16.9.08

20/09 - O Homem Elefante (David Lynch)

Neste sábado dia 20/09 às 19:30
No SESC Cineclube Silenzio
Entrada Gratuita




Uma assustadora aberração de circo, John Merrick (John Hurt - Hellboy, Dogville, Harry Potter e a Pedra Filosofal) é rotineiramente humilhado por seu mestre Bytes (Freddie Jones - Firefox, Duna, Erik o Viking). Mas Frederick Treeves, um famoso cirurgião (Anthony Hopkins - Alexandre, A Máscara do Zorro, O Silêncio dos Inocentes), fica fascinado por aquele personagem grotesco e o leva para o hospital em que trabalha. Fora daquele ambiente hostil, o médico vai descobrir que, a despeito de sua aparência incomum, Merrick é um ser humano sensível, inteligente e gentil.

O diretor David Lynch (Duna, Veludo Azul, A Estrada Perdida) usa a história verdadeira da vida de John Merrick para explorar o profundo desespero de uma alma que inspira fascinação e ao mesmo tempo repulsa. Um filme poderoso, merecedor do status de obra de arte, vencedor de muitos prêmios, incluindo indicações para 8 Oscar®.

Gênero Drama
Atores Anthony Hopkins, John Hurt, Anne Bancroft, John Gielgud, Wendy Hiller, Freddie Jones, Michael Elphick, Hannah Gordon, Helen Ryan, John Standing,
Direção David Lynch,
Idioma Inglês,
Legendas Português
Ano de produção 1980
País de produção Estados Unidos, Inglaterra,
Duração 124 min.
Para ler o texto de Laysmara, acesse os comentários

Um comentário:

CineClube Silenzio disse...

Para Histórias de Mundos e Mundos de Histórias:
Ciências Humanas e Análise Fílmica



Laysmara Carneiro Edoardo
Socióloga
laysedoardo@gmail.com


As ciências humanas muitas vezes já se debruçaram sobre o cinema para compreender nuances de seu funcionamento. O fizeram a partir de estudos antropológicos e sociológicos sobre a produção e difusão de gêneros, símbolos, correntes ideológicas e a apreensão destas pelo público, e também sobre o homem-imagem que agora podia ser reproduzido para a observação, tal qual Nanouk l'Esquimau de Robert Flaherty, (1922), o Cinema-Verdade de Dziga Vertov e os filmes etnográficos de Jean Rouch (Jaguar, 1967; Les Maîtres Fous, 1955) por exemplo, que realizam um “diálogo entre a subjetivação do sujeito e as narrativas cinematográficas.”. Entretanto, para Jean Claude Bernadet, a sociologia “consegue falar de tudo a respeito de que os filmes falam, mas não consegue falar dos filmes”, isso porque se restringe à apreensão do conteúdo e desconsidera a construção geral do mesmo, ou seja, a construção do discurso e dos mecanismos que são utilizados com essa finalidade, visto o exemplo apresentado pelo próprio autor:
O Cidadão Kane gerou farta literatura que apresenta o filme como a representação de um “mundo espatifado”, expressão da fragmentação do homem numa sociedade reificada. Mas o filme não é espatifado – um filme espatifado correria o risco de não poder representar mundo nenhum por carecer de significação. A crítica de orientação sociológica não consegue explicar como uma obra não espatifada representa um mundo espatifado. Tem mais: só o Cidadão Kane não é espatifado, como, atrás de suas aparências, ele opta por uma narração tradicional, bastante respeitosa da cronologia, vinculada a um personagem central individualizado etc. esta crítica não consegue dizer se, por acaso, a obra que aparentemente expressa a fragmentação do homem e a reificação da sociedade, no fundo não contradiz, ou mesmo não nega, ao nível da sua organização esta mesma fragmentação. A crítica de orientação sociológica consegue dizer: “Kane é um homem de ação”, mas não consegue dizer: “Kane é um personagem”.


Tendo em vista tal perspectiva e aproximando uma outra leitura, temos que a função do cinema para o teórico Christian Metz, é fornecer materiais para o estudo científico do mesmo, pois sendo o cinema um fato, “coloca problemas para a psicologia da percepção e do conhecimento, para a sociologia dos públicos, para a semiologia geral” e apresenta contornos e estruturas estáveis que devem ser apreendidos diretamente pela lingüística e antropologia. Segundo ele, uma produção cinematográfica pode tratar de assuntos irrealistas ou realistas, sendo que nenhum nega sua matriz criativa na “verdade cotidiana” e empenham, na receptividade, a participação do espectador. O “indício de realidade” em qualquer destas manifestações, se dá pelo “ser aqui”, repetindo-se e re-acontecendo diante dos olhos. O movimento, portanto que é atual, faz com que o filme seja a impressão de algo que é.
Esta diferenciação, conforme mostrada pelo autor, é fundamental para a abordagem do cinema em sua totalidade, pois quando o filme é tomado apenas pelo aspecto da narrativa, a irrealidade da imagem é tomada em detrimento da realidade do movimento mecânico, limitando muitas das apreensões sobre o objeto apenas à instância do conteúdo. Desta forma, o cinema está fadado assim como a literatura, que também empreende sua atividade a partir de impressões do mundo e de parte da grande cadeia de signos que é a língua, à conotação de natureza simbólica que não consiste por sua vez “forçosamente numa relação de analogia perceptiva”. Em outras palavras a denotação, semelhança direta com a “realidade”, se faz naturalmente na tela enquanto a outra é criada pelo engenho do artista e seu trabalho com as interpretações do “real”. Assim, ao passo que as interpretações denotativas são naturais por relacionarem-se diretamente a um sentido nascido da “expressividade do mundo”, as conotativas são convencionais, pois recorrem a um código e à “expressividade do homem artístico” .
O entendimento então, da obra cinematográfica como uma construção lógica de imagens e sons que geram sentidos, exige que as abordagens analíticas dêem conta da idéia de que a sobreposição destes elementos de forma organizada é capaz de “produzir significados”, expressões e sentimentos “reais”, devendo ser considerados com minúcia para que se desvende o processo pelo qual o discurso sobre a irrealidade configura-se verossímil, na “hipnose” consentida que carrega o espectador através de tomadas de câmeras, trilhas sonoras e “sons” inseridos propositalmente com esta finalidade.
Co-escrito e dirigido por David Lynch, O Homem Elefante (1980), que discorre sobre a história real de John Merrick, portador de uma deformidade física e por este motivo parte do elenco de um circo londrino do final do século XIX, pode ser lido sob tal perspectiva. Merrick, chamado Homem Elefante por possuir as tais alterações físicas, foi tutelado por Mr. Bytes até o fechamento do circo pelos direitos humanos e pela intervenção de Dr. Treves. Na seqüência escolhida para ilustrar a discussão, tem-se o relacionamento da sociedade londrina com a personagem principal que é vítima de discriminação pela sua deficiência física e acaba tornando-se novamente uma atração, agora nos aposentos do hospital em que Dr. Treves trabalha.
Na seqüência, com a relação entre a postura de John Merrick diante dos costumes da elite londrina e da sua tentativa de pertencimento a mesma, percebe-se a tomada dos costumes daquela, antes desconhecidos por ele, e a tentativa de inclusão realizadas por Kendal e Treves. A presença das enfermeiras, da mídia impressa e dos detalhes no arranjo dos porta-retratos (primeiro na casa de Treves e logo nos aposentos de Merrick) demonstram simbolicamente, de um lado, o comportamento da elite diante da atitude de Kendal, considerada por eles um ponto de referência ao bom comportamento, e de outro a suposta participação de Merrick que em cada visita ganhava uma fotografia de seus “afetos”. Por fim, levando em conta que cada novo visitante viria o retrato dos anteriores, e logicamente a presença dos mesmos no círculo dos bons costumes apregoados de forma ou outra por Kendal, faria com que esta nova visita tivesse o desejo de tornar-se parte constituinte do rol, a partir do momento em que deixasse também o seu retrato exposto na prateleira de Merrick.
Com isso, temos de forma clara a constituição da elite londrina, a apreensão do costume por Merrick na exposição de seus conhecidos e o confronto direto com a fotografia da mãe, a única que o Homem Elefante possuía anteriormente ao seu enquadramento entre o hospital e a mídia, o que apresenta por fim, a profundidade de tal personagem diante do comportamento das demais e a sua existência enquanto tal, neste caso, como poderá ser observado pelo espectador, a partir de uma cena composta por apenas quatro planos distintos.




O filme
O Homem Elefante
será exibido neste sábado dia 20/09 às 19:30h
no SESC Cineclube Silenzio

A entrada é gratuita.