13.5.08

17/05 - Dead Man (Jim Jarmusch)

Neste sábado dia 17/05 às 19:30h
No SESC Cineclube Silenzio
Entrada Gratuita






Dead Man
(Dead Man, 1995)

Gênero: Western.
Duração: 121 min
Origem: EUA
Estúdio: Pandora Filmproduktion GmbH
Direção: Jim Jarmusch
Roteiro: Jim Jarmusch
Produção: Karen Koch, Demetra J. MacBride
Sinopse:
William Blake (Depp), um simples e honesto contador da cidade de Cleveland, se muda para uma pequena cidade do oeste americano, tendo recebido uma carta garantindo-lhe um emprego em uma metalúrgica. Tem o emprego tirado de si, e acaba perdido naquela cidade que não conhecia, envolve-se com a mulher errada e é acusado do assassinato dela, e de seu ex-noivo, único que realmente William matou, e que antes de morrer, o feriu gravemente. Tendo a cabeça a prêmio, é amparado por um índio chamado Ninguém, a qual lhe guia espiritualmente para uma jornada em que ele inevitavelmente estaria destinado a cumprir.

Elenco:
Johnny Depp (William 'Bill' Blake), John Hurt (John Scholfield), John North (Mr. Olafsen), Robert Mitchum (John Dickinson), Mili Avital (Thel Russell), Gabriel Byrne (Charles Ludlow 'Charlie' Dickinson), Lance Henriksen (Cole Wilson), Michael Wincott (Conway Twill), Eugene Byrd (Johnny 'The Kid' Pickett)


A Balada do Homem Morto

Vander Colombo

Se John Cassevetes é uma espécie de pai para o cinema independente americano, Jim Jarmusch é no mínimo seu maior sucessor. Ao passo que o cinema dos EUA vive de utopias (para não dizer mentiras) que ajudam no deslocamento da atenção do péssimo governo e das burradas sem fim dos republicanos, mesmo com alguns diretores do mainstream começando a se revoltar com a situação, porém ainda sem o aval da maioria do público, como foi o caso do recente Redacted de Brian De Palma, o cinema independente vive de questionar não só o país como o modo de vida e de pensar.

Tanto Cassevetes como Jarmusch decidiram explorar um lado mais complexo da narrativa, chegando mais perto do que Pasolini chamara de Cinema de Poesia. Jarmusch por sua vez, pela proximidade com os guetos, faz uma espécie de poesia do povo, algo que fica entre o erudito e a linguagem das ruas.

Um dos temas preferidos de Jarmusch é o choque de culturas em sua miscigenação, como é o caso de Ghost Dog onde mistura a filosofia samurai com a linguagem do hiphop, e como é o caso deste filme a ser exibido no sábado Dead Man.

Dead Man é pra ser uma espécie de faroeste subversivo, e há de se lembrar que o faroeste é o único gênero tipicamente norte-americano, faz parte de sua história e de seu folclore sendo até exportado para os mares daqui.

Nos primeiros faroestes, carregados de maniqueísmo, os índios assumiram as formas dos vilões, figuras quase diabólicas que não hesitavam em escalpelar os “pobres e inocentes civilizados”. Essa injustiça histórica pesou sobre a consciência dos cineastas por anos a fio, tanto que o faroeste deixou de ser um gênero popular por décadas, e quem mudou essa história, por incrível que pareça foi Kevin Costner com o seu Dança com Lobos.

Dead Man fala da história de William Blake (Johnny Deep) um contador que recebe uma proposta de trabalho bem longe de sua casa, ao chegar não só percebe que a proposta não é mais válida como depois de uma seqüência de acontecimentos acaba tendo sua cabeça posta a prêmio e perseguido por sanguinários assassinos.

Em tempo: apenas um personagem faz a ligação entre o poeta e pintor William Blake com o personagem de Johnny Deep, e é justamente um índio, o que convenhamos, está bem distante do “mim gostar de poesia” do faroeste estadunidense clássico.

Dead Man de Jim Jarmusch sera exibido neste sábado dia 17/05 às 19:30h

No SESC Cineclube Silenzio em Cascavel.

