13.12.06

Filme Russo encerra sessões do CineClube este ano

O russo Sergei Eisenstein, um dos grandes nomes da história do cinema e teórico refinado, via a montagem como a alma dos filmes. Para ele, o sentido da obra não estava nas cenas, e sim no encadeamento entre elas. Essa idéia ainda vigora. Mas outro russo, Alexander Sukurov, decidiu ser do contra. Fez um filme sem montagem, rodado em um único plano-seqüência, uma longa cena sem corte. O resultado desse feito, nunca antes alcançado, é o monumental Arca Russa. São 96 minutos filmados sem interrupções e com mais de 2 mil figurantes.
A sensação de ação é dada apenas pelo movimento da câmera e dos atores em 35 salas do museu L'Hermitage, em São Petersburgo, ex-palácio dos czares, onde os quadros e três décadas da história da Rússia convivem em melancólica harmonia. Perfeccionista, o diretor exigiu que nenhum ruído fosse feito durante a gravação. Marcou as posições dos atores com o rigor de um coreógrafo de balé. Distorções sonoras e visuais foram corrigidas por computador depois da filmagem e o material captado em vídeo foi transposto para película. Foi uma realização épica.
Para cumpri-la, Sukurov - o maior cineasta de seu país no momento e autor de pelo menos duas obras-primas, 'Mãe e Filho' e 'Moloch' - esperou 15 anos. Antes da tecnologia digital, que permite filmar por mais tempo sem cortar, seria impossível a produção de Arca Russa.
Sukurov teve de pedir para fazerem uma alteração em uma câmera digital de alta definição. O aparelho foi amarrado na cintura do diretor de fotografia. o alemão Tilman Büttner, que se locomovia com o material de 30 quilos sem poder errar. Antes do dia D, em 23 de dezembro de 2001, houve muito ensaio. Oito meses de dedicação exaustiva a cada detalhe. Nos primeiros minutos, ocorreu um erro técnico. Começaram de novo. 'É como saltar de uma torre de 20 metros em um ato de fé', disse Sukurov em entrevista reproduzida no livro sobre sua obra, editado pela Cosac & Naif e organizado por Alvaro Machado. 'Você respira fundo e dá um passo em direção ao vazio, sem saber se vai sobreviver.'
Por que a falta de cortes? 'Para tentar não manipular tanto o olhar do espectador como nos filmes com montagem', disse o cineasta a Revista Época. Sua opção tem, no entanto, outra função. O fluxo contínuo permite a interação entre tempos distintos. São mais de 300 anos de Rússia sintetizados no L'Hermitage, onde celebridades históricas do país, como Pedro, o Grande, convivem com visitantes do presente. Fronteiras cronológicas são rompidas pelo fluxo contínuo.
Muito mais que a experiência, Arca Russa deixa-se guiar pelo olhar atento do espectador em câmera subjetiva e literalmente o leva a passear pela história russa, como se ela de repente desfilasse em frente aos seus olhos. No mínimo arrebetador, vale ao menos, conferir.
Após o filme, como de praxe, debate com convidados
O QUE: Filme "Arca Russa" - 97 minutos - 2002
Direção: Aleksander Sokurov
Roteiro: Boris Khaimsky, Anatoli Nikiforov, Svetlana Proskurina e Aleksander Sokurov
Produção: Andrei Deryabin, Jens Meuer, Jens Meurer e Karsten Stöter
Música: Sergei Yevtushenko
Fotografia: Tilman Büttner
Direção de Arte: Natalya Kochergina e Yelena Zhoukova
Figurino: Maria Grishanova, Lidiya Kryukova e Tamara Seferyan
Edição: Stefan Ciupek, Sergei Ivanov e Betina Kuntzsch
Elenco
Sergei Dontsov (Estranho)
Mariya Kuznetsova (Catarina, a Grande)
Leonid Mozgovoy (Espião)
David Giorgobiani (Orbeli)
Aleksandr Chaban (Boris Piotrovsky)
Maksim Sergeyev (Pedro, o Grande)
Anna Aleksakhina (Alexandra Fyodorovna)
Konstantin Anisimov (Primeiro cavaleiro)
Aleksei Barabash (Segundo cavaleiro)
Vladimir Baranov (Nicolau II)
Valentin Bukin (Oficial militar)
Kirill Dateshidze (Mestre de cerimônias)
Yuli Zhurin (Nicolau I)
Natalya Nikulenko (Catarina)
QUANDO: Sexta-feira, dia 15 às 19:30hrs
ONDE: Sala Lala Schneider (em cima da Biblioteca)
QUANTO: Grátis
INFORMAÇÕES: cineclubesilenzio@hotmail.com
OBS.: Não é pré-requisito, mas se quiser dar uma olhada breve na História Russa antes da sessão, pode acessar: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_R%C3%BAssia
FONTE: Entrevista de Sokurov à Revista Época

Um comentário:

Anônimo disse...

Filme Incrível
Quem podia imaginar que alguém teria coragem de fazer um plano sequencia tão longo.
Aquela cena dos mortos da guerra é muito boa, a métafora das molduras sem as telas é muito, muito boa.