23.5.08

24/05 - C.R.A.Z.Y - Loucos de Amor

Neste Sábado dia 24/05 às 19:30h

No SESC Cineclube Silenzio

ENTRADA GRATUITA

C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor

(C.R.A.Z.Y., 2005) » Direção: Jean-Marc Vallée » Roteiro: Jean-Marc Vallée, François Boulay » Gênero: Comédia/Drama » Origem: Canadá » Duração: 127 minutos » Tipo: Longa » Trailer: clique aqui » Site: clique aqui

» Sinopse: Esta é uma história de dois casos de amor. Um amor de um pai pelos seus cinco filhos e o amor de um filho pelo pai. Um amor tão forte capaz de fazê-lo viver uma mentira. Uma mística fábula sobre os dias modernos, C.R.A.Z.Y expõe a beleza, poesia e loucura do espírito humano e todas as suas contradições. O filho, Zac Beaulieu, nascido em 25 de dezembro de 1960, é diferente de todos os irmãos e tenta desesperadamente encaixar-se. Durante 20 anos, a vida o guiará por caminhos inesperados e surpreendentes, levando-o a aceitar sua verdadeira natureza e, ainda mais importante, levando seu pai a amá-lo como realmente é.

» Elenco ::.

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Ator/Atriz

Personagem

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Michel Côté

Gervais Beaulieu

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Marc-André Grondin

Zachary Beaulieu, de 15 a 21 anos

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Danielle Proulx

Laurianne Beaulieu

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Émile Vallée

Zachary Beaulieu, de 6 a 8 anos

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Pierre-Luc Brillant

Raymond Beaulieu, de 22 a 28 anos

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Maxime Tremblay

Christian Beaulieu, de 24 a 30 anos

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Alex Gravel

Antoine Beaulieu, de 21 a 27 anos

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Natasha Thompson

Michelle, de 15 a 22 anos

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Johanne Lebrun

Doris

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Mariloup Wolfe

Brigitte, de 15 a 20 anos

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Francis Ducharme

Paul

Blame Canadá!

Vander Colombo

O cinema canadense é uma incógnita por aqui, muitos conhecem David Cronenberg, por exemplo, de clássicos de terror como A Mosca, Gêmeos - Mórbida Semelhança, porém poucos sabem que ele veio da terra ao norte dos EUA. Outros ainda tiveram mais contato recentemente com Denys Arcand, que ficou mais conhecido depois de ganhar o Oscar com As Invasões Bárbaras.

Tirando esses, alguém lembra de cabeça o nome de um diretor canadense atual? Não? Tudo bem, eu não sou exceção. E não é pelo fato de o país produzir pouco, mas por esses títulos não chegarem por aqui, ou ainda serem confundidos com filmes franceses ou americanos (dependendo da língua que foram feitos), ou mesmo relegados a lançamentos direto em vídeo. É uma pena, até porque como bom cinéfilo gostei de todos os títulos canadenses que pude conferir até hoje. Não é segredo que o país tem um certo desprezo cultural para com seu vizinho famoso, e quando pode lhe manda um petardo cínico.

C.R.A.Z.Y. – Loucos de Amor é um típico filme canadense a ser confundido com filme francês, é humorado e perturbador com equilíbrio, e torna a pegar um tema “querido” tanto canadense como francês: a família disfuncional.

C.R.A.Z.Y conta a história de Zack, 4o filho de cinco num período de quase 30 anos desde seu nascimento (numa noite de natal), sempre pegando a data do natal como referência ao seu crescimento e principalmente às suas descobertas, sejam ideológicas, políticas ou, principalmente, sexuais.

O pai com seus conceitos direitistas cheios de falso moralismo, a mãe terna, porém esotérica em demasia, os irmãos ora medíocres, ora “mudernos” demais, enfim, nada melhor que o natal para analisar o quão triste é o mundo que o rodeia.

Até Zack percebe que vez ou outra traz resquícios familiares que tanto o afetam. Até porque o filme consegue passar ao largo da mesmice e da canastrice que impregnam outras fitas do gênero. Por exemplo, apesar de estar tratando de um tema que volta e meia cai “sem querer querendo” na armadilha da pieguice, C.R.A.Z.Y. por utilizar uma visão quase que rock ‘n roll das dificuldades que Zack tem em ser diferente numa família que prega a “clonagem” de pai pra filho, consegue ser dinâmico e reflexivo, vez ou outra recorrendo a um mundo que só existe na cabeça do personagem.

Um bom exemplo é quando Zack após se tornar ateu continua cumprindo sua promessa de ir todos os anos à Missa do Galo, e num momento de tédio, imagina a igreja toda cantando Sympathy For The Devil dos Rolling Stones.

Falando em Rolling Stones algo que me chama a atenção nos filmes canadenses de um modo geral é a trilha sonora, seja original, seja utilizando canções clássicas, um bom exemplo é em As Invasões Bárbaras, quem tem um mínimo de coração e segurou as lágrimas até o final, nos créditos é batata com Françoise Hardy cantando L’Amitie. C.R.A.Z.Y. não fica atrás, vai de Charles Aznavour a Willie Nelson até Pink Floyd e David Bowie.