A entrada é gratuita

Dead Man

Reflexos sobre a questão indígena

Laysmara Carneiro Edoardo

(Socióloga)

Pela contemplação, resistem. Um índio resiste quando é capaz de contemplar. Contemplar a si mesmo como um ser em harmonia; quando contempla o outro como parte de uma natureza que ele deve respeitar e amar como extensão do próprio corpo.

Daniel Monteiro

(Índio Mundurukú e antropólogo)

Ao acompanhar as últimas notícias da comoção social sobre a questão indígena, um incômodo ético e sociológico figurou-se numa imposição de tornar pública a discussão sobre tais fatos. Ora, o filme Dead Man de Jim Jarmuchi trata justamente do embate cultural entre um índio norte-americano e um ‘branco’, relacionando conhecimentos divergentes em torno das concepções de mundo de ambos e da aproximação simbólica sobre a figura de William Blake.

Este relacionamento histórico no cinema talvez seja tão presente – como já falado em algumas outras oportunidades – justamente pela dificuldade que o branco tenha ao aproximar sua cultura civilizada do aporte ‘natural’ e ‘primitivo’ dos indígenas. Assim, é possível perceber tanto relações de aproximação pacífica tal qual Dead Man e outros contemporâneos, em que o aprendizado de ricas tradições é o foco da presença destes personagens em comparação ao branco, quanto os ainda autárquicos faroestes – também americanos – em que os indígenas são meros objetos, inimigos que devem ser dizimados em nome de sua selvageria e animalidade.

Enquanto isso, no Brasil, a questão indígena é da responsabilidade de antropólogos, que devem realizar levantamentos culturais e geográficos para os bancos de dados nacionais e para os possíveis documentários (no que diz respeito ao cinema) para que sejam assistidos pelos próprios antropólogos e algumas outras minorias de número irrelevante. Sobre as ficções, no máximo um Tainá, de tratamento ora saudosista ora político – no que tange a preservação amazônica – acaba exibido na Sessão da Tarde. De todo modo, ao pensar em ficções, levantamentos e outras falas – e nisto incluo a minha – há sempre uma preocupação em dar voz aos ‘incapazes’, de forma que o imperativo em todos os casos é o mesmo: “Brancos! Façam algo pelos primitivos!”.

Logicamente, é preciso levar em conta algumas das políticas públicas e outras iniciativas realmente preocupadas com o tratamento humanizado às ‘minorias’, entretanto, de modo geral – e isto não é uma generalização arbitrária – tem-se nos discursos ‘civilizados’, a necessidade de contar a degradação total (inverídica) da cultura indígena e a incapacidade da mesma ao estabelecer-se enquanto parte do todo social. Desta forma, falas recentes do massmedia centram-se, sobretudo no mando branco de ações politizadas – logo civilizadas e necessariamente impossíveis de ser pensadas (no sentido lato da palavra) pelos povos indígenas – de modo que ações tais quais as dos índios Macuxi em Roraima, que segundo grandes grupos jornalísticos brasileiros, atendem desejos da especulação de terra / imobiliária, possuem como plano de fundo a racionalidade branca e o interesse econômico. Ou seja, trata-se, nesta lógica, apenas da famosa ‘massa de manobra’ para interesses daqueles que tem condições de pensar ações desse tipo.

Admito ainda, ao reflexionar tais questões, uma possível ingenuidade e também uma esteriotipação cordialista da minha parte, tal qual a realizada pelo civilizado que pensa que as minorias não pensam. Contudo, creio que seja importante deixar claro que estas duas relações – a romântica e a cientificista – possuem em sua raiz, a radicalidade do desconhecimento dos modos diferentes de pensar o mundo.

Resumindo, ou pensamos o Brasil como uma totalidade de pensantes e conviventes – e sim, temos indígenas em Cascavel – ou preparemo-nos para faroestes tupiniquins.

Pedis-me para arar o chão. Devo tomar uma faca e abrir o seio de minha mãe? Quando eu morrer ela não me tomará para descansar em seu colo. Pedis-me que cave em busca de pedras. Devo cavar sob sua pele em busca de seus ossos? Quando morrer não poderei entrar em seu corpo a fim de renascer. Pedis-me para cortar grama e fazer feno e vendê-lo e ser rico como os homens brancos. Mas como ousarei privar minha mãe de seus cabelos?

Smohalla

(Chefe indígena da etnia

norte-americana Wanapun)

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