E o sentimento, bom, primeiramente como poderia eu traçar a sinopse de um sentimento..., porém, comum à obra bergmaniana, o sentimento é resultante da fé versus o vazio divino. Desumanização graças aos ranços da moral religiosa. Bergman em sua filmografia nos faz desconfiar de pessoas que falam demais de Deus... E, se analisamos ao redor, vemos que a informação não passa ao largo da realidade. Pessoas que se escondem em maneirismos, repreendendo suas próprias frustrações, desejos e taras (quando não para atingirem seus objetivos sejam eles financeiros, políticos ou de escalada social), perdem sua humanidade mascarando-a em sentimentos infinitamente piores como falsidade, hipocrisia e crueldade avalizados pelos textos bíblicos.

A três irmãs apresentadas em Gritos e Sussurros encaixam-se nesta conveniência hipócrita, evitando ao máximo transmitir ternura, limitando-se a declará-la em frases átonas.

Uma das irmãs, doente terminal, é talvez a que tenta em vão extrair essa humanidade petrificada das duas outras, mas a única ternura vem da ama que perdera o rebento, e assim como o leite que se esvai de um peito sem filhos pra alimentar, ela dedica seu carinho a essa mulher crescida.

As poucas figuras masculinas que figuram são hediondas, ríspidas, os chamados “varões” que de tão brutalizados (como figuras masculinas típicas da bíblia) perdem a própria dignidade num jogo egótico, utilizando-se das três como peões, que aí, como manda a cartilha, desprendem um amor romântico formalizado.

Esta alma expressa por Bergman é claustrofóbica e pulsante, parecendo cada vez mais se fechar sobre elas, uma alma que conforme se retrai, parece petrificar gerando uma angústia inversamente proporcional. Sua “membrana” belissimamente fotografada pelo gênio Sven Nykvist traduz em cores e luz toda a complexidade da mente etérea do diretor.

Bergman ganhou da crítica o título de deus, mas Bergman não era divino, até porque o adjetivo lhe seria ofensivo. Ao contrário, possuía um humanismo e uma noção de fraternidade que muitos santos dariam a auréola para ter, ainda mais em tempos em que se fala da beatificação de Pio XII.

O filme “Gritos e Sussurros” será exibido neste sábado dia 25/10 às 19:30h

No SESC Cineclube Silenzio.

A entrada é gratuita.

15.10.08

18/10 - O Vídeo de Benny (Michael Haneke)

Neste Sábado dia 18/10 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA


Adolescente de família rica, Benny compensa a ausência dos pais com as emoções do mundo dos vídeos. Aos poucos, sem que as pessoas percebam, seus valores e noções de realidade começam a mudar. Aproveitando que seus pais estão no campo, ele leva uma garota para passar o final de semana no apartamento. O que começa como um tímido 'love story' termina em catástrofe. A vida da família nunca mais será a mesma.
diretor Michael Haneke roteiro Michael Haneke fotografia Christian Berger música J. S. Bach elenco Arno Frisch, Angela Winkler, Ulrich Mühe, Ingrid Strassner produtora Vega, Filmproduktion GmbH. Longa-metragem - 105 min. minutos Col.
O que segue é desaconselhável para menores de 10 anos.

Vander Colombo

"A violência está em todo lugar,

não é por causa do álcool, nem é por causa das drogas.

A violência é nossa vizinha,

não é só por culpa sua, nem é só por culpa minha,

violência gera violência"

(Titãs - Música: Violência –

Álbum: Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas, 1990)

A vítima é uma garota de 15 anos. Morta com vários disparos de pistola de ar comprimido, a mesma arma usada no abate de animais. O autor dos disparos, um garoto da mesma idade, filho de um de um grande empresário da cidade. O garoto filmou a morte da menina, diz-se que incentivado pela exposição demasiada a filmes violentos.

O que parece uma daquelas notícias que se vê todos os dias nos jornais é a premissa básica do filme O Vídeo de Benny do austríaco Michael Haneke. Aliás, Haneke não fez apenas um estudo sobre a violência, mas quase que uma filmografia toda recorrendo ao embasamento de nomes como Locke, Hobbes, Foucault entre outros. Na verdade cada um de seus filmes fala de algum tipo de violência, seja ela física ou psicológica. A trilogia da incomunicabilidade (que além desse, conta com O Sétimo Continente e 71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso que falam respectivamente de um pai de família que num momento de dificuldade lentamente organiza seu suicídio e a morte da família, e de uma amalgama de cenas de vida aparentemente desconectadas que são afetadas pelas notícias de jornais televisivos.) juntamente com títulos como Violência Gratuita (que recentemente foi refilmado pelo próprio diretor nos EUA), A Professora de Piano e O Tempo do Lobo conseguem fazer uma grande tese sobre a violência moderna recorrendo tão pouco a cenas de violência gráfica que deve enrubescer diretores que se dedicam a mesma função fazendo espetáculos gore.

Porém, nenhuma das abordagens de Haneke são simples ou diretas como a premissa do primeiro parágrafo indica. O diretor está mais preocupado em fazer cada espectador fazer sua própria teoria do que tentado explicar a gênese da violência como conhecemos. Seria fácil dizermos que Benny cometeu assassinato por gostar de filmes violentos como comumente a televisão de nossas Américas gosta tanto de fazer, entretanto, algo que Haneke bate forte sem julgar é a indiferença dos pais que se orgulham da liberdade dada aos filhos, ao se unir os dois motivos mais nítidos nasce o vídeo preferido de Benny que mostra a morte de um porco, filmado por ele mesmo numa das fazendas do pai, neste caso pode-se ter um entendimento da auto-crítica de Haneke perante os cineastas e a liberdade ditatorial de impor seu ângulo de visão aos seus espectadores.

Haneke sabe como poucos que a violência inerente exposta em ficção por vezes funciona como alerta, dependendo de como ela é explorada. E sua principal crítica à mídia de um modo geral é a violência real sendo tratada pejorativamente, principalmente em tele-jornais.

Por conta disso, se pensarmos de um modo amplo a crítica pode ser levada à própria piada de avisos antes da novela que a mesma é desaconselhável a menores de 12 anos, não diminuindo um único ponto de Ibope já que poucas crianças assistem à novela das nove, enquanto programas regionais durante o almoço mostram jornalistas pregando mensagens nazi-fascistas disfarçadas de conservadorismo, mostrando entre um corpo crivado de balas e outro decapitado, comerciais de brinquedos e apresentadores “engraçadões”, sem uma única mensagem correndo no piso da tela dizendo que toda essa atrocidade midiática ao menos não representaria a opinião da emissora. Uma simples questão de liberdade versus responsabilidade.

O filme O Vídeo de Benny será exibido dia 18/10 às 19:30h

No SESC Cineclube Silenzio.

A entrada é gratuita.

9.10.08

11/10 - O Túmulo dos Vagalumes

Neste Sábado dia 11/10 às 19:30h
No SESC Cinclube Silenzio
ENTRADA GRATUITA




O Túmulo dos Vagalumes
(Hotaru No Haka, 1988)

» Direção: Isao Takahata
» Roteiro: Akiyuki Nosaka (romance), Isao Takahata
» Gênero: Animação/Drama/Guerra
» Origem: Japão
» Duração: 93 minutos
» Tipo: Longa

» Sinopse: Uma trágica história sobre dois irmãos - Setsuko e Seita - que vivem no Japão durante a época da guerra que, após tornarem-se órfãos por causa do conflito (sua mãe morreu e seu pai está desaparecido), vão parar na casa de parentes. As coisas pioram quando acabam tendo que ir viver em um abrigo no meio do mato. Quando Setsuko, a irmãzinha caçula, adoece gravemente, seu irmão deve se virar para conseguir ajuda para a menina, mas os tempos são difíceis e mesmo um pouco de comida pode ser difícil encontrar.

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"Por que os vaga-lumes tem de morrer tão depressa?"

Vander Colombo

“Os filmes japoneses têm a beleza suspeita de alguns cadáveres.

Fica-se, às vezes, pasmo de tanta crueldade.

Procura-se a fonte na longa intimidade com o sofrimento...”

Chris Marker

Tinha prometido para mim mesmo que este ano escalaria uma animação para o cineclube, até para tirar aquela idéia de que animação é coisa de criança, dada a preponderância das obras da Disney em nosso mercado cascavelense de Home Vídeo.

A história vem mudando até porque as animações em 3D de estúdios como a Pixar tem mudado essa história e atingindo até mais adultos do que as crianças que os acompanham. Porém os mestres da 2D ainda são os japoneses. Devo confessar que não sou lá um entusiasta do anime em capítulos, por vezes lembram-me novelas. Mas é preciso admitir que não só a arte nipônica do desenho animado como a profundidade psicológica de suas personagens são incomparáveis. De um modo geral, os animes são frutos de mangás (histórias em quadrinhos japonesas) ou hentai (histórias em quadrinhos japonesas eróticas), e generalizando tratam de samurais/lutadores de artes marciais com superpoderes, colegiais excitadas ou bichinhos fofinhos que causam ataques epiléticos.

A história muda em grandes clássicos da animação japonesa como Akira, A Viagem de Chihiro e este O Túmulo dos Vagalumes. Este último, de 1988, dirigido por um dos mestres da animação Isao Takahata. O Túmulo dos Vagalumes conta a história de Seita e Setsuko, dois irmãos sozinhos em plena Segunda Guerra Mundial, o pai, lutando pela marinha está desaparecido, a mãe morreu num bombardeio, a partir daí Takahata traça um conto de fadas que rara vezes se viu, seja em animação ou live action, bater tanto às portas da realidade nua e crua, a história não poupa as duas crianças das mazelas do tempo de guerra.

Um nó na garganta que dure dias não é incomum ao final do filme, tanto que muitas pessoas declaram terem adorado o filme, mas evitam assisti-lo novamente, tamanha a crueldade exercida sobre o olhar infantil ao fitar a guerra, porém nada é em exagero, nada é inverossímil, nada é gratuito.

A tristeza e a crueldade segundo a poesia cinematográfica de Chris Marker, Sans Soleil, é explicada por Bashô ainda no Séc. XV: "O salgueiro enxerga invertida a imagem da garça", uma maneira de se libertar dos próprios horrores de Hiroshima e Nagasaki, e “Para exorcizar o horror que tem rosto e nome, é preciso conceder-lhe outros atributos (...) e exigir que até a dor se enfeite”. Por conta disso, a “beleza suspeita dos belos cadáveres” reside nas cores fortes, nos olhos grandes e distantes do olhar estreito oriental, mas transmite as mesmas verdades que outrora outros ideogramas já relatavam. O horror agora sem rosto ou nome declarado ainda tem garras, ainda presas, só lhe falta a etiqueta vertical. Só nos comprova que olhos redondos ou apertados apesar da cultura heterogênea, carpem-se da mesma maneira.

“Para nós, o sol só é sol se estiver brilhante;

Uma fonte só a é, se for límpida.

Aqui, adjetivar equivale a colocar nas coisas etiquetas com seus preços,

A poesia japonesa não qualifica.”

Idem.

O filme “O Túmulo dos Vagalumes” será exibido dia 11/10 às 19:30h

No SESC Cineclube Silenzio. A entrada é gratuita.