Então, como pode um país que produz filmes tão bacanas, com certo apelo comercial, porém sem jamais renegar o conceito artístico que é a função do cinema em sua essência ser tão desprezado em terras tupiniquins? Ah, isso torna não só o Alt pequeno, mas toda essa edição da Gazeta, desde o fato de consumirmos cinema por aqui como quem come no McDonald’s e por encontrarmos qualquer fato agregado ao assunto cinema nas colunas de entretenimento e não nas de artes o que justifica muita produção medíocre nacional... e por aí vai, e como não é minha intenção analisar os fenômenos culturais brasileiros, deixando isso a quem tenha gabarito melhor, encerro com uma postura típica até já ironizada pelos malucos do South Park:

_ Culpem o Canadá por fazer esses filmes artísticos e dinâmicos o que os fazem não chegar até o mercado nacional!

O filme C.R.A.Z.Y – Loucos por Amor, será exibido neste sábado dia 24/05 às 19:30h

No SESC Cineclube Silenzio

A entrada é gratuita.

‘Traição’, Família e Propriedade

Laysmara Carneiro Edoardo

Socióloga

As famílias felizes parecem-se todas;

as famílias infelizes são infelizes

cada uma à sua maneira.

Leon Tolstoi

Em C.R.A.Z.Y. – Loucos de Amor, além das diversas questões individuais sobre a personagem de Zachary, a instituição familiar é debatida no entorno da relações entre as concepções tradicionais dos pais e o desapego presente neste contexto por parte do filho. Assim, creio que uma discussão sobre tal tema é capaz de situar determinados fatos que fundamentam algumas das situações presentes no filme...

A instituição da Família, ao lado da Igreja, do Estado e da Moral, seja pelas similitudes, seja pela historicidade, vem sendo pensada sob diversos focos e orientações, de modo que investigações interdisciplinares, de cunho sociológico, político, econômico, psicológico, antropológico e teológico, volta e meia acabam encontrando-se em pontos convergentes e também em conflitos diante das configurações a que esta está sujeita. Exemplo disso é são as extremas percepções sobre o mesmo tema, tendo de um lado as leituras direitistas que regem a compreensão da TFP (Tradição, Família e Propriedade) e por outro, as de Friedrich Engels (companheiro intelectual de Karl Marx) em A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado.

Aponto estas duas concepções, pois muito ainda se discute sobre o papel da família na construção moral do indivíduo e na leitura inveterada das contendas sociais como fruto de famílias desestruturadas e com baixo aporte ético. Ora, segundo estudiosos, a família, como organismo social, microcosmo de aglutinação, foi concebida para manter, organizadamente, os seus, seja sob laços sanguíneos ou não, sob a tutela da lei, segundo a orientação econômica para a manutenção da propriedade privada a um círculo restrito. Em outras palavras, simplesmente há a divisão cartorária entre tais grupos para que haja heranças legítimas em nome do árduo trabalho realizado pelas gerações anteriores.

Nestes termos, fica claro o envolvimento da questão da Tradição e da Propriedade Privada como fundamento básico para a manutenção daquela. O próprio Engels, na investigação histórica sobre o fato, considera de extrema importância tais questões no desenvolvimento destes grupos e da sociedade em geral. Para ele, com o desenvolvimento capitalista, a partir da organização dos grupos em nome do trabalho e da acumulação, a família acaba aglutinando-se nos termos colocados acima e configura-se soberanamente na posse de um determinado território, ou seja, de uma propriedade privada gerada e gerida sob normas e leis gerais. Por outro lado, em decorrência da divisão do trabalho, o pai se torna o responsável pelo trabalho / sobrevivência e a mãe pela guarda da casa e dos filhos, de forma que um poder celular, a partir da dependência a estas figuras, aparece como central em face ao homem, de modo que tendo por base a necessidade de fortalecer os vínculos internos entre o grupo - fazendo com que o mesmo possa resistir através dos tempos -, a tradição, geralmente baseada numa moral religiosa, desempenha papel fundamental ao sustentar tais sujeitos em nome do provimento.

Assim, ‘honrar pai e mãe’, faz-se como fundamento basilar para a respeitabilidade de quaisquer ordens imbricadas no seio familiar, pois já que a civilização não se configura mais como um grupo geral, uma comunidade capaz de proteger a todos, o único grupo que possui essa responsabilidade acaba sendo a família, que precisa proteger os seus e ser protegida diante dos demais. Por este motivo há ainda muitos exemplos de ‘linhagens’ que casam os seus entre si, com o intuito de fortalecer ainda mais sobrenomes e patrimônios. Por outro lado também, e pelo mesmo motivo, já que as famílias são as únicas responsáveis pela subsistência dos membros, têm-se as famigeradas ‘famílias desestruturadas’, com indivíduos sozinhos, ou mulheres (numa sociedade ainda patriarcal) gerindo seus filhos sob o olhar do Estado, que tem por função “proteger o homem de posse dos homens que não tem posse de nada”.

Fica bem claro que a Família, a Tradição, a Propriedade Privada e o Estado formam pares complementares que garantem a sobrevivência sob regras comuns. Contudo, e este talvez seja o mote principal para a leitura do filme, é preciso pensar onde fica o indivíduo nesta leitura macro. Um que não deseja preservar a tradição regrada, imposta pelas figuras centrais do grupo; que independente dos motivos, não deseja gerir heranças; muito menos dar seguimento a estirpe da qual faz parte...

